Esta segunda-feira, 8 de janeiro, marca o aniversário de um ano dos atos golpistas, quando manifestantes radicais de direita, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), depredaram as sedes dos três poderes em Brasília. Para hoje, estão marcados atos com a participação de governadores e de representantes dos três poderes na capital do país, para lembrar desse episódio vergonhoso no período democrático brasileiro.
Nesse intervalo de tempo, pode-se celebrar a resistência e fortalecimento das instituições democráticas do país, mas o tempo mostra que o bolsonarismo e a extrema direita ainda são uma ameaça constante.
A prova disso é a pesquisa Genial/Quaest, que mostra que, um ano depois, 89% dos entrevistados condenam os atos golpistas de 8 de janeiro — uma queda de cinco pontos percentuais em relação a fevereiro do ano passado, quando eram 94%.
Os entrevistados que aprovam os atos somam 6%, contra 4% em fevereiro de 2023. O levantamento foi realizado entre os dias 14 e 18 de dezembro, com 2.012 entrevistas presenciais — com brasileiros de 16 anos ou mais — em todos os estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Olhando esses números, pode-se ver o copo meio cheio. Porém, a mesma pesquisa mostra que 9 milhões de brasileiros apoiam a tentativa de golpe.
Sobre a pesquisa, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, lembra que os números mostrados não refletem exatamente a realidade. “Há dificuldade do pesquisador de tirar uma resposta real quando a pergunta direta é constrangedora”, disse na edição de hoje do ICL Notícias 1ª edição, live diária transmitida via redes sociais.
“Ao longo de um ano, diminuiu o número de gente que desaprova [os atos golpistas] e o recado disso aqui é que o tempo faz as pessoas se importarem menos. O número de pessoas que acha que Bolsonaro teve alguma influência diminuiu e o número de pessoas que acha que ele não teve influência aumentou. Ou seja, a vontade de punir Bolsonaro, a culpabilidade do Bolsonaro na cabeça das pessoas vai diminuir com o tempo. O tempo faz tudo passar”, complementou.
Moreira ainda lembrou da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou os atos golpistas “fez um trabalho hercúleo”, resultando em 12 indiciados, entre eles o ex-presidente e seu ajudante de ordens Mauro Cid.
Contudo, é preciso ir além, segundo Moreira. “Quem efetivamente pagou pelo que foi feito no dia 8 de janeiro? Ninguém.. ‘Ah, mas o Bolsonaro tornou-se inelegível…’. Quando tornam Bolsonaro inelegível e as pessoas ficam com a sensação de que a Justiça foi feita, [é preciso lembrar que] a Justiça não foi feita”, lembrou Moreira.
Até o momento, não há provas de que Bolsonaro tenha, efetivamente, coordenado e orquestrado os atos golpistas. Mas, se isso ficar comprovado, segundo Moreira, é preciso que ele seja punido. “[Tornar Bolsonaro inelegível] é a menor das punições se ele, comprovadamente, for apontado como o cara que coordenou e orquestrou isso. Mas há pessoas que acham que, se ele não concorrer à próxima eleição, tá resolvido, porque no Brasil peixe graúdo não é punido”, disse.
Atos golpistas: STF divulga balanço das ações
Após um ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) já condenou definitivamente 30 golpistas. E 66 seguem presos por força de sentença ou em natureza preventiva. Cerca de 200 pessoas ainda serão julgadas. Entre eles, os financiadores dos atos golpistas, que podem pegar, de acordo com pedidos preliminares do MPF (Ministério Público Federal), até 30 anos de prisão.
O STF divulgou balanço das ações:
- Total de prisões nos dias 8/1 e 9/1: 2.170
- Total de pessoas que permanecem presas preventivamente: 66
- Denúncias recebidas pelo STF: 1.354
- Ações penais abertas: 1.354
- Condenações: 30
- Acordos de não persecução penal validados pelo STF: 38
Em entrevista à agência AFP na sexta-feira passada (5), o ministro do STF Gilmar Mendes afirmou que “a responsabilidade política de Bolsonaro é inequívoca”.
Embora a responsabilização completa, particularmente a penal, ainda não tenha atingido o ex-presidente, Mendes lembrou também que Bolsonaro “incentivava algum tipo de anarquia, especialmente no que diz respeito às forças policiais”.
Ele completou ainda que “até mesmo os militares não retiraram esses invasores, manifestantes (dos prédios) por conta de algum estímulo que havia por parte da própria Presidência”.
Governo Lula desmonta aparato bolsonarista
Embora não haja no momento ameaça de novas investidas golpistas, a situação é outra. Após um ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desmontou o aparelhamento bolsonarista das instituições e fortaleceu instrumentos democráticos.
Apesar da manifestação marcada para hoje, em Brasília, para rememorar a ameaça bolsonarista, o clima é de cautela segue. Mais de 2 mil policiais estarão de plantão na capital contra qualquer eventual ação de radicais.
O ministro interino da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, reafirma que até o momento não há nenhuma informação de preocupação maior sobre este 8 de janeiro. “Claro, isso é monitorado dia a dia e todas as providências estão sendo tomadas para que tenhamos um dia 8 de celebração democrática histórica no Brasil”, disse.
Do lado dos democratas, haverá a concentração na capital com o tema “Democracia Inabalada”. Em paralelo, estão marcados atos em São Paulo, Rio de Janeiro e diversas outras localidades. Ainda em Brasília, haverá solenidade com representantes das instituições no Congresso Nacional.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, do ICL Notícias e da Rede Brasil Atual