O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), colocou como prioridade do Congresso a aprovação de projetos que decidiu chamar de “agenda verde“, incluindo iniciativas que tratam de projetos relacionados ao hidrogênio verde. Mas isso não significa, na prática, que o líder do Centrão e seus correligionários viraram ativistas em prol do meio ambiente.
O que tem ocorrido é que esses parlamentares têm sido procurados por grupos econômicos, principalmente estrangeiros, com interesses em iniciativas desse tipo. Em troca do apoio à aprovação dessas iniciativas, essas empresas oferecem investimentos bilionários nos estados dos congressistas.
Vários parlamentares do Centrão têm se mobilizado para controlar projetos do gênero em tramitação. E o interesse, obviamente, é muito mais financeiro do que ecológico.
À reportagem da BBC News sobre o assunto, a cientista política Mônica Sodré, da USP (Universidade de São Paulo), abordou o assunto: “A questão do clima deixou de ser um tema estritamente ambiental e hoje está no centro da agenda econômica”, disse. “É natural que isso atraia novos atores, assim como interesses de mercado e pessoas interessadas em fazer negócio”, complementou.
De acordo com a reportagem, o grupo político liderado por Arthur Lira tem se articulado para liderar iniciativas sobre o mercado de carbono, a exploração de hidrogênio combustível e a criação de um fundo para a transição energética de empresas.
Em seu terceiro mandato na Câmara, o deputado e ambientalista Aliel Machado (PV-PR) disse que o perfil de congressistas que têm se envolvido com esses temas mudou. “Quando mexe no bolso, os grupos econômicos mobilizam os atores políticos que têm influência aqui dentro do Congresso”, disse.
‘Agenda verde’: empresas estrangeiras têm prometido investimentos bilionários em estados de parlamentares
Relatos nesse sentido foram ouvidos de oito parlamentares, de seis partidos com espectros políticos diferentes, incluindo quatro do centrão, um do PL e um da base governista.
Esses parlamentares disseram à reportagem que empresas estrangeiras têm procurado políticos com a promessa de investimentos bilionários em seus estados de origem com a instalação de estruturas em alto-mar para produzir, por exemplo, hidrogênio verde (conhecidas como eólicas offshore).
“É aquela história: às vezes o deputado nem acompanha muito o assunto, mas vem uma empresa, diz que vai investir R$ 20 bilhões no estado dele se aprovar um projeto de uma determinada forma. O cara fica louco, já se imagina concorrendo a governador”, relata um deputado próximo ao grupo político de Lira, que pediu para não ser identificado.
Nenhum dos entrevistados citou os nomes das empresas ligadas a projetos de hidrogênio verde (H2V).
Esse mercado ainda não está regulamentado no país, mas muitas empresas, incluindo grupos nacionais, estão apostando no desenvolvimento da indústria de hidrogênio verde, justamente em um momento em que a crise climática se mistura com a crise energética na Europa.
O Brasil tem condições de se tornar um dos principais produtores e exportadores de hidrogênio verde, por apresentar condições climáticas favoráveis à geração de energia solar e eólica.
Em janeiro do ano passado, por exemplo, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou financiamentos no valor de R$ 3,5 bilhões para o aumento da capacidade instalada em energias renováveis.
Atualmente, o Brasil é o terceiro país que mais produz energia renovável no mundo, atrás apenas de EUA e China. A alta oferta também coloca o país entre os mais competitivos em termos de preço.
E é no momento de discussão das propostas que estão no Congresso que os lobbies atuam para influenciar o desenho dos textos legais.
A reportagem entrou em contato com três associações ligadas ao setor e com cinco das companhias que mais apresentaram pedidos para abertura de empreendimentos na costa brasileira para perguntar sobre a relação com o governo e o Congresso.
As que responderam à reportagem disseram, em linhas gerais, que as empresas têm acompanhado as discussões, apresentado suas demandas e feito contato com governo e parlamentares, muitas vezes via associações.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo. Fonte: BBC News