Como reflexo da aguda vulnerabilidade social e econômica em que estão grande parte dos brasileiros, a fila de espera do Auxílio Brasil chegou, em julho, à marca de 1,56 milhão de famílias aguardando para entrar no programa. A fila cresceu 105% em dois meses, um contingente de 803.930 famílias. A maioria dos brasileiros que estão na fila, cerca de 91%, é de famílias extremamente pobres, ou seja, com renda mensal inferior a R$ 105 por pessoa.
Reportagem publicada no jornal O Globo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), a cidade do Rio de Janeiro é a que mais tem gente na fila esperando para obter o benefício, que subirá de R$ 400 para R$ 600 a partir de agosto, conforme a PEC (Proposto de Emenda à Constituição) Eleitoral, promulgada este mês.
Entre as capitais, de acordo com a reportagem, 83.620 famílias estão na fila do benefício no Rio, seguido por São Paulo (46.954), Fortaleza (38.402), Belém (24.780), Manaus (21.452) e São Luis (14.108).
No recorte por estados, o Rio de Janeiro também é a localidade onde há mais pessoas à espera do Auxílio Brasil: 251.304 no total. Na sequência estão São Paulo (201.444), Bahia (172.353), Pernambuco (136.665) e Pará (105.140).
A meta do governo é atender a 20,2 milhões de famílias a partir de agosto. Em julho, o Auxílio Brasil foi pago a 18.134.548 famílias. No entanto, as inscrições no CadÚnico (Cadastro Único), porta de entrada do programa, ainda não se encerraram.
O governo prorrogou de julho para outubro deste ano, ou seja, próximo das eleições, o prazo para atualização do CadÚnico para evitar o bloqueio no Programa Auxílio Brasil, o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e da Tarifa Social de Energia Elétrica.
Mesmo com todas as estratégias para acelerar o início do pagamento do benefício e tentar, assim, zerar a fila, técnicos do governo já admitem não ter garantias de que todos os que aguardam serão contemplados.
Auxílio Brasil: fila gigante é reflexo do crescente número de pobres
O aumento da pobreza somado à alta da inflação, que retirou o poder de compra de grande parte das famílias brasileiras, impactadas pela pandemia e pela crise econômica, são as razões por detrás da enorme fila de espera.
Para Aninho Mucundramo Irachande, professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o efeito do pacote de benefícios sociais de Bolsonaro deverá ser marginal. “Os auxílios terão pouco tempo de vigência. Além disso, a inflação está alta e afeta o bolso da população”, criticou.
A intenção do Ministério da Cidadania é tentar manter a fila zerada até o fim do ano, mesmo que, para isso, precise de mais dinheiro para o programa. No entanto, esse plano depende de espaço no Orçamento e do comportamento da procura pelo Auxílio Brasil no segundo semestre.
Medida extremamente eleitoreira, o governo esconde o fato de que o Auxílio Brasil, que começa a ser pago em agosto, valerá apenas até dezembro. Ou seja, o benefício veio a apenas três meses das eleições, com a finalidade de dar fôlego ao nome de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de votos, nas quais tem aparecido atrás do primeiro colocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Polêmica e votada a toque de caixa no Congresso, a PEC fura o teto de gastos em pouco mais de R$ 41 bilhões.
O Auxílio Brasil é voltado às pessoas dentro da faixa de pobreza (renda entre R$ 105,01 e R$ 210 por pessoa da família) ou extrema pobreza (renda de até R$ 105 por pessoa da família).
Em janeiro e fevereiro, a fila do benefício ficou zerada, mas, depois disso, a ampliação do orçamento do programa em relação ao seu antecessor, o Bolsa Família, passou a não ser mais suficiente, diante do aumento do número de inscritos.
Em 2020 e 2021, o histórico da fila ficou comprometido por causa do Auxílio Emergencial durante a pandemia de Covid-19. Foi por essa época que o governo parou de analisar cadastros para o Bolsa Família.
Sobre o futuro do benefício, tanto Lula quanto Bolsonaro têm dito que pretendem manter o valor de R$ 600 se vencerem as eleições de outubro. No entanto, não deixaram claro, até o momento, como farão isso sem incorrer em risco fiscal.
Da Redação do ICL Economia
Com informações de agências de notícias