Os atos de vandalismo praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo (8) dão uma nova dimensão da tensão política e do risco Brasil, podendo até afugentar o capital estrangeiro. Fato é que os investidores devem exigir um prêmio maior pelo risco-país. As opiniões de analistas seguem divididas, mas há quem considere que vai haver uma saída dos investidores do Brasil.
Para os representantes do mercado financeiro, ainda é preciso “cautela e observação” em relação aos desdobramentos dos atos de depredação e violência na Praça dos Três Poderes, mas é inegável que a imagem que fica para o investidor é negativa por ele não estar acostumado a esse tipo de evento, de natureza política, no Brasil. O governo brasileiro promete apurar e localizar todos os financiadores das invasões extremistas registradas no domingo. Até o momento, uma apuração apontou que 100 empresas são suspeitas de terem financiado os acompamentos em frente a quartéis e a ida dos vândalos a Brasília.
Na segunda-feira (9), a imagem de depredação da Praça dos Três Poderes, com a esplanada tomada por milhares de vândalos, foi capa dos principais jornais no mundo. A imagem negativa do país no exterior foi pontuada por alguns dos principais representantes do PIB brasileiro na segunda-feira. Entre eles, o empresário Abílio Diniz, acionista do Carrefour e controlador da Península Investimentos, escreveu em seu perfil no Twitter que “são absolutamente lamentáveis os atos violentos” ocorridos no último domingo e “que seus perpetradores sejam punidos com todo o rigor da lei. A democracia é fundamental para o desenvolvimento do nosso país e deve ser defendida por todos”.
Roberto Ramos, presidente da Ocyan, empresa que atua no setor de óleo e gás, disse que “tão preocupante quanto qualquer dispersão do evento de ontem (domingo) Brasil adentro, risco este que parece ter se enfraquecido, é a possibilidade de impacto negativo à reputação internacional do Brasil que este capítulo pode causar, especificamente no que diz respeito à atração de investimentos estrangeiros para o país”.
Especialistas no assunto afirmam que o evento no Brasil foi um “copia e cola” da invasão ao Capitólio americano, registrada em 6 de janeiro de 2021. “É negativo para os ativos brasileiros, porque significa que e existe algo de muito errado na política, que não encontrou alternativas pacíficas e deixou que o cenário chegasse a este nível”, disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ao jornal Folha de S.Paulo.
Daqui por diante, poderemos ouvir que esse tipo de evento interfere no risco Brasil
Um dos atrativos do Brasil, segundo outro analista consultado pelo jornal, é uma relativa estabilidade em relação a outros mercados emergentes. “Mas, agora, vão nos dizer o quanto esse tipo de evento compromete a imagem do país e aumenta o risco Brasil. Todos os setores devem ser afetados na bolsa. É um risco sistemático, que afeta em especial os ativos mais ligados ao ciclo doméstico, como setor imobiliário, varejo, locadoras e bancos”, disse Borsoi.
Importante ressaltar que o momento é delicado para o mercado de ações no mundo todo, embora o Ibovespa, ontem, tenha fechado em alta de 0,15% e, nesta terça-feira, o movimento também esteja positivo. A leitura de analistas é de que o mercado entendeu que as autoridades estão se mobilizando para manter a ordem democrática brasileira. Mas, ainda assim, deve-se lembrar que o Brasil é uma economia emergente, dependente do capital estrangeiro. Por isso, a instabilidade política pode pesar.
Por outro lado, os atos terroristas não interferem na dinâmica operacional das companhias. O preço de uma ação é calculado pelo fluxo de caixa esperado sobre a taxa de juros. “Na prática, é a bolsa que vai precificar o aumento do nível de risco, mas não dá para saber a durabilidade do evento, nem como o governo vai agir para controlar as manifestações e, portanto, como será o comportamento do risco-país e oscilação do dólar”, disse ao mesmo jornal Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Agora, se o movimento ganha força podendo bloquear estradas, “isso trava a economia e gera impactos negativos em diversas empresas, que dependem principalmente das rodovias. Isso, sim, tem repercussão negativa para os investimentos”, afirmou Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo