Primeiro debate presidencial do 2º turno é marcado por troca de acusações e pouco aprofundamento em pautas econômicas

Ambos foram questionados sobre planos para a Petrobras. Petista negou a intenção de privatizar a empresa, dizendo que privatização de estatais "não serve para nada"
17 de outubro de 2022

O primeiro debate presidencial antes do segundo turno das eleições 2022, realizado ontem à noite (16), foi marcado por troca de acusações entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, apesar de o tom adotado ter sido abaixo do esperado. Como tem ocorrido ao longo da campanha, temas econômicos ficaram em segundo plano. Nesse âmbito, os temas ficaram restritos à Petrobras e ao orçamento secreto, moeda de troca do governo para obter apoio com o Congresso.

O primeiro debate entre presidenciáveis do segundo turno foi organizado pelo pool de veículos de imprensa formado por Grupo Bandeirantes, TV Cultura, Folha de S.Paulo e UOL, dividido em quatro blocos. O segundo turno acontece no próximo dia 30 de outubro.

O primeiro bloco foi dominado por Lula, que trouxe à pauta do debate um assunto espinhoso para o presidente Bolsonaro: a Covid-19. O ex-presidente acusou o oponente de ter atrasado a compra de vacinas contra doença e de ser ligado a milicianos. De seu lado, Bolsonaro afirmou que o ex-presidente manteve o valor do Bolsa Família inferior ao atual do benefício do Auxílio Brasil, que é de R$ 600, além de relembrar os casos de corrupção que vieram à tona no governo do PT.

O tema da economia foi tratado em momentos pontuais. No segundo bloco, aberto para que jornalistas fizessem perguntas aos candidatos, um dos jornalistas questionou os candidatos sobre os planos de ambos para a Petrobras, se pretendem privatizá-la ou não, e a política de preços dos combustíveis que pretendem implementar caso sejam eleitos.

Enquanto Lula afirmou que a privatização de empresas estatais “não serve para nada”, Bolsonaro tergiversou e não respondeu à questão. No terceiro bloco, Bolsonaro trouxe para o debate os casos de corrupção envolvendo a estatal no governo petista.

Lula reconheceu os problemas, mas disse que, graças a instrumentos implementados nos governos petistas, as investigações foram feitas sem interferência do governo, em uma clara ironia ao fato de Bolsonaro interferir em tentativas de investigações envolvendo membros de sua família. Ainda, o petista disse que os atos da Operação Lava-Jato não precisavam “ter quebrado” as empresas investigadas e defendeu a prisão dos condenados.

O ex-presidente ainda lembrou dos prejuízos que a operação Lava Jato trouxe ao país, como redução de 4,4 milhões de empregos, investimentos e quebra de grandes empresas importantes para o funcionamento da engrenagem econômica brasileira. Lula ainda citou os 51 imóveis da família Bolsonaro comprados total ou parcialmente com dinheiro vivo. Bolsonaro ainda perguntou quem seria o ministro da Economia do petista, que não respondeu.

Para agentes do mercado, pauta econômica foi esvaziada no debate presidencial, mas enxergam Lula melhor nas respostas

Apesar do tema economia ter sido pouco abordado no primeiro debate presidencial do segundo turno, para Alexandre Milen, CEO da Harami Research, o petista saiu-se melhor que Bolsonaro nas respostas referentes ao tema. “Foi interessante ouvir algumas propostas, principalmente aquelas ligadas à área econômica. Agora deu para ter alguma previsibilidade no que tange o cenário econômico. No geral, foi bem equilibrado. Lula fugiu algumas vezes das perguntas, mas Bolsonaro fugiu mais, principalmente daquelas feitas pelos jornalistas presentes. Ambos fizeram propostas reais, factíveis, mas o petista deu mais respostas concretas do que o atual presidente”, disse, em entrevista ao portal do Estadão.

O teto de gastos, regra fiscal que restringe os gastos do governo em relação à inflação do ano anterior, traz impactos à Bolsa de Valores, ao dólar e à economia no geral, e é tema de preocupação dos agentes do mercado. Isso porque o governo Bolsonaro abriu a torneira de gastos para se reeleger e há uma preocupação sobre esse aspecto no Orçamento do próximo ano. O governo já furou o teto de gastos diversas vezes para viabilizar suas propostas eleitoreiras.

Nesse aspecto, os presidenciáveis foram questionados sobre como vão viabilizar o Auxílio Brasil sem infringir a regra fiscal. Bolsonaro disse que pretende continuar o pagamento do Auxílio Brasil, que terá um impacto de 4% do orçamento, um valor alto. O financiamento viria da reforma tributária e privatizações, com responsabilidade fiscal. Lula também se saiu muito bem na resposta, na opinião de Milen. “Falou da reforma tributária, planejamento, de taxar menos os mais pobres, que é importantíssimo, e taxar o lucro sobre dividendos dos milionários”, disse.

Em relação à criação de empregos e universidades, Lula deixou claro que vai dar prioridade a isso se ganhar, enquanto Bolsonaro não se pronunciou sobre o tema. Também não falou sobre o aumento do salário mínimo, quando confrontado por Lula.

Em relação ao orçamento secreto, outro ponto que preocupa o mercado, Bolsonaro apenas se defendeu das acusações, enquanto Lula citou que em seu governo haverá um orçamento participativo, uma marca de governos petistas em que a sociedade civil é ouvida para a elaboração da proposta.

Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, “Lula foi melhor em termos de postura e de clareza nas ideias, mas nada muito a mais. Nenhum dos dois sai com ar de superior”.

Por sua vez, Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria, disse que “houve uma melhora na qualidade do debate, a dinâmica de ter apenas dois candidatos favoreceu, mas se falou mais do passado do que sobre o futuro. Alguns temas sensíveis ao mercado foram discutidos mais abertamente. Na abertura já se falou como eles vão honrar os compromissos de campanha sem extrapolar o teto de gastos”, disse.

Ele avaliou como positivo o fato de os dois terem falado sobre reforma tributária, “porque assim é possível melhorar a arrecadação pública, ainda que ainda seja preciso discutir como vai ser feito”.

Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo

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