Não adianta trocar presidente da Petrobras. Com atual política de preços, combustível vai subir

Mesmo com as mudanças na Petrobras e no Ministério de Minas e Energia, a política de preços da Petrobras não deve mudar
24 de maio de 2022

Já são 3 demitidos da Petrobras no governo Jair Bolsonaro. Apesar da troca na presidência da estatal, na intenção velada de controle do preço por conta da reeleição, o litro do combustível na bomba deve continuar subindo por ter de acompanhar a política de preços adotada pela companhia, o PPI (Preço de Paridade de Importação).

Na noite desta segunda-feira (23), o Ministério de Minas e Energia anunciou a demissão de José Mauro Ferreira Coelho, após 40 dias no cargo de presidente da Petrobras. Para seu lugar, o governo decidiu indicar Caio Mário Paes de Andrade, auxiliar do ministro Paulo Guedes no Ministério da Economia.

O governo tem dado indicações frequentes nos bastidores de que quer evitar os reajustes da petroleira em um momento delicado da corrida eleitoral – em que Bolsonaro sofre desgaste pela inflação enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a liderança das pesquisas

Para estancar as seguidas altas dos preços dos combustíveis praticados pela Petrobras e turbinar a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro, há medidas em análise. Uma delas envolve a adoção de faixas mínimas de preço que impediria os reajustes quando o preço internacional estiver situado dentro da faixa estabelecida. A outra medida seria a adoção de um intervalo mínimo de 100 dias para os reajustes.

Litro do combustível está defasado, segundo a política de preços praticada pela estatal

A Petrobras está há 73 dias sem reajustar o preço do combustível nas refinarias. Trata-se do maior intervalo sem reajustes em 2 anos e meio. O último aumento da gasolina foi em 11 de março, quando o preço médio subiu 18,8% ou R$ 0,61 por litro, após 57 dias sem aumento

O intervalo médio dos reajustes desde 2019 é de 16 dias. Um levantamento realizado pelo Observatório Social da Petrobras (OSP) mostra, porém, que, desde o final do ano passado, a Petrobras aumentou o espaço de tempo entre os aumentos ou reduções. No caso do diesel, o maior intervalo registrado pela série foi de 85 dias, encerrados em setembro de 2021.

Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que os preços praticados pelas refinarias da Petrobras estão com uma defasagem média de 8% na comparação com os valores de referência nos mercados internacionais desta segunda-feira (23).

Desde 2016, a Petrobras adota o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação), após anos praticando preços controlados, sobretudo no governo Dilma Rousseff. Pela política de preços atual, os preços cobrados nas refinarias se orientam pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e do câmbio.

Segundo a Abicom, para equiparar os preços com o mercado internacional, a Petrobras teria que elevar o preço médio do litro da gasolina em R$ 0,36. Já o preço do diesel, que foi reajustado pela Petrobras em 8,9% no dia 10 de março, está com uma defasagem média bem menor, de 1% ou de R$ 0,05 por litro.

A Abicom alerta que o Brasil depende da importação de combustíveis para atender o mercado doméstico e que a defasagem inviabiliza as operações de importação – aumentando a concentração no mercado de distribuição e riscos pontuais de desabastecimento.

Na visão dos analistas consultados pelo G1, mesmo com as mudanças da diretoria da Petrobras e do Ministério de Minas e Energia, a política de preços da Petrobras não deve mudar. A avaliação, porém, é que, mesmo com eventuais reajustes nas refinarias, os preços tendem a ser mantidos com alguma defasagem em relação à paridade internacional.

Para o Observatório Social da Petrobras o preço da gasolina está perto de patamares recordes, o que dificulta a situação e faz o governo pressionar a Petrobras a segurar os preços. O Observatório tem se posicionado contra o Preço de Paridade de Importação (PPI).

Bolsonaro não muda a política de preços da Petrobras porque não quer, diz FUP

O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, considerou a troca no comando da Petrobras “um movimento eleitoreiro e desesperado do presidente da República, Jair Bolsonaro, para tentar se descolar da escalada de reajustes dos combustíveis”.

Segundo ele, a substituição ocorreu a toque de caixa e o indicado Caio Paes de Andrade não deve ter seu nome aprovado pelas regras das estatais. “O atual secretário do ministério de Paulo Guedes (Andrade) foi escolhido mesmo sob suspeita de não cumprir requisitos impostos pela Lei de Responsabilidade das Estatais para assumir o comando da Petrobras”, disse Bacelar em nota.

Mais cedo, o especialista em governança Renato Chaves também informou que por não ter ligação com o setor de petróleo o nome de Andrade deve ser rejeitado pelo Comitê de Elegibilidade da empresa, mas mesmo assim, pode assumir o cargo máximo na companhia, como ocorreu com outros indicados pela União.

Para ele, a indicação de Andrade é “mais um ataque de Bolsonaro à maior empresa do País”.

De acordo com Bacelar, o interesse do presidente Jair Bolsonaro é se descolar da política de preços da Petrobras, que acompanha os preços de importação (PPI) desde 2016.

Na avaliação do sindicalista, o próprio Bolsonaro poderia mudar essa política, que é de responsabilidade do Executivo, e não do Legislativo.

Pelas contas da FUP, entre janeiro de 2019 e 10 de maio de 2022 – quando entrou em vigor mais um reajuste do diesel, de 8,8% – a gasolina, nas refinarias, subiu 155,8%, o diesel 165,6% e o GLP 119,1%.

“O fato é que Bolsonaro não muda ou abandona a política de preço de paridade de importação, o PPI, porque não quer. O PPI não é lei; é decisão do Executivo”, explica Bacelar.

Segundo o sindicalista, o foco da gestão da Petrobras no atual governo é a geração de caixa, resultante da venda dos combustíveis a valores de PPI, altos lucros e dividendos para acionistas, numa política de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos, “um verdadeiro Robin Hood às avessas”, compara, ressaltando que com a alta dos combustíveis impactando a inflação, a população de baixa renda fica em uma situação ainda pior. “Na ponta mais frágil dessa equação está o trabalhador brasileiro que há três anos não tem reajuste real do salário-mínimo, sendo vítima do processo de empobrecimento acelerado”, afirma.


Redação ICL Economia
Com informações do Estadão Conteúdo, do G1 e do Brasil 247

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