Cláudia Plens: ‘Milagre econômico veio a um custo significativo para a sociedade brasileira’

A professora da Unifesp foi convidada do programa ICL Mercado e Investimentos, apresentado pelos economistas Deborah Magagna e André Campedelli, da última quinta-feira, por ocasião do aniversário do golpe militar no domingo (31).
1 de abril de 2024

Os saudosistas da ditadura militar, um dos períodos mais sombrios da história brasileira, costumam evocar o milagre econômico daquela época para argumentar que vivíamos tempos melhores. Para a historiadora Cláudia Plens, professora da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), essa narrativa construída e reproduzida ao longo dos anos, não condiz com a realidade.

“Há vários fatores que podem explicar [a defesa do milagre econômico]: primeiro, a gente tem que reconhecer que houve durante o período militar no Brasil taxas de crescimento econômico elevadas. Durante esse período, construtoras brasileiras cresceram exponencialmente realizando importantes projetos de infraestrutura pública, os quais eram muito visíveis e, também, representavam para a sociedade hegemônica como um avanço. No entanto, esse crescimento veio a um custo significativo, que incluiu o aumento do endividamento externo, situação de desigualdades sociais, além de problemas como hiperinflação, fome e desemprego”, disse a professora, entrevistada na edição da última quinta-feira (28) do ICL Mercado e Investimentos, programa diário veiculado no canal do ICL no YouTube.

A professora foi convidada do programa apresentado pelos economistas Deborah Magagna e André Campedelli por ocasião da memória de 60 anos do golpe militar, completados no domingo (31), que jogou o país em um período bastante nebuloso por 21 anos.

Na avaliação de Cláudia, os supostos “progresso” e “modernização”, marcas do famigerado milagre econômico, refletem uma abordagem “bastante conservadora, na qual as elites econômicas e sociais se unem para estabelecer um sistema que visa a preservar os privilégios que já eram historicamente construídos e consolidados, neutralizando qualquer iniciativa que pudesse ameaçar essas vantagens estabelecidas ao longo da história”.

“A gente pode pensar também que a reprodução dessa narrativa, de que esses tempos foram melhores, pela idealização de um passado glorificado, alimentado por memórias que focam só nos aspectos positivos percebidos na infraestrutura das cidades de algum crescimento econômico no dia a dia, mas ignorando as muitas adversidades e justiças sociais que marcaram o período. Além disso, durante a transição para a democracia, não houve um processo de passar a limpo tudo o que aconteceu. A sociedade não confrontou plenamente as violações de direitos humanos”, pontuou.

Assista à entrevista completa no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Mercado e Investimentos

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