O Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) reduziu a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de um ano de 3,55% para 3,45%, enquanto manteve a taxa para empréstimos de cinco anos em 4,20%. A decisão, anunciada nesta segunda-feira (21), surpreendeu analistas e influenciou os mercados asiáticos nesta manhã. As bolsas de Pequim e Xangai abriram em queda.
Essa é a taxa de referência para os custos do mercado imobiliário, que está paralisado, devido à crise que afeta algumas incorporadoras. O banco central chinês tem concentrado os esforços de resposta à desaceleração no país, que se intensificou nos indicadores econômicos de julho.
Esse foi o segundo corte feito pelo banco central chinês na taxa de um ano em dois meses. Em junho passado, a autoridade monetária da segunda maior economia do mundo havia cortado a LPR de 3,65% para 3,55%, nível que foi mantido em julho.
Na avaliação da Capital Economics, empresa independente de pesquisa econômica sediada em Londres, a abordagem do BC chinês terá efeito “limitado” no quadro atual do setor imobiliário e “não é suficiente para colocar um piso no crescimento” do país.
Ainda segundo a consultoria, os cortes de juros nos últimos dias ocorrem em meio a crescentes preocupações entre formuladores de políticas sobre a saúde da economia da China.
Corte de taxa de juros está entre as medidas adotadas pelo governo chinês para tentar reanimar a economia desde o fim da política de Covid Zero
Enquanto o mundo se abria com a pandemia de Covid-19 sob controle, a China fechou sua economia por quase três anos para tentar controlar o avanço da doença. Mesmo com o fim da política de Covid Zero e a reabertura gradual de suas fronteiras, em janeiro passado, a retomada da economia do gigante asiático tem acontecido aos solavancos.
Desde então, os indicadores econômicos da China têm decepcionado. Por exemplo: em julho, houve desaceleração da produção industrial (2,5%) e do investimento (3,4%) e aumento da taxa de desemprego (5,3%).
Um dos setores que mais tem preocupado é o imobiliário. Recentemente, o fundo de investimento Zhongrong Trust, conhecido por financiar projetos de construção de incorporadoras chinesas, deixou de fazer pagamentos a investidores corporativos. Isso gerou protestos e aumentou as preocupações de que uma queda no mercado imobiliário da China possa desencadear uma crise financeira mais ampla e um “momento Lehman”, em uma referência ao Lehman Brothers, no qual começou o estouro da bolha imobiliária de 2008.
A crise envolvendo grandes empresas imobiliárias no país tem sido enxergada como um sinal de desaceleração da economia chinesa.
Recentemente, a gigante Evergrande Group protocolou pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos (Capítulo 15 do código de falência americano). Na sexta-feira passada, a bolsa de Hong Kong anunciou a remoção da incorporadora imobiliária Country Garden do índice Hang Seng, pouco após ela sair da Bolsa de Xangai.
Lembrando que, uma semana atrás, o BC chinês já havia cortado outras taxas de juros, no que foi percebido então como o início do aprofundamento nas medidas para reanimar a economia. E, na sexta passada, a instituição reuniu agentes econômicos para cobrar maior oferta de crédito.
A reunião foi também para determinar que reguladores e bancos comerciais adotarão uma estratégia “coordenada” para controlar as ameaças vinculadas às dívidas dos governos locais, “fortalecer o monitoramento” e “evitar firmemente riscos sistêmicos”.
Por outro lado, a falta de ação específica para o setor imobiliário, com a manutenção da taxa de cinco anos, indica que a prioridade na resposta à desaceleração está no estímulo ao consumo, com mais empréstimos, e na redução do risco derivado do endividamento local..
Apesar disso tudo, o banco Goldman Sachs divulgou nota no sábado passado (19), na qual avalia que “o risco de preocupações sistêmicas permanece baixo na China”, mas a volatilidade no mercado financeiro poderá “exigir um esforço mais coordenado” do governo chinês.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo, Estadão Conteúdo e InfoMoney