O desmatamento na Amazônia acelerou antes da saída definitiva de Jair Bolsonaro da presidência da República. Os criminosos estão aproveitando enquanto ainda dá tempo. Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e compilados pelo Observatório do Clima mostram que outubro registrou recorde de alertas de desmatamento na Amazônia, atingindo uma área de 904 km², a maior para o mês desde 2015, quando foi iniciada a série histórica do sistema Deter.
Enquanto a floresta amazônica está sendo derrubada, os 3 governadores reeleitos do Amazonas, Acre e Rondônia foram à COP 27 (Conferência das Partes sobre o Clima) atrás de recursos internacionais atrelados à redução de desmatamento e de emissões de carbono. Os três bolsonaristas apresentam plataformas de flexibilização da fiscalização e do licenciamento ambiental e de incentivo à produção na região, em alinhamento à política do governo Jair Bolsonaro.
De agosto a outubro, período marcado pela eleição presidencial, os alertas acumulados atingiram 4.020 km², 44,65% a mais em relação aos mesmos meses de 2021. A Amazônia abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
A maior área de alerta de desmatamentos neste período foi detectada no Pará, com 435 km², seguida por Mato Grosso (150 km²), Amazonas (142 km²), Rondônia (69 km²) e Acre (64 km²).
De janeiro a outubro deste ano, o Deter aponta a destruição de 9.494 km² de floresta, segundo análise da ONG WW-F Brasil. Apenas no Pará foram perdidos 3.253 km2 de mata nativa. Os alertas de desmatamento ocorreram principalmente nos municípios paraenses de Pacajá e Portel. Também houve pressão de criminosos em áreas de proteção ambiental e as mais afetadas foram Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, e a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.
O Observatório do Clima, afirma que, no fim de mandato, há uma corrida de criminosos ambientais para derrubar a floresta, aproveitando o fato de que ainda têm um parceiro sentado na cadeira da presidência da República. “Enquanto Lula está a caminho do Egito para se reunir com líderes do mundo inteiro na tentativa de resgatar a imagem do Brasil, Bolsonaro continua no país, implementando sua agenda de destruição ambiental”, diz a nota do Observatório do Clima.
As queimadas e o desmatamento na Amazônia dispararam ainda mais após o segundo turno das eleições
Levantamento da WWF Brasil mostra que as queimadas dispararam ainda mais na Amazônia depois do segundo turno das eleições, entre os dias 1 e 10 deste mês. A pior situação foi verificada em Rondônia, com o registro de 1.526 focos de incêndio nos primeiros dez dias de novembro. Este número é dez vezes mais alto do que a média registrada neste período do ano entre os anos de 2012 e 2021, de 149 focos. Para se ter uma ideia, durante todo o mês de novembro de 2021 foram registrados 125 focos de queimada no estado.
No Acre, os focos de incêndio chegaram a 882 — 22 vezes acima da média para o início de novembro. Em novembro de 2021 foram apenas 14 registros de queimadas.
No Mato Grosso, foram observados pelos satélites 858 focos, mais de três vezes acima da média. No Amazonas, foram 758 focos, quase quatro vezes acima da média.
De acordo com a WWF-Brasil, os dados de queimadas neste início de novembro mostram claramente uma corrida desenfreada pela devastação. As queimadas impactam não apenas a floresta, a fauna e as águas, mas também a saúde das pessoas.
Na avaliação da WWF-Brasil, o aumento gigantesco das queimadas coincide com a ordem do governo federal para que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) diminuísse os gastos com fiscalização em 80%, sob argumento de restrição orçamentária.
No início deste mês, os servidores do ICMBio receberam ordens de cancelar por 15 dias todas as operações de fiscalização que dependem de recursos orçamentários, como gastos com combustíveis, passagens e suprimentos. A orientação foi repassada pela direção do órgão por email. O comunicado sinaliza com a interrupção da fiscalização até dezembro, quando se encerra a gestão do presidente Jair Bolsonaro, atribuindo a manutenção das ações planejadas à existência de recursos.
O especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, Raul do Valle, disse para a reportagem do jornal O Globo, que as queimadas estão explodindo porque há uma sensação entre os que lucram com a ilegalidade que a janela de oportunidade está se fechando. Ele avalia que o novo governo terá muito trabalho para reestruturar os órgãos e a fiscalização ambiental, com uma estratégia consistente de combate ao crime organizado na Amazônia e a recuperação do orçamento para proteção da região.
As áreas desmatadas costumam ser, em seguida, queimadas, para a formação de pastos ou plantio. De janeiro a outubro passado, os focos de queimadas somam 101.215, 49,5% maior do que no ano anterior.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias