A desaceleração da economia brasileira, antes prevista para o início de 2023, virá logo no fim deste ano, e já há analistas prevendo PIB zero ou até negativo no último trimestre. Além disso, o comércio projeta que as vendas no Natal deste ano fiquem abaixo do registrado em 2021. Os sinais de que a economia vai desacelerar ficam claros com a queda de 1,13% em agosto do IBC-BR, espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central. Nem o setor de serviços, que mostrou grande expansão neste ano, foi suficiente para carregar o índice. O efeito do aperto da política monetária no Brasil é defasado e, neste quarto trimestre, começa a ser sentido.
A alta da taxa básica de juros para combater a inflação — que começou em março de 2021, quando a Selic estava em 2%, chegando a 13,75% ao ano hoje — agora atinge em cheio a indústria e o varejo. São setores que enfrentam dificuldades para vender bens duráveis financiados, dado o elevado custo do crédito. Segundo economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) para reportagem de O Globo, o quarto trimestre deverá ser o ápice da desaceleração da economia.
A Copa do Mundo ainda vai registrar a venda de televisores, mas as perspectivas não são boas. O peso da política monetária sobre itens mais dependentes de crédito, como eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, veículos e materiais de construção, vão ter demanda menor. Outro agravante é a falta de insumos em determinados setores por conta da falta de peças no mercado global.
Importante ressaltar que os incentivos oriundos do auxílio e FGTS neste segundo semestre vão gerar aumento no consumo de serviços, que é imediato, e pouco para a indústria. Isto porque o dinheiro injetado na economia por meio de medidas com viés eleitoreiro, como a liberação de R$ 30 bilhões do FGTS no primeiro semestre, a antecipação do 13º salário e o reforço de programas sociais como o Auxílio Brasil, já terão praticamente se esgotado.
Quando a Petrobras reajustar os combustíveis, haverá ainda menos renda disponível para o consumo neste momento de desaceleração da economia
Na avaliação de um economista consultado pela reportagem de O Globo, também a alta do petróleo no contexto internacional, somada à volatilidade do câmbio, fez com que os combustíveis “parassem de ajudar” a inflação, com defasagens de 16% do diesel e 11% da gasolina. Quando a Petrobras reajustar os combustíveis, haverá ainda menos renda disponível para o consumo.
De acordo com o IBGE, em agosto o varejo registrou a terceira queda seguida nas vendas, de 0,1%, e bateu o menor patamar do ano, apontando sinais de desaceleração da economia. No trimestre, houve recuo de 0,8%. A produção industrial caiu 0,6% em agosto, também segundo o IBGE.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informa que, no mês passado, o índice de evolução na produção ficou em 49,0 pontos — abaixo do patamar de 50 pontos, que separa aumento de queda da produção industrial. É o pior resultado desde setembro desde 2019.
Segundo a CNI, o setor produtivo brasileiro está menos animado. Este mês, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) recuou em 23 de 29 setores pesquisados pela entidade, em relação a setembro. Entre os mais atingidos estão calçados, produtos de borracha, materiais elétricos e móveis.
O índice, medido em uma escala de zero a 100 pontos, reflete as expectativas do empresariado para os próximos seis meses e uma avaliação sobre o que se passou no semestre anterior.
A indústria tem sido cautelosa nos últimos meses e “segue andando de lado”, consta nos Estudos Econômicos Firjan, Apesar da recuperação pós-pandemia, o cenário de altas taxas de juros e inflação desaceleram este ritmo.
O desemprego é outro aspecto levado em conta, e este deve aumentar no início do ano que vem, estima Lucas de Assis, economista especializado em mercado de trabalho da Tendências Consultoria. A situação só não vai piorar no fim de 2022 porque é um período de contratações temporárias, por causa das festas de fim de ano.
Redação ICL Economia
Com informações do jornal O Globo