Ausência de líderes na Cúpula das Américas revela dificuldades dos EUA na região

Casa Branca vetou a participação de Cuba, Venezuela e Nicarágua no encontro. Depois disso, diversos líderes afirmaram que não participariam
8 de junho de 2022

Nesta quarta-feira (8), o presidente norte-americano Joe Biden chega à Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles (EUA). A Casa Branca anunciou que 23 chefes de Estado participam do encontro, incluindo o líder que estava em cima do muro, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que encontrará Biden pela primeira vez. No entanto, as ausências dos presidentes de México, El Salvador, Honduras, Guatemala e Bolívia  na Cúpula das Américas ainda são notadas e mostra a dificuldade de Biden para consolidar liderança norte-americana em sua vizinhança.

Durante semanas antes do início da  Cúpula das Américas, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, deu a entender que boicotaria o encontro ao menos que todos os líderes da região fossem convidados, incluindo os de Cuba, Nicarágua e Venezuela. Outros líderes, principalmente de esquerda, sinalizaram que também poderiam não comparecer se os convites não fossem para todos.

“Não pode haver uma Cúpula das Américas se todos os países das Américas não puderem participar”, disse López Obrador em entrevista coletiva na Cidade do México. “Isso é dar continuidade às velhas políticas intervencionistas, de desrespeito às nações e seus povos”.

Autoridades do governo norte-americano descartaram na segunda-feira (6) as preocupações sobre a participação na cúpula, dizendo que não acreditam que os delegados de nível inferior de certos países, presentes na cúpula, alterarão o resultado.

“Realmente esperamos que a participação não seja de forma alguma uma barreira para a realização de negócios significativos na cúpula. Na verdade, muito pelo contrário, estamos muito satisfeitos com a forma como os resultados estão se moldando e com o compromisso de outros países “, informou um representante do governo dos EUA.

A Casa Branca insistiu que o presidente foi firme em sua opinião de que os líderes de Cuba, Venezuela e Nicarágua não deveriam ser convidados a participar – mesmo que isso signifique aumentar as divergências com outros países da região. Agora, Biden paga pelas consequências de uma cúpula totalmente esvaziada.

Durante o encontro, Biden deve anunciar uma nova parceria com países do Hemisfério Ocidental durante a reunião como parte de um esforço mais amplo para estabilizar a região, segundo as autoridades.

Seu governo trabalha desde o ano passado para organizar a Cúpula das Américas, que foi formalmente anunciada em agosto passado. A cidade de Los Angeles foi escolhida como sede em janeiro. Biden nomeou o ex-senador Chris Dodd, seu amigo e ex-colega no Comitê de Relações Exteriores do Senado, como assessor especial do evento.

Dodd, a vice-presidente Kamala Harris e até a primeira-dama Jill Biden viajaram pela região para obter apoio. No entanto, à medida que o encontro se aproximava, ficou evidente que um evento destinado a reafirmar a liderança americana na região estava enfrentando sérios obstáculos.

As autoridades mexicanas transmitiram a decisão de seu presidente à Casa Branca com antecedência. Biden foi informado antes que a notícia se tornasse pública. Em vez de se encontrarem na Cúpula das Américas, Biden e López Obrador se reunirão em Washington no próximo mês.

As autoridades procuraram enfatizar que a decisão de boicotar o encontro na Cúpula das Américas estava enraizada em um desacordo específico sobre a lista de convidados e não indicava uma divergência maior. Para Obrador, o melhor uso da cúpula é reunir países que compartilham um conjunto de princípios democráticos

Biden está voltando seu foco para as Américas após uma série de crises de política externa em outras partes do mundo, incluindo a retirada caótica do Afeganistão e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Ele completou sua primeira visita à Ásia no final do mês passado. Esta região é uma onde sua mensagem animadora de “autocracia versus democracia” está sendo colocada em prática em tempo real, enquanto a China trabalha para se aproximar de nações com dificuldades econômicas que buscam apoio do exterior.

No discurso de abertura, nesta quarta-feira, Biden apresentará a chamada “parceria das Américas”, que se concentrará em recuperação econômica, mobilização de investimentos, cadeias de suprimentos, energia limpa e comércio – tudo com a esperança de fortalecer as parcerias dos EUA na região.

Durante a Cúpula das Americas Biden também deve anunciar mais de US$ 300 milhões em assistência para combater a insegurança alimentar, além de outros compromissos do setor privado, bem como iniciativas de saúde e uma parceria sobre resiliência climática.

Documento de migração deve ser tema de debate na Cúpula das Américas

Ainda se espera, durante a Cúpula das Américas, que Biden e outros líderes concordem com um novo documento de migração, apelidado de Declaração de Los Angeles, durante suas reuniões de sexta-feira (10). O objetivo é explicar como os países da região e do mundo devem compartilhar a responsabilidade de acolher os migrantes.

Uma nova caravana de imigrantes partiu a pé na segunda-feira para chamar a atenção para a questão enquanto os líderes se reúnem em Los Angeles.

Um funcionário do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados disse que um grupo de cerca de 2.300 pessoas deixou a cidade de Tapachula, no sul do México rumo ao norte. O grupo é composto principalmente por venezuelanos, mas também inclui migrantes da Nicarágua, Cuba, El Salvador e Honduras.

Uma organização mexicana de imigração disse em um boletim que o grupo incluía principalmente famílias e crianças “que exigem acesso a procedimentos de migração e tratamento digno por parte das autoridades”.

Tapachula, localizada do outro lado da fronteira da Guatemala, é uma estação de passagem popular para migrantes que viajam da América Central.

De acordo com as leis de imigração mexicanas, os migrantes e requerentes de asilo muitas vezes são obrigados a esperar na área por vários meses com oportunidades limitadas de trabalho. Caravanas de imigrantes para o norte deixaram Tapachula regularmente no ano passado, embora a desta semana pareça ser uma das maiores. Autoridades disseram estar confiantes de que o México assinaria.

Redação ICL Economia

Com informações das agências e notícias

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