Em duas décadas, a vegetação nativa (florestal e campestre) encolheu no Brasil com as queimadas e desmatamento, enquanto atividades de origem econômica ampliaram suas áreas de atuação, como pastagem com manejo para gado e produção agrícola. É o que aponta o estudo Contas Econômicas Ambientais da Terra, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desde que o presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu a Presidência da República, em 2019, os casos de queimadas e desmatamento na Amazônia ganharam força devido à redução da fiscalização e falta de punição.
Essa prática exige mudança de atuação do governo. Isso porque as empresas brasileiras que quiserem comercializar carne bovina, óleo de palma, soja, madeira, cacau, café e outros produtos nos países da União Europeia precisarão comprovar que os produtos não são provenientes de florestas derrubadas ilegalmente, de desmatamento. A União Europeia já aprovou o texto e, agora, Parlamento Europeu está na fase de negociações sobre a lei final com os estados membros da UE.
De 2000 para 2020, a área de vegetação florestal no país diminuiu em 7,9% com as queimadas e desmatamento. Em valores absolutos, a redução foi de 320,7 mil quilômetros quadrados, aponta o levantamento. A área perdida com desmatamento é comparável ao território do Maranhão (329,7 mil quilômetros quadrados).
A vegetação campestre, por sua vez, perdeu 10,6% da área no mesmo período. A retração foi de 192,5 mil quilômetros quadrados, quase o território do Paraná (199,3 mil quilômetros quadrados).
Com isso, a vegetação nativa (soma da florestal e da campestre) mostrou perda de 513,1 mil quilômetros quadrados nas duas décadas com as queimadas e desmatamento. A quantia equivale a cerca de 6% do território do país, aponta o IBGE.
Diante das queimadas e desmatamento abrem área destinada à pastagem
No sentido contrário, o instituto destaca que a área destinada à pastagem com manejo cresceu 27,9% no mesmo período. O incremento foi de 247 mil quilômetros quadrados, número comparável à área do estado de São Paulo (248,2 mil quilômetros quadrados).
Já a área agrícola cresceu 50,1%, ou 229,9 mil quilômetros quadrados. O número supera o tamanho do estado de Roraima (223,6 mil quilômetros quadrados).
Segundo o estudo, é possível observar uma tendência geral de expansão da área agrícola sobre a vegetação campestre, com conversão de 75,8 mil quilômetros quadrados no período, e da pastagem com manejo sobre a vegetação florestal, com 167,5 mil quilômetros convertidos.
Segundo a gerente de contas ambientais do IBGE, Ivone Batista, é notável a dinâmica econômica avançando sobre áreas naturais. “É a dinâmica econômica que movimenta áreas de pastagem com manejo, agrícolas e silvicultura”, afirmou Ivone para a reportagem da Folha de S Paulo.
De acordo com o instituto, o Pará foi a unidade da federação que registrou a maior expansão da área de pastagem com manejo, desmatamento: 87,9 mil quilômetros quadrados.
Em seguida, vieram Mato Grosso (45,9 mil quilômetros quadrados), Rondônia (35,9 mil quilômetros quadrados), Maranhão (27,4 mil quilômetros quadrados) e Tocantins (18,7 mil quilômetros quadrados).
O Pará também teve a maior redução da vegetação nativa (soma da florestal com a campestre). A perda foi de 123,3 mil quilômetros quadrados.
Mato Grosso (97,8 mil quilômetros quadrados), Rondônia (40,8 mil quilômetros quadrados), Goiás (31,2 mil quilômetros quadrados) e Tocantins (30,3 mil quilômetros quadrados) apareceram na sequência.
A base da publicação do IBGE é o Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil. Essa análise, também divulgada pelo órgão, acompanha, a cada dois anos, a dinâmica do território, seus processos de ocupação e suas transformações, a partir de imagens de satélite.
De acordo com o monitoramento, na passagem de 2018 para 2020, período destacado, 70 mil quilômetros quadrados do país tiveram alguma mudança de cobertura e uso da terra.
Isso corresponde a 0,7% do território nacional ou a uma área equivalente à dos estados de Alagoas e do Rio de Janeiro, somados. O monitoramento sinaliza que, de 2018 para 2020, as principais conversões de terras foram de áreas de pastagem com manejo para áreas agrícolas (14,9 mil quilômetros quadrados).
Outras substituições de destaque foram de mosaicos de ocupações em área florestal para pastagem com manejo (12,3 mil quilômetros quadrados) e de vegetação florestal para mosaicos de ocupações em área florestal (11,8 mil quilômetros quadrados). Os mosaicos de ocupações em área florestal são caracterizados pela ocupação mista de área agrícola, pastagem ou silvicultura.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo