Os beneficiários do Auxílio Brasil que solicitaram o empréstimo consignado na Caixa foram informados pelo banco público de que só receberão o crédito solicitado depois do segundo turno das eleições, no dia 30 de outubro. A princípio, o valor deveria ser depositado em dois dias úteis, mas a instituição os informou esta semana que o dinheiro estará disponível na conta somente em até 15 dias. Agora, além de não terem o crédito disponível, essas pessoas, a maioria de baixa renda, tem de lidar com a burocracia e as informações desencontradas dadas pelo banco.
De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a Caixa alegou que o atraso no Auxílio Brasil ocorreu devido ao “excesso de solicitações”, o qual ocasionou “lentidão nos processamentos”. Mas o banco afirmou que a liberação do crédito se dá no máximo em cinco dias.
Em apenas uma semana, a caixa liberou R$ 1,8 bilhão em empréstimos consignados a 700 mil beneficiários do Auxílio Brasil e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Entidades de defesa do consumidor relataram já terem recebido uma série de reclamações e denúncias de beneficiários. Segundo o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), foram ao menos duas mil queixas, que vão de empréstimos casados com seguro a ligações ao consumidor para ofertar o consignado, posturas que foram vedadas nas normas do crédito consignado.
A reportagem do Estadão teve acesso a mensagens enviadas pelos bancos aos clientes do Auxílio Brasil nas quais informa que o “crédito ocorre entre 2 e 15 dias”. O Idec recebeu relatos de beneficiários para quem o dinheiro do empréstimo foi prometido apenas para dezembro.
De acordo com a presidente do banco, Daniella Marques, o valor médio dos empréstimos do consignado do Auxílio Brasil ficou em torno de R$ 2.600, com taxas de juros de 3,45% ao mês, 0,05 ponto percentual abaixo do teto fixado pelo governo, e prazo de até 24 meses para pagamento.
Segundo a reportagem do jornal, por ano, a taxa de juros dos empréstimos é de 50,23%. Com as condições da Caixa, um empréstimo pode chegar a R$ 2.582. Com isso, ao longo do contrato, o tomador terá pago R$ 3.840.
O banco tem sido usado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, em seu projeto eleitoreiro para tentar conquistar votos da parte do eleitorado que votou majoritamente no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos.
Além do atraso do dinheiro, há muita desinformação e fake news a respeito do consignado do Auxílio Brasil
De acordo com a reportagem do Estadão, os beneficiários do Auxílio Brasil que solicitaram o consignado do Auxílio fizeram diversas reclamações em grupos no WhatsApp, Facebook e no Telegram. O clima das mensagens é um misto de indignação e revolta de quem ainda não conseguiu receber o dinheiro mesmo depois da contratação da operação e de insegurança com uma enxurrada de fake news em torno do consignado.
Ainda segundo a reportagem, o Idec vem monitorando reclamações nas redes sociais sobre a modalidade de crédito. Nos últimos dias, a instituição notou um aumento expressivo no número de queixas sobre o atraso no pagamento. “Nas redes sociais, encontramos divulgação de fake news informando que, caso a pessoa deixasse de receber o auxílio, o governo iria assumir essa dívida”, disse Ione Amorim, coordenadora do Programa de Serviços Financeiros do Idec, ao Estadão.
Já a diretora institucional da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Oliveira, uma rede de apoio aos vulneráveis criada durante a pandemia da Covid-19 pelo terceiro setor, disse que o atraso na liberação do dinheiro tem gerado dúvidas nos beneficiários do programa. “Muitos perguntaram se o Lula ganhar a eleição o consignado será suspenso”, relatou.
Além disso, um dos grupos públicos do Facebook, chamado “Empréstimo Caixa Tem – Auxílio Brasil”, com mais de 280 mil membros, tem como pergunta mais frequente: “Quem conseguiu receber o empréstimo?” e críticas à Caixa. “É muito humilhante. Eu tenho um print de quando foi aprovado. A menina da Lotérica disse que aparecia no sistema que eu não tinha mais margem e que significava que o empréstimo deu certo. E hoje me apareceu cancelado”, relatou jornal, Giovana Verli, de Umuarama, no Paraná. Segundo a Caixa, nessas situações, é preciso fazer uma nova solicitação do consignado.
“Temos que cobrar do presidente, desse pessoal que aprovou o empréstimo e da Caixa. Não só eu como outras mulheres dependem do dinheiro”, disse ela, que ouviu de uma atendente do banco que o problema é no suporte técnico do banco que está muito sobrecarregado com a forte procura pelo empréstimo.
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo