Depois da bancarrota do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank no último fim de semana nos Estados Unidos, os mercados mundiais tomaram um susto nesta quarta-feira (15), incluindo o brasileiro, depois que as ações do Credit Suisse despencaram derrubando as principais bolsas mundiais. No fim desta tarde, depois de chegar a operar na mínima do dia aos 100.692 pontos, o Ibovespa, principal índice da Bolsa Brasileira, recuperou um pouco o fôlego até os 102.468, com variação negativa de 0,45%.
As ações do banco suíço operaram com forte queda ao longo do dia, chegando aos 24%, com os investidores receosos com a saúde financeira do banco e com um potencial risco de contágio para o setor financeiro de forma mais ampla.
Como não podia deixar de ser em um mundo globalizado, os problemas com os bancos estrangeiros acabaram gerando uma crise de confiança no Brasil também. As ações dos grandes bancos também oscilaram no campo negativo ao longo do dia, pois a maioria dos investidores, temendo que as falências das instituições estrangeiras mais os problemas do Credit Suisse, gerem um efeito dominó nos mercados. Nessas horas, eles preferem, então, vender os papeis de maior risco. Assim, a grande oferta de papéis acaba baixando seus preços, contribuindo para o recuo do Ibovespa.
Uma conjunção de fatores levaram o Credit Suisse à atual situação. Uma crise de confiança dos investidores em relação à instituição teve início ontem (14), após relatório divulgado pelo banco indicar distorções em suas demonstrações financeiras, um problema parecido com o que ocorreu com a brasileira Lojas Americanas.
Aliás, banco e Americanas têm um personagem em comum no meio do imbróglio: a empresa de auditoria PwC ou PricewaterhouseCoopers, que fez a auditoria em ambos. Porém, na Americanas não foram encontradas as falhas contábeis que apontaram para um rombo a princípio de R$ 20 bilhões, mas que chega próximo dos R$ 50 bilhões após investigações mais minuciosas.
No caso do Credit Suisse, um auditor da PwC incluiu no relatório anual da instituição uma “opinião adversa sobre a eficácia do controle interno do grupo sobre relatórios financeiros”, conforme relatado em reportagem da Folha de S.Paulo.
Em solo brasileiro, o Credit Suisse atua principalmente nas áreas de gestão de fortunas (wealth management e private banking) e de recursos (asset management), e de bancos de investimento, como operações de crédito, emissão de ações e títulos, abertura de capital (IPO), fusões e aquisições de empresas (M&A), corretagem e tesouraria.
Notícias sobre o Credit Suisse expõem que algo pode estar muito errado com o setor bancário global
Depois do SVB e Signature terem acendido o sinal amarelo sobre a saúde de instituições financeiras, principalmente as da maior economia do mundo, as notícias sobre o Credit Suisse podem estar começando a explicitar que há algo de muito errado ocorrendo nas sombras com os mercados financeiros globais.
A crise atual tem trazido à lembrança outra crise mais grave, a de 2008, que começou justamente em um banco, o Lehman Brothers. Outra aspecto é que os problemas com as instituições financeiras chegam no momento em que as principais economias do mundo aumentam suas taxas de juros para tentar frear as inflações resilientes.
Mas é importante ressaltar que as duas crises são bem diferentes. A de 2008, a pior crise financeira global desde o crack da Bolsa de Nova York em 1930, foi principalmente causada pela bolha do mercado imobiliário, causada porque os bancos emprestavam dinheiro a juros baixíssimos para que as pessoas pudessem comprar suas casas. A de agora é uma crise de confiança nas próprias instituições, o que, embora diferente, não deixa de ser grave.
Vale ressaltar também que, experientes com a crise sistêmica de 2008, as autoridades norte-americanas agiram rapidamente para debelar os impactos da falência dos dois bancos. Isso ajudou a acalmar os mercados.
No caso do SVB, o banco voltado para o setor de startups foi duramente atingido pelo aumento dos juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), que causou prejuízos bilionários para a carteira alocada em títulos de longo prazo do governo americano.
Em relação ao Credit Suisse, as ações do banco chegaram a cair quase 30% na Bolsa de Nova York nesta manhã, após um de seus principais investidores declarar que não poderia fornecer apoio financeiro ao banco suíço por travas regulatórias.
“Não podemos [socorrer o banco financeiramente], porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória”, disse Ammar Al Khudairy, presidente do conselho de administração do Saudi National Bank, banco saudita que adquiriu no ano passado uma fatia de quase 10% do Credit Suisse, segundo a reportagem da Folha.
O resultado disso é que, no fim de 2022, o Credit Suisse encerrou o ano com um prejuízo anual de cerca de 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,9 bilhões, ou R$ 41,3 bilhões).
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo