Até que ponto atos de vandalismo podem aumentar o risco Brasil? Para analistas, instabilidade política tem potencial para afugentar capital estrangeiro

Representantes do mercado financeiro avaliam que ainda é preciso "cautela e observação" em relação aos desdobramentos do que ocorreu no domingo em Brasília
10 de janeiro de 2023

Os atos de vandalismo praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo (8) dão uma nova dimensão da tensão política e do risco Brasil, podendo até afugentar o capital estrangeiro. Fato é que os investidores devem exigir um prêmio maior pelo risco-país. As opiniões de analistas seguem divididas, mas há quem considere que vai haver uma saída dos investidores do Brasil. 

Para os representantes do mercado financeiro, ainda é preciso “cautela e observação” em relação aos desdobramentos dos atos de depredação e violência na Praça dos Três Poderes, mas é inegável que a imagem que fica para o investidor é negativa por ele não estar acostumado a esse tipo de evento, de natureza política, no Brasil. O governo brasileiro promete apurar e localizar todos os financiadores das invasões extremistas registradas no domingo. Até o momento, uma apuração apontou que 100 empresas são suspeitas de terem financiado os acompamentos em frente a quartéis e a ida dos vândalos a Brasília.

Na segunda-feira (9), a imagem de depredação da Praça dos Três Poderes, com a esplanada tomada por milhares de vândalos, foi capa dos principais jornais no mundo. A imagem negativa do país no exterior foi pontuada por alguns dos principais representantes do PIB brasileiro na segunda-feira. Entre eles, o empresário Abílio Diniz, acionista do Carrefour e controlador da Península Investimentos, escreveu em seu perfil no Twitter que “são absolutamente lamentáveis os atos violentos” ocorridos no último domingo e “que seus perpetradores sejam punidos com todo o rigor da lei. A democracia é fundamental para o desenvolvimento do nosso país e deve ser defendida por todos”.

Roberto Ramos, presidente da Ocyan, empresa que atua no setor de óleo e gás, disse que “tão preocupante quanto qualquer dispersão do evento de ontem (domingo) Brasil adentro, risco este que parece ter se enfraquecido, é a possibilidade de impacto negativo à reputação internacional do Brasil que este capítulo pode causar, especificamente no que diz respeito à atração de investimentos estrangeiros para o país”.

Especialistas no assunto afirmam que o evento no Brasil foi um “copia e cola” da invasão ao Capitólio americano, registrada em 6 de janeiro de 2021. “É negativo para os ativos brasileiros, porque significa que e existe algo de muito errado na política, que não encontrou alternativas pacíficas e deixou que o cenário chegasse a este nível”, disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ao jornal Folha de S.Paulo.

Daqui por diante, poderemos ouvir que esse tipo de evento interfere no risco Brasil

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Crédito: Agência Brasil

Um dos atrativos do Brasil, segundo outro analista consultado pelo jornal, é uma relativa estabilidade em relação a outros mercados emergentes. “Mas, agora, vão nos dizer o quanto esse tipo de evento compromete a imagem do país e aumenta o risco Brasil.  Todos os setores devem ser afetados na bolsa. É um risco sistemático, que afeta em especial os ativos mais ligados ao ciclo doméstico, como setor imobiliário, varejo, locadoras e bancos”, disse Borsoi.

Importante ressaltar que o momento é delicado para o mercado de ações no mundo todo, embora o Ibovespa, ontem, tenha fechado em alta de 0,15% e, nesta terça-feira, o movimento também esteja positivo. A leitura de analistas é de que o mercado entendeu que as autoridades estão se mobilizando para manter a ordem democrática brasileira. Mas, ainda assim, deve-se lembrar que o Brasil é uma economia emergente, dependente do capital estrangeiro. Por isso, a instabilidade política pode pesar.

Por outro lado, os atos terroristas não interferem na dinâmica operacional das companhias. O preço de uma ação é calculado pelo fluxo de caixa esperado sobre a taxa de juros. “Na prática, é a bolsa que vai precificar o aumento do nível de risco, mas não dá para saber a durabilidade do evento, nem como o governo vai agir para controlar as manifestações e, portanto, como será o comportamento do risco-país e oscilação do dólar”, disse ao mesmo jornal Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Agora, se o movimento ganha força podendo bloquear estradas, “isso trava a economia e gera impactos negativos em diversas empresas, que dependem principalmente das rodovias. Isso, sim, tem repercussão negativa para os investimentos”, afirmou Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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