A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, abandonou o cargo nesta quinta-feira (20), após seis semanas da posse. A renúncia foi motivada por uma crise interna após apresentar seu programa econômico.
“Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional. Famílias e empresas estavam preocupadas sobre como pagar suas contas. Fui eleita pelo Partido Conservador com mandato para mudar isso. Cumprimos com as contas de energia e cortamos o seguro nacional. E estabelecemos uma visão para uma economia de baixo crescimento com impostos baixos que tiraria vantagem das liberdades do Brexit”, afirmou Liz Truss ao anunciar a renúncia.
Na noite de quarta-feira (19), a ministra de governo, Suella Braverman, já havia abandonado o cargo, expressando preocupação com a “direção do governo”. Braverman foi a segunda funcionária a abandonar o gabinete em menos de uma semana, o que aumentou as expectativas de que Truss também deixaria o cargo.
A instabilidade no governo da líder conservadora foi desatada pela recessão econômica do Reino Unido e o aumento da inflação após o anúncio do seu programa econômico. Em poucas semanas, além de perder seu ministro de Finanças, Kwasi Kwarteng, a ex-premiê foi obrigada a modificar seu plano de subsídios às contas de energia para adotar um modelo de austeridade fiscal.
Diante da crise instalada, o Parlamento britânico votou uma moção de confiança, que terminou sendo rejeitada com 326 votos contra a vacância e 230 a favor da moção. No entanto, até mesmo ex-aliados de Liz Truss no partido passaram a defender publicamente sua renúncia.
Desde 2016, o partido Conservador nomeou quatro chefes de governo, sendo que três deles abandonaram o mandato antes do tempo previsto devido a uma crise interna. Truss seria a última líder conservadora da ala que promoveu a saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit.
Em pronunciamento na porta de Downing Street, sede do governo do Reino Unido, em Londres, Liz Truss disse que já informou sua renúncia ao rei Charles III e que permanecerá no cargo até ter um novo sucessor.
“Isso garantirá que permaneçamos no caminho para entregar nossos planos fiscais e manter a estabilidade econômica e a segurança nacional de nosso país. Permanecerei como primeira-ministra até que um sucessor seja escolhido. Isso garantirá que continuemos no caminho para entregar nossos planos fiscais e manter a estabilidade econômica e a segurança nacional de nosso país”, disse Truss.
Agora Rishi Sunak, o segundo colocado na disputa contra Truss em setembro, é um dos nomes cotados para assumir como primeiro-ministro do Reino Unido.
O líder trabalhista Sir Keir Starmer convocou uma eleição geral imediata após o discurso de renúncia de Truss.
Quem é Liz Truss?
Natural de Leeds, norte da Inglaterra, Elizabeth Truss tem 46 anos, estudou em colégios estaduais na infância e foi criada por pais considerados “de esquerda” por serem filiados ao Partido Trabalhista. Mais tarde graduou-se em Filosofia, Política e Economia na Universidade de Oxford.
No período universitário, filiou-se ao Partido Liberal-democrata e, na época, defendia o fim da monarquia britânica. “Não acreditamos em pessoas que nasceram para governar”, disse em conferência do partido, em 1994.
Ao deixar Oxford, também abandonou os liberais e filiou-se ao Partido Conservador. Trabalhou como contadora para a Shell e Cable & Wireless antes de iniciar na política institucional.
Em 2001, disputou suas primeiras eleições como candidata a vereadora pela região de West Yorkshire. Não foi eleita e concorreu novamente em 2005.
Somente em 2006, foi eleita vereadora em Greenwich, bairro na região sudeste de Londres, e, a partir de 2008, trabalhou também como vice-diretora do think tank Reform.
Em 2010, apoiada pelo então primeiro-ministro David Cameron, Liz Truss foi eleita deputada pela região de South West Norfolk. Dois anos mais tarde assumiu como ministra da Educação e, em 2014, foi nomeada secretária do Meio Ambiente.
No referendo sobre a saída da União Europeia, Truss disse que o Brexit seria “uma tragédia tripla: mais regras, mais burocracia e mais atraso nas vendas para a União Europeia”.
Depois que o referendo decidiu pelo abandono do bloco, Truss voltou atrás e disse que o Brexit poderia ser uma oportunidade para mudar o modo tradicional de fazer as coisas. Agora em campanha afirmou que “apresentaria as oportunidades do Brexit” ao mundo.
Em 2016, foi secretária de Justiça no governo de Theresa May. Um ano depois foi secretária do Tesouro e, mais tarde, secretária de Comércio Internacional e presidenta da Junta Comercial, responsável por selar novos acordos com os países vizinhos já com o Reino Unido fora do bloco europeu.
Em 2020, durante discurso no Congresso britânico, Truss fez menção a um dos maiores ideólogos do liberalismo econômico, David Ricardo, para falar sobre o futuro do Reino Unido fora da União Europeia. “Nosso grande economista político David Ricardo esboçou a ideia de vantagem comparativa, demonstrando como o comércio livre e aberto beneficia a todos, uma ideia que ainda ilumina nosso país, e temos a oportunidade de levar essa mensagem a todo o mundo”, disse.
Truss foi a terceira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na história britânica.