O primeiro turno das eleições presidenciais mal acabou e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, lançou novamente sua artilharia na tentativa de angariar mais votos e vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve cerca de 6 milhões de votos a mais que ele na primeira fase da corrida presidencial. Em mais uma medida eleitoreira, Bolsonaro já anunciou a antecipação do pagamento do Auxílio Brasil para as vésperas do segundo turno, no dia 30 de outubro. Também anunciou que, se reeleito, pagará, a partir de 2023, um décimo terceiro do auxílio às famílias beneficiárias do programa, que sejam chefiadas por mulheres.
Em julho passado, esse contingente representava 16,7 milhões pessoas, o que geraria um custo aproximado de R$ 10 bilhões. Embora tenha feito o anúncio, a equipe econômica do presidente não mostrou como pagaria a fatura da promessa a partir do ano que vem, em um claro vale-tudo eleitoral.
O aceno ao eleitorado feminino tem sua razão de ser, pois é justamente nele que Bolsonaro encontra mais resistência. Alias, o presidente, além da desvantagem de votos em relação a Lula no primeiro turno, tem rejeição maior do eleitorado de modo geral em relação ao petista, baixo potencial de atrair eleitores de outros candidatos e verba restrita para a campanha.
Sobre a fatura do pagamento de um possível décimo terceiro do auxílio, é preciso lembrar que o Orçamento de 2023, que prevê pagamento de R$ 405 do Auxílio Brasil, tem pouco espaço para manobras financeiras. Na peça orçamentária, o governo sinaliza que pode aumentar o valor para R$ 600, mas não diz claramente como isso vai ser feito.
Os R$ 405 de auxílio prometidos por Bolsonaro estão, a princípio, dentro da janela permitida para não furar as regras fiscais, como o teto de gastos, que limita o avanço das despesas à variação da inflação. A ampliação do benefício em R$ 195 custaria um adicional de R$ 52,5 bilhões extras no Orçamento de 2023, mas, por ora, não há espaço na peça para acomodar esse valor sem infringir as regras fiscais.
A exemplo do que fez antes do primeiro turno, Bolsonaro vai antecipar o pagamento do auxílio neste semestre, embora, como se viu, isso não tenha surtido o efeito desejado, de fazê-lo vencer as eleições no primeiro turno. O calendário de pagamentos do benefício em outubro foi antecipado do dia 31, pós-segundo turno, para o dia 25, antes da realização da votação.
Apesar da estratégia eleitoreira de Bolsonaro em torno do Auxílio Brasil, os números das pesquisas indicavam que esse eleitorado tinha tendência maior a votar em Lula e não nele. Portanto, atrair essa fatia virou o foco de atenção da campanha do presidente para tentar virar o jogo no primeiro turno.
Além do Auxílio Brasil, pacote eleitoreiro do segundo turno incluiu a regulamentação do consignado para beneficiários do programa
O governo Bolsonaro também regulamentou a concessão de empréstimo consignado aos beneficiários do programa, outra medida eleitoreira extremamente criticada por especialistas, devido aos juros estratosféricos e, também, por ampliar a possibilidade de endividamento das famílias já em situação de vulnerabilidade social.
No pacotaço eleitoreiro envolvendo os auxílios, os policiais também estão entre os alvos. Há tratativas internas para viabilizar a nomeação de concursados da Polícia Federal.
Na avaliação da campanha de Bolsonaro, há um entendimento de que atrair os votos do eleitorado de baixa renda é vital para ampliar suas chances de vitória no segundo turno. Na votação de domingo, esse grupo deu apoio majoritário a Lula. Ao todo, o petista teve 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% do atual presidente.
Em entrevista concedida logo após a apuração dos votos do primeiro turno, Bolsonaro deu a senha de que o governo pretende buscar na economia os elementos para tentar convencer o eleitor.
“A mensagem [para o segundo turno] é que o Brasil, levando-se em conta a grande maioria dos países do mundo, é o que melhor está se saindo na questão da economia”, disse.
O vale-tudo eleitoreiro de Bolsonaro inclui exagerar nos números da economia, como a deflação e o crescimento nas projeções do PIB (Produto Interno Bruto) e o aumento de investimentos vindos do exterior. Contudo, o que o governo não conta é o quanto esses números mascaram a realidade de que a derrubada da inflação só foi possível devido às medidas artificiais e de curto prazo, como a desoneração dos preços dos combustíveis. Esses dados têm sido usados em contraponto a notícias negativas, como o aumento da fome no Brasil.
Lula deve continuar usando os números escondidos pela equipe de Bolsonaro para tentar se contrapor à narrativa de Bolsonaro, de que a economia está bombando. O petista também vai recorrer à economia para tentar convencer o eleitor de que ele já viveu melhor e, por isso, deve apostar na mudança de governo.
“Vocês sabem que o país está pior. Que a economia não está boa, que a qualidade de vida não está boa, que o emprego não está bom, que a renda não está boa, que a saúde não está boa. E que nós precisamos recuperar esse país”, disse Lula logo após o resultado do primeiro turno.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo