Diante de uma série de manifestações contra o confinamento da população chinesa, que já dura dois meses em diversas cidades, por conta dos casos de Covid-19, o governo chinês passou a flexibilizar suas medidas de contingência. Mas os impactos da política de Covid zero vão além das fronteiras chinesas e se espalham por todo o mundo, inclusive o Brasil. As vendas de automóveis, que haviam sido um ponto positivo para a economia da China, devido aos subsídios do governo, começaram a enfrentar dificuldades em novembro com a política de Covid zero.
Desde os primeiros sinais de que o governo chinês liberaria a circulação, que foi restringida pela política Covid zero, os mercados financeiros globais reagiram positivamente, conforme aumentam as expectativas de que a economia da China vai voltar a crescer de forma mais robusta.
Economistas explicam que as restrições de circulação na China, por conta da política Covid zero, afetam diversos pontos fundamentais da economia. Com o bloqueio de cidades – inclusive algumas muito importantes, como Pequim, a capital do país, e Xangai, o coração financeiro da região –, a produção de diversos produtos foi comprometida.
A Apple, por exemplo, anunciou no começo de novembro o atraso na produção de milhares de aparelhos celulares das linhas iPhone 14 e iPhone 14 Pro. Uma das principais fábricas da gigante da tecnologia fica em Zhengzhou que, após uma nova alta no número de casos de Covid, voltou a ficar em confinamento.
Com problemas na oferta dos mais variados produtos, que são distribuídos ao redor de todo o mundo, os preços começam a subir. É um dos principais ingredientes para a inflação que, junto a todas as outras consequências da pandemia em outros países e os efeitos da guerra na Ucrânia, contribui para que economias (sobretudo as desenvolvidas) continuem a elevar suas taxas de juros, para tentar frear a alta de preços.
Medidas de restrição da política Covid zero diminuíram a demanda interna na China e aumentaram o desemprego
Também as medidas de restrição da política Covid zero fizeram cair a demanda interna chinesa. Com as empresas fechadas, cai a necessidade da aquisição de diversos produtos, principalmente, as commodities. Além disso, fábricas sem funcionar fazem aumentar o número de desempregados entre as faixas etárias mais jovens, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, o que também reduz a demanda – e, por consequência, reduz o crescimento da economia.
A expectativa do governo chinês para 2022 é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 5,5%. Enquanto isso, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para um avanço bem menos expressivo, de 3,2%.
A queda na demanda interna chinesa também é um problema internacional porque se trata da segunda maior economia do mundo e um dos principais compradores de commodities. Se não há demanda, os países exportadores de commodities – caso do Brasil – perdem uma fonte de receita.
As restrições de circulação e o fechamento de atividades, devido à política Covid zero na China, impactam não só a logística e a demanda, mas também os investimentos estrangeiros, porque a instabilidade deixa os empresários mais cautelosos, dizem alguns analistas.
Com as primeiras notícias da flexibilização da política Covid zero na China, as cotações de commodities como minério de ferro, petróleo e cobre já começaram a subir. Essa alta, embora contribua para um avanço nas ações de empresas exportadoras (como a Vale e a Petrobras), também pode gerar aumento nos preços de alguns produtos básicos do cotidiano, como os combustíveis. A China demanda muito dessas commodities e, com a menor disponibilidade delas no mercado, os preços acabam subindo. E se o petróleo fica mais caro, sobe o preço dos combustíveis.
Em contrapartida, com a volta das atividades em empresas e fábricas chinesas, os problemas nas cadeias produtivas que impactam a oferta também tendem a se normalizar, explicam os especialistas, o que pode reduzir a pressão inflacionária global.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias