A quatro dias do segundo turno, está ficando cada vez mais escancarado que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, vem fazendo uso político da Petrobras. A gasolina vendida pela Petrobras nas refinarias está abaixo do PPI (Preço de Paridade de Importação) há seis semanas e o diesel há quatro. Os dados são de relatório do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Isso vem ocorrendo mesmo num cenário de alta do petróleo no mercado internacional.
Na semana passada, quando o preço da gasolina nos postos de combustíveis do país apontavam alta de 1,47%, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), membros da FUP (Federação Única dos Petroleiros) já davam o alerta. “Está claro pra todo mundo que a Petrobras está, sim, segurando os preços. Se o preço do barril tivesse caindo, como caiu meses atrás, ela reajustaria rapidamente. Quando o preço sobe, no entanto, a Petrobras não acompanha na mesma velocidade. Então, sim, a gente pode entender como um processo de estelionato (eleitoral), porque, na verdade, eles não estão cumprindo aquilo que prometeram”, disse o economista Cloviomar Cararine, da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na FUP, à Rede Brasil Atual.
Ontem (25), a gasolina vendida pela Petrobras estava 12,27% ou R$ 0,46 por litro mais barata que os preços internacionais. O diesel segue 14,13% ou R$ 0,80 por litro abaixo do PPI. Na média da semana passada, a defasagem da gasolina ficou em 8,03% e, a do diesel, 13,55%, conforme dados publicados pelo site InfoMoney.
De acordo com o site, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirmou que a atuação da zestá dentro dos limites da sua política de preços, e que os cálculos de defasagem variam de acordo com o volume e escala considerado por cada empresa ou analista.
Contudo, ele reconheceu que a companhia reduziu preços em velocidade maior do que considera para elevar preços, o que ainda não ocorreu na gestão de Caio Paes de Andrade, indicado de Paulo Guedes (ministro da Economia) para assumir a presidência da companhia, após meses de queda de braço do governo com a direção da empresa.
Sob a presidência de Paes de Andrade, foram quatro reduções seguidas na gasolina e três no diesel até o início de setembro, ou seja, às vésperas do primeiro turno das eleições, quando os preços internacionais dos derivados mudaram.
Em setembro, as cotações internacionais do barril do petróleo – um dos parâmetros usados na formação de preços no mercado nacional – e derivados voltaram a subir, devido a cortes na oferta por países produtores reunidos na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Com os reajustes por aqui represados, fica cada vez mais claro o uso da petroleira por Bolsonaro, candidato à reeleição.
Vale lembrar que uma das medidas eleitoreiras de Bolsonaro foi desonerar os preços dos combustíveis para reduzi-los na bomba e, consequência, minorar o impacto inflacionário visando ganhos eleitorais.
Estudo do Dieese já demonstrou que a desoneração dos combustíveis, do transporte coletivo, da energia elétrica e da comunicação, com o objetivo de reduzir os impactos desses serviços na inflação, além de ser ineficaz, traz prejuízos econômicos a estados e municípios e, consequentemente, para toda a sociedade.
Uso político da Petrobras é bomba relógio que pode ser jogada no colo dos mais vulneráveis em 2023
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que apoia a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), publicou um vídeo em sua conta na rede social Twitter, em que alerta que o represamento do reajuste dos combustíveis visando ganhos eleitorais é uma bomba relógio que vai estourar no colo dos mais pobres em 2023, caso Bolsonaro seja reeleito.
“Quando ele obriga a Petrobras a segurar o preço da gasolina até depois da eleição, segurando a inflação, empurrando uma dívida bilionária para o ano que vem, essa conta vai chegar e quem vai pagar é você (…). Você já sabe como o Bolsonaro faz quando o dinheiro acaba. Ele não mexe com os ricos, ele vai tirar dos pobres”, diz Paes, no vídeo em que pede votos a Lula.
Além disso, conforme a reportagem do InfoMoney, a prática de adiar reajustes é ruim para o ambiente de negócios, pois inibe importadores, que teriam prejuízo em suas operações. Também, o represamento de preços pode dificultar o abastecimento do país, caso os volumes estocados pelos agentes de mercado sejam consumidos. O Brasil importa entre 20% e 30% do diesel que consome e cerca de 5% da gasolina.
À reportagem, o diretor do CBIE, Pedro Rodrigues, relevou a percepção de que esteja havendo uso político da Petrobras pelo governo. “Seria leviano dizer que a decisão (de não reajustar preços) é política. Pode até ser, mas não é possível cravar. É diferente do que aconteceu no governo Dilma (Rousseff, do PT), quando os preços foram controlados e não existia critério técnico”, comparou.
O especialista argumenta que a política de preços sob Paes de Andrade tem sido mais coerente do que foi sob outros presidentes da companhia, como Pedro Parente, que inaugurou o PPI e promovia reajustes diários, retirando, segundo ele, qualquer previsibilidade do mercado e desbalanceando contratos de serviços na ponta da cadeia.
Redação ICL Economia
Com informações do InfoMoney e da Rede Brasil Atual