O Banco Central chinês anunciou ontem (24) o maior pacote de estímulos à economia da China desde o fim da Covid-19. O objetivo das medidas é fomentar o consumo e apoiar o mercado imobiliário, um dos principais impulsionadores do crescimento da economia chinesa nas últimas décadas, mas fortemente afetado pela pandemia.
O anúncio levou otimismo aos mercados mundiais ontem (24), pois o gigante asiático é a segunda maior economia do mundo e parceiro comercial de vários países, incluindo o Brasil. O Ibovespa também voltou a subir ontem após cinco dias seguidos de baixa, após a divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e o anúncio do pacote de estímulo, que ajudaram a impulsionar as siderúrgicas por aqui.
Com o fim das restrições sanitárias devido à pandemia de Covid-19, a China não conseguir retomar sua economia com o mesmo vigor de antes. Ao menos três aspectos têm afetado o crescimento do país: a crise imobiliária, o desemprego dos jovens e aa retração do consumo das famílias.
No segundo trimestre de 2024, a economia do país cresceu 4,7% em relação ao mesmo período de 2023. O crescimento foi abaixo do ritmo anual de 5,3% observado no primeiro trimestre do ano, quando a produção industrial, rendimentos e investimento registraram sinais de melhoria. Porém, o avanço da economia do país foi de 0,7% em relação aos três meses anteriores, abaixo das expectativas de muitos economistas.
As autoridades chinesas esperam que o pacote anunciado ajude o governo a atingir a meta de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de cerca de 5% em 2024, um objetivo considerado muito otimista por analistas.
Entre as medidas anunciadas, estão:
- Redução do Índice de Reservas Obrigatórias (RRR) dos bancos, bem como suas taxas diretoras. O RRR é um índice que determina a porcentagem de depósitos que os bancos são obrigados a manter nos seus cofres. A sua redução deverá permitir emprestar mais às empresas para apoiar a economia real. “A taxa de reserva obrigatória será muito em breve reduzida em 0,5 ponto percentual, a fim de fornecer aos mercados financeiros uma liquidez de longo prazo de cerca de 1 bilhão de yuans” (R$ 778 milhões)”, disse Pan Gongsheng, governador do Banco Central, numa coletiva de imprensa em Pequim.
- Redução das taxas de juros dos empréstimos hipotecários existentes no setor imobiliário, medida que deverá beneficiar 50 milhões de famílias e 150 milhões de pessoas. A queda das taxas imobiliárias deverá “ajudar a estimular o consumo e o investimento”, segundo Pan Gongsheng.
- Para atrair mais capital, o Banco Central anunciou um fundo com 500 bilhões de yuans (R$ 390 bilhões), com o objetivo de estabilizar os mercados sob pressão. As empresas cotadas e as seguradoras poderão aproveitar para comprar ações nos mercados para reforçar os investimentos e, portanto, revigorar a economia.
- Redução da contribuição mínima e alargada à aquisição da segunda residência.
Para especialistas, medidas não devem levar a China a uma recuperação pujante
Especialistas acreditam que as medidas não devem levar o país a uma recuperação consistente como o país vinha marcando anos antes da pandemia. Na avaliação de alguns, o gigante asiático precisava de uma política fiscal “mais robusta” como mola propulsora da demanda.
O crescimento chinês dos últimos anos esteve fortemente ancorado no setor de habitação e construção, que representa há muito tempo mais de um quarto do PIB chinês. Porém, o cenário já não é mais o mesmo desde o início da pandemia.
Um dos problemas apontados são as condições de acesso ao crédito para promotores imobiliários, o que levou gigantes do setor, como Evergrande e Country Garden, à beira da falência. Por outro lado, a queda dos preços faz com que os chineses não mirem mais os imóveis como investimentos valiosos.
Nos últimos meses, as autoridades chinesas aumentaram as medidas de estímulo. Em maio, reduziram a contribuição necessária para a compra da primeira casa e propuseram que as autoridades locais recomprassem imóveis não vendidos ou não entregues.
A crise imobiliária priva as autoridades locais de uma importante fonte de rendimentos imobiliários e sua dívida atingiu agora US$ 5,6 bilhões (R$ 30,5 bilhões), segundo o governo central, que se preocupa com a estabilidade da economia chinesa.
China é o parceiro comercial mais rentável ao Brasil
A China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil na Ásia no ano 2000. Em 2009, assumiu a condição de maior parceiro, com uma corrente comercial de US$ 36,1 bilhões, ultrapassando os Estados Unidos.
Em junho passado, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, encontrou-se com o presidente da China, Xi Jinping, encerrando missão oficial de quatro dias ao país, que resultou em R$ 24,6 bilhões em concessões de crédito para o Brasil.
Nas últimas décadas, as relações comerciais entre Brasil e China se estreitaram e apresentaram um crescimento significativo. Em 1993, as exportações brasileiras para China correspondiam a pouco mais de 2,9% do total, já as importações de produtos chineses para o Brasil representavam cerca de 1,8% de tudo que o Brasil comprou do exterior. Trinta anos depois, em 2023, as exportações para China correspondiam a 30,7% do total exportado naquele ano, e as importações 23%.
Em 2023, a soma total das exportações para a China chegou a US$ 87,57 bilhões, sendo a parceria mais rentável do Brasil. Os produtos mais exportados são commodities como soja, minério de ferro e petróleo, além de muita carne bovina.
Para efeito de comparação, as exportações para os Estados Unidos somaram US$ 30,04 bilhões.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias