Bolsonaro usou e abusou do cartão corporativo para comprar picanha, camarão, leite condensado e até Rivotril

Método de pagamento também foi usado para bancar as motociatas com apoiadores do ex-presidente, além de viagens a lazer
23 de janeiro de 2023

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou o cartão corporativo, enquanto ocupava a Presidência, para comprar picanha, leite condensado, camarão e para promover as famigeradas motociatas. A agência de dados independente Fiquem Sabendo obteve acesso aos gastos do cartão corporativo por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) e começou a divulgar, nesta segunda-feira (23), detalhes das faturas do que foi consumido pelo ex-mandatário.

Eleito sob a bandeira da honestidade e de ser um homem de hábitos simples, o ex-presidente Jair Bolsonaro torrou, ao longo dos quatro anos à frente da Presidência da República, R$ 27,6 milhões em gastos pessoais no cartão corporativo, em uma clara mistura do público com o privado. Muitas das despesas incluem itens supérfluos, como compra de sorvetes, cosméticos, combustível gasto em motociatas. Mas metade do valor foi destinado a hospedagens em hotéis, alguns deles de luxo. A informações foram obtidas pela Fiquem Sabendo no último dia 11 de janeiro.

Lembrando que Bolsonaro foi o único presidente a dizer que não fazia uso do cartão corporativo, o que agora se mostra mais uma das tantas inverdades ditas por ele.

Os documentos divulgados hoje pela Fiquem Sabendo mostram também que, além daqueles alimentos, Bolsonaro também usou o cartão corporativo, pago com dinheiro do contribuinte, para comprar medicamentos para depressão e ansiedade, como o Rivotril, e para problemas de pele e gastrite. As informações foram antecipadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo as notas fiscais mostram, o cartão corporativo foi usado em ao menos 67 oportunidades para compra de filet mignon. Conforme revela a reportagem, há ainda 23 compras de pacotes de camarão, 21 de bacalhau e 34 de Nutella.

Importante salientar que o cartão corporativo pode ser usado para comprar comida e medicamentos. Contudo, no que se refere aos gastos de Bolsonaro, o que chama a atenção é a quantidade e frequência do uso. Além disso, os gastos não convergem com o discurso feito por Bolsonaro ao longo dos quatro anos de mandato. Em suas lives semanais, ele, que recebia R$ 30,9 mil para ocupar o cargo, afirmava que não usava esse método de pagamento para esse tipo de despesa, o que se mostra agora mais uma das inverdades ditas pelo ex-mandatário.

A Fiquem Sabendo entrou com recurso para poder acessar as notas fiscais. Até o momento, a equipe da agência conseguiu digitalizar cerca de 2,6 mil páginas dos documentos físicos, o que corresponde a 20% do total. “Neste primeiro momento, tivemos acesso às notas mais recentes, do último mandato, mas já estamos em busca das anteriores”, diz a entidade. “A abertura das notas em transparência ativa, ou seja, no site oficial do governo, é uma solicitação que nossa equipe vem fazendo à Presidência ao menos desde 2019, quando liberamos, pela primeira vez, os gastos do cartão de Temer, Dilma e Lula”, acrescenta.

Para promover motociatas e passeios, Bolsonaro usou cartão corporativo. Despesas custavam até R$ 100 mil aos cofres públicos

O cartão corporativo, cujas despesas, sempre vale reforçar, eram pagas com dinheiro do contribuinte, também foi usado para bancar as motociatas com apoiadores do ex-presidente, além de viagens a lazer. Pelo que foi divulgado pela Fiquem Sabendo até agora, essas despesas custaram R$ 100 mil aos cofres públicos.

As notas divulgadas mostram que nas viagens de Bolsonaro havia gastos para a hospedagem de cerca de 30 servidores públicos que partiam de Brasília, bem como alimentação de cerca de 300 pessoas responsáveis por dar o suporte ao destino escolhido pelo ex-presidente nas motociatas.

De acordo com a reportagem, uma motociata realizada no Rio de Janeiro, em maio de 2021, custou R$ 116 mil com suporte local de policiais militares, tropa de choque, socorristas e homens do Exército. Em alguns casos, mais de 200 agentes das Forças Armadas chegaram a ser deslocados. O nome de cada um deles consta na prestação de contas.

Nessas ocasiões, o cartão corporativo era usado para bancar lanches aos participantes (R$ 30 cada). Os “funcionários” — pilotos, motoristas, seguranças e integrantes do cerimonial — recebiam um kit contendo um ou dois sanduíches de presunto e queijo, bebida (suco ou refrigerante) e uma fruta. Como, às vezes, eles ficavam mais de nove horas de prontidão, faziam três refeições: café da manhã, almoço e jantar.

Ou seja, Jair Bolsonaro usou a máquina pública e recursos públicos para bancar as motociatas, principalmente durante a campanha eleitoral.

Entre as notas, há muitos gastos em padarias e lanchonetes. Em São Paulo, as padarias Tony e Thays eram as preferidas. Lá, foram realizadas 102 compras num total de R$ 126 mil. Já no Rio, a preferência era pela padaria Santa Marta, na qual foram feitas 24 compras por R$ 364 mil.

As diárias dos funcionários geralmente tinham valores baixos, entre R$ 100 e R$ 250. Mas a quantidade de pessoas mobilizadas e o tempo de estadia faziam com que a conta ficasse cara.

Até mesmo nas viagens de avião era contratado serviço de comissaria (serviço de alimentação a bordo do avião oficial, por exemplo). Custavam cerca de R$ 4 mil em cada viagem.

Redação ICL Economia
Com informações do jornal O Estado de S.Paulo

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