Em encontro público durante a Cúpula das Américas com o presidente norte-americano, Joe Biden, nesta quinta-feira (9), o colega brasileiro Jair Bolsonaro voltou a mencionar suas desconfianças sobre a justiça eleitoral do país, as urnas eletrônicas e as votações de outubro. Após ouvir rápida introdução de Biden, que diplomaticamente disse querer ouvir o que Bolsonaro tinha a dizer, o chefe do Palácio do Planalto afirmou: “este ano temos eleições no Brasil. Queremos sim, eleições limpas, confiáveis e auditáveis para que não sobre nenhuma dúvida após o pleito.” Ambos estavam com semblante carregado. Depois da fala pública na Cúpula das Américas ainda teriam um encontro fechado
Pressionado pelas desconfianças de que não aceitará a derrota cada vez mais provável para o ex-presidente Lula, Bolsonaro emendou na Cúpula das Américas: “Tenho certeza que (a eleição) será realizada nesse espírito democrático”. Declarou ainda: “Cheguei pela democracia e tenho certeza que, quando deixar o governo, também será de forma democrática”.
A frase soa claramente ambígua, considerando que Bolsonaro e seus seguidores, frequentemente, têm invocado teses insustentáveis para defender o que chamam de democracia. É o caso da liberdade de expressão, por exemplo, que o bolsonarismo utiliza para justificar ataques a autoridades, instituições e ao próprio regime democrático.
Na Cúpula das Américas, Bolsonaro volta a dizer que Brasil é exemplo em questões ambientais, mesmo em meio ao desaparecimento do jornalista e do indigenista
Diante da repercussão internacional do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas, Bolsonaro abordou as questões em torno da Amazônia de maneira cínica na Cúpula das Américas: “Somos exemplo para o mundo na questão ambiental”, disse. Em relação ao tema, afirmou ainda: “temos nossas dificuldades, mas fazemos o possível para atender aos nossos interesses e também a vontade do mundo.”
Queimadas no Pantanal, Amazônia e Cerrado já são maiores que em 2021
Pouco antes, a jornalistas, comentou o sumiço ainda não esclarecido de Phillips e Araújo com uma abordagem grosseira: “Naquela região, geralmente você anda escoltado, foram para uma aventura, a gente lamenta pelo pior”, repetiu ele na Cúpula das Américas. Ele já usara antes o termo “aventura” como forma de responsabilizar o jornalista e o indigenista por um possível desfecho trágico.
Bolsonaro volta a jogar culpa pelo fracasso da economia na pandemia
Ao falar de economia na Cúpula das Américas, Bolsonaro manteve o mesmo discurso negacionista adotado durante toda a pandemia para se eximir da responsabilidade pela recessão que se aprofunda no país. “Temos sempre que sermos (sic) cautelosos, porque as consequências econômicas da pandemia – com a equivocada política do ‘fique em casa’, a economia a gente vê depois’ –, agravada por uma guerra a dez mil quilômetros de distância do Brasil, são danosas para todos nós. E lá no Brasil em especial, para os mais humildes”.
O presidente brasileiro tentou ainda desfazer a animosidade que ele mesmo alimentou ao questionar a legitimidade da eleição de Biden, ao ecoar o republicano Donald Trump, de quem é assumidamente fã. “Temos interesse enorme de (nos) aproximar cada vez mais dos Estados Unidos. Vivemos há quase 200 anos em parceria. Em alguns momentos nos afastamos por questões ideológicas.”
Também afirmou na Cúpula das Américas que o Brasil está “à disposição para colaborar para a construção de uma saída” do conflito entre Ucrânia e Rússia. Acrescentou que “torcemos e oramos para que saiamos da situação, para que o Brasil e o mundo retornem à normalidade”.
No âmbito da Cúpula das Américas, o presidente norte-americano, por sua vez, propôs uma “ajuda” considerada irrisória para a Amazônia. Biden diz que vai direcionar US$ 12 milhões para Brasil, Colômbia e Peru dividirem. Enquanto isso, a ajuda que promete à Ucrânia de Volodymyr Zelenski é de astronômicos U$ 40 bilhões.
Sem política econômica efetiva, agora Bolsonaro apela para donos de supermercados baixarem os preços
Em meio à sua participação na Cúpula das Américas, Bolsonaro fez um “apelo” para que os supermercados reduzam a margem de lucro sobre os alimentos básicos para conter a inflação. O pedido foi feito no Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, organizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), evento em que o presidente participou por videoconferência nesta quinta (9).
“O apelo que eu faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, para que os produtos da cesta básica, cada um obtenha o menor lucro possível, pra gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, especialmente os mais humildes”, afirmou. “Eu sei que a margem de lucro tem cada vez diminuído mais também, mas peço que colaborem um pouco mais”, continuou.
O pedido é absurdo e incompatível para um chefe de estado, afirma o coordenador de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz, ao jornal Folha de S. Paulo.
“Todo supermercado vive pelas leis de mercado, da oferta e da procura. Ele é um revendedor, praticamente não fabrica nada. Se compra uma mercadoria mais cara, por culpa de outros fatores que não têm a ver com o lucro dele, ele também não pode vender mais barato do que ele compra”, diz Braz.
“O supermercado também é responsável pela geração de empregos e renda. E um negócios desses não funciona comprando caro e vendendo barato”, afirma o economista.
Supermercados respondem Bolsonaro e pedem isenção de impostos para reduzir preços
Em resposta ao presidente Jair Bolsonaro que viajou aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou, nesta quinta-feira (9), que solicitou ao governo cortes de impostos sobre produtos da cesta básica e desoneração da folha de pagamentos, de acordo com a Folha de S. Paulo.
De acordo com a Abras, para que os preços cobrados ao consumidor final caiam, é preciso que haja reduções de custos na cadeia produtiva. Vale lembrar que um dos principais vetores para o aumento do preço dos produtos é a política de preços da Petrobras, que segue os padrões do dólar e do mercado internacional, mesmo produzindo em solo brasileiro.
Bolsonaro já havia feito o mesmo pedido aos supermercados em 2020, cobrando ‘patriotismo’ dos varejistas para que evitassem repassar os custos do aumento da inflação à população consumidora. Entretanto, a economia segue piorando sem que o governo apresente medidas eficazes para uma retomada.
Redação ICL Economia
Com informações da Rede Brasil Atual , do Brasil 247 e da Folha de S. Paulo