A nove dias do primeiro turno das eleições presidenciais, a nova rodada da pesquisa Datafolha confirma a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), primeiro colocado nas pesquisas de intenções de votos, vencer o pleito no domingo, 2 de outubro. Ele aparece com 47% das intenções, ampliando a margem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que manteve os mesmos 33% marcados na rodada anterior. Em terceiro lugar, o candidato do PDT, Ciro Gomes, caiu de 8% para 7%, voltando ao patamar em que estava no fim de agosto, enquanto Simone Tebet (MDB) aparece com 5%.
O Datafolha aponta que Lula ampliou a vantagem sobre Bolsonaro principalmente entre os eleitores mais pobres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.424). Esse resultado é decepcionante para a campanha do presidente, que abriu a torneira de gastos meses antes da eleição, com o pacote eleitoreiro incluindo o Auxílio Brasil e bolsas caminhoneiro e taxista.
A nova rodada Datafolha mostra que, muito possivelmente, o eleitor mais pobre está analisando o conjunto da obra, tanto do governo Bolsonaro quanto o de Lula. No Brasil, segundo pesquisa do Datafolha, 51% do eleitorado ganha até dois salários mínimos; 34%, de dois a cinco; 9%, de cinco a dez; e 4% recebem acima disso.
Para o colunista político do UOL José Roberto de Toledo, Lula só não vai vencer a eleição se algo muito grave acontecer. “O problema do Bolsonaro é a diferença que o Lula abre no Nordeste, o segundo maior colégio eleitoral do país. Lá, são mais de 20 milhões de votos [para o petista]. Se somar isso com os cerca de 5 milhões de votos no Sudeste, o Bolsonaro precisaria ter 70% do total de votos no Norte, Sul e Centro-Oeste para tirar essa vantagem. É impossível”, disse, no programa Análise de Pesquisas.
Ainda segundo Toledo, Bolsonaro pode ir “quantas vezes quiser para o Nordeste” que não será capaz de reverter esse quadro, porque a vida das pessoas não melhorou em seu governo. “Ele é inviável eleitoralmente, essa é a verdade. Salvo uma hecatombe ou tragédia, não tem como o Bolsonaro ganhar a eleição”, disse o jornalista.
Já para a colunista do mesmo portal Carolina Brígido, a nova rodada Datafolha mostra que o voto útil já começa a aparecer. “Lula teve uma oscilação dentro da margem de erro, mas mostra a tendência típica do voto brasileiro de esperar chegar perto da eleição para votar em quem vai ganhar”, completa.
A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais no total no levantamento. Foram ouvidas 6.754 pessoas de terça (20) até esta quinta (22). A margem, no entanto, sobe para quatro pontos entre os que ganham de cinco a dez salários e para seis pontos nos mais abastados.
Datafolha mostra que Bolsonaro amplia vantagem sobre Lula em faixas de renda maiores
Como tem acontecido ao longo das pesquisas divulgadas, o presidente Bolsonaro ampliou a margem sobre Lula em três faixas de renda maiores. Bolsonaro alargou a vantagem nas faixas de dois a cinco salários, assim como no de cinco a dez salários. Entre os mais ricos, acima de dez salários, ambos oscilaram positivamente.
Além disso, Lula e Bolsonaro aparecem empatados tecnicamente nas regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, onde as margens de erro sobem de 2 pontos percentuais no geral para 5, 6 e 7 pontos, respectivamente. Como já dito, no Nordeste o petista manteve sua liderança com folga.
Por outro lado, o Datafolha mostra Lula à frente entre eleitores que se declaram pardos. A diferença entre os dois nessa população cresceu de 12 para 16 pontos percentuais nesta semana. Mas eles permanecem tecnicamente empatados entre brancos.
Já entre aqueles que se declaram pretos, Lula segue liderando com folga. Neste grupo, porém, o presidente voltou a reduzir sua desvantagem de 34 para 30 pontos, dentro da margem de erro de três pontos.
Nos grupos religiosos, Lula segue liderando com folga entre católicos e Jair Bolsonaro, entre evangélicos. Nesses grupos, Lula oscilou positivamente de 46% para 49%, enquanto Bolsonaro se manteve nos 29%.
Entre os homens, Lula também lidera, permanecendo com os mesmos 44% das intenções de voto da rodada passada. Já o presidente variou um ponto percentual para cima, para 38%.
Por fim, entre as mulheres Lula também oscilou positivamente de 46% para 49%, enquanto o presidente permaneceu nos 29%.
No conjunto, o resultado do Datafolha é ruim para a campanha de Bolsonaro. Por isso, tanto o presidente quanto seu asseclas mantêm o discurso de tentar desacreditar os institutos de pesquisa.
O discurso agressivo e negacionista tem se espraiado na mente de seguidores do presidente. Tanto que, há poucos dias, um pesquisador do Datafolha foi agredido na cidade de Ariranha, no interior de São Paulo, por um eleitor bolsonarista.
Esta semana, portanto, deve ser marcada por ataques a Lula na tentativa de inflamar o antipetismo e evitar a migração para o ex-presidente de votos hoje declarados para Ciro Gomes e Simone Tebet.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo