Dados da 11ª edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles mostra que a renda dos mais pobres ainda está cerca de 22% abaixo do pico registrado pela série histórica da publicação, iniciada em 2012. A renda mais recente dos 40% mais pobres está em R$ 251 ante os R$ 323 de uma década atrás. Por outro lado, o rendimento médio desse grupo social voltou aos níveis pré-pandemia nas regiões metropolitanas do Brasil. Mas, importante frisar, os demais ainda continuam ganhando abaixo do que ganhavam antes da crise sanitária, em uma demonstração de que, sob o governo de Jair Bolsonaro, a vida dessa faixa da população não melhorou.
A publicação reúne dados de 22 regiões metropolitanas do país, e envolve o laboratório de estudos PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a RedODSAL (Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina). O estudo analisa o comportamento da renda do trabalho em termos reais (corrigida pela inflação). Não são levados em conta para o estudo recursos obtidos com outras fontes, como os benefícios sociais.
O levantamento mostra que o rendimento médio domiciliar per capita (por pessoa) dos 40% mais pobres nas metrópoles subiu apenas R$ 11, de R$ 240 para R$ 251, no terceiro trimestre de 2022 ante os três meses imediatamente anteriores. No primeiro trimestre de 2020, o valor era de R$ 250.
O estudo considera o primeiro trimestre de 2020 como o pré-pandemia porque os impactos da crise sanitária sobre a renda do trabalho só apareceram com maior clareza a partir do segundo trimestre daquele ano.
“Não é exatamente algo a ser comemorado, já que se trata de uma renda ainda muito baixa, mas é um marco em relação ao processo como um todo da pandemia”, afirmou André Salata, pesquisador do PUCRS Data Social e um dos coordenadores do levantamento, ao jornal Folha de S.Paulo.
Renda dos mais pobres: rendimento desse grupo populacional chegou a despencar R$ 164 no terceiro trimestre da pandemia
Conforme a publicação, os 40% mais pobres passaram a viver com menor e, também, perderam mais rendimento em termos proporcionais no começo da crise sanitária. A renda média per capita desse grupo caiu R$ 164 no terceiro trimestre de 2020, o menor nível da série.
Na avaliação dos pesquisadores, a retomada recente da renda, ainda que baixa, reflete a combinação da trégua da inflação, que perdeu força após cortes de tributos adotados pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições presidenciais, e a recuperação da atividade econômica e do mercado de trabalho em meio ao avanço da vacinação contra a Covid-19, embora as vagas criadas sejam precarizadas em termos de direitos dos trabalhadores.
A pandemia prejudicou a situação da renda dos mais vulneráveis que já vinha se deteriorando a partir de 2013, quando o Brasil começou a mergulhar numa crise econômica que se estendeu até 2016. A recessão foi substituída nos anos seguintes por um período de baixo crescimento econômico.
Para Marcelo Ribeiro, pesquisador do Observatório das Metrópoles e professor do IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), esse contexto ajuda a explicar a renda ainda distante do pico da série para os mais pobres. “Não houve uma mudança estrutural que pudesse alavancar um crescimento mais robusto”, disse Ribeiro à Folha.
Ele destaca que a continuidade da recuperação dos mais pobres vai depender em parte das medidas adotadas pelo novo governo eleito. “Considerando que o próximo governo tem uma perspetiva de atuação mais ativa na economia, pode ter uma repercussão sobre o mercado de trabalho.”
Metade da classe média recupera renda, enquanto apenas 6,6% dos considerados ricos mantêm-se abaixo dos níveis pré-pandemia
Ainda de acordo com o boletim, no terceiro trimestre de 2022, a classe média também teve uma melhora na renda do trabalho nas metrópoles. Entre julho e setembro, o rendimento dos 50% considerados intermediários foi estimado em R$ 1.470 ante R$ 1.409 nos três meses imediatamente anteriores. O resultado mais recente ficou um pouco acima do primeiro trimestre de 2020 (R$ 1.463). Isso significa que esse grupo sentiu menos a chegada da pandemia.
Ainda assim, os 50% intermediários só conseguiram alcançar o patamar pré-crise entre julho e setembro deste ano e o rendimento deles ainda está 2,3% abaixo do pico da série histórica. A máxima, de R$ 1.505, foi verificada no quarto trimestre de 2014.
Por sua vez, o grupo descrito pelo boletim como o dos 10% mais ricos nas metrópoles teve a renda do trabalho estimada em R$ 7.475 no terceiro trimestre de 2022. A renda dessa faixa populacional também mostrou melhora nos últimos meses, mas está 6,6% abaixo do período pré-pandemia, quando a renda era de R$ 7.999 (primeiro trimestre de 2020).
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo