Exigir declarações de conflito de interesse de qualquer um que ganhe a vida com desinformação talvez seja um caminho para combater as chamadas fake news, uma vez que negacionismo e desinformação, que matam pessoas, também são lucrativos. Essa é a conclusão do artigo de Natalia Pasternak – “Mercado da desinformação – publicado em O Globo (2/5/22), que aborda o tema de “fake news” na área da medicina, focando nas vacinas contra a Covid-19.
O texto discorre sobre o trabalho do grupo SAGE (Grupo Consultivo de Especialistas em Vacinas da OMS) que encontrou três fatores que operam na hesitação vacinal, os chamados três “C”: Confiança, Complacência, e Conveniência. Lembrando que a Organização Mundial de Saúde destaca que, desde 2019, a hesitação vacinal foi uma das dez maiores ameaças à saúde pública global.
No fator Confiança se inclui o sentimento do público quanto às vacinas e suas reações à informações oficiais e desinformação. Complacência se relaciona à percepção do risco trazido pelas doenças que as vacinas evitam; e a conveniência descreve os problemas de acesso, logística e campanhas.
Pasternak explica que “o estímulo à quebra da Confiança e ao aumento da Complacência pode ser, e é, muito lucrativo”.
Estudos apontam que notícias falsas sobre vacinas impactam a motivação para vacinar e mostram quem lucra com a desinformação, e como mercados que divulgam desinformação tornaram-se milionários durante a pandemia.
Pesquisa da ONG CCDH (Centro de Combate ao Ódio Digital) nos EUA aponta que os maiores beneficiários são, em sua maioria, influencers de mídias sociais, que promovem produtos associados a estilos de vida “livres de químicos e medicamentos”. Vendem-se aí livros, suplementos nutricionais e produtos “naturais” para “fortalecer o sistema imune”.
A autora cita o exemplo do casal Charlene e Ty Bollinger, que fez fortuna no Instagram vendendo desinformação sobre vacinas e saúde em geral. Em seu website, eles publicaram a mentira de que “as vacinas têm 67% mais probabilidade de matar do que o vírus”. O negócio é tão lucrativo que um “pacote” de seus livros e DVDs como “A verdade sobre vacinas” ou “A verdade sobre o câncer”, custa entre US$ 199 e US$ 499.
Outro dado citado por Pasternak foi publicado pelo jornal inglês The Guardian, em janeiro de 2022, sobre o faturamento dos “doze que desinformam” (grupo identificado pelo CCDH como responsável por mais de 70% da desinformação sobre vacinas veiculada nas redes Facebook e Twitter), principalmente com newsletters e cliques. A reportagem aponta que estes influencers lucram por ano quantias em torno de US$ 2,5 milhões. Cobram em média US$ 50 por newsletter e conseguem também remuneração por cliques em vídeos.
Redação ICL Economia
Com informações do artigo “Mercado da desinformação”, de Natalia Pasternak