Denúncias de assédio eleitoral crescem 2.577% no 2º turno, de acordo com MPT. Órgão fará força-tarefa no fim de semana para receber denúncias

Órgão não discrimina nas ações a favor de qual candidato ocorreu a coação. Mas denúncias divulgadas na imprensa e redes sociais mostram que maioria dos casos é a favor do presidente Jair Bolsonaro
27 de outubro de 2022

Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, no próximo domingo (30), crescem no Ministério Público do Trabalho as denúncias de assédio eleitoral contra trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos. Dados do órgão mostram que esses casos de constrangimento, para forçar o trabalhador a votar no candidato do patrão, subiu 2.577% entre o primeiro e o segundo turnos da eleição.

O MPT recebeu até agora 1.633 denúncias de assédio de 1.284 empresas diferentes. Ao menos 1.572 delas ocorreram após o dia 2 de outubro. O número é quase oito vezes maior do que os casos que chegaram ao MPT ao longo de todo o período eleitoral de 2018, quando foram registrados 212 relatos.

A situação se tornou tão grave que, no site do MPT, há a informação de que várias unidades do órgão darão plantão no fim de semana para acolher denúncias de assédio, a fim de garantir que o eleitor possa exercer o seu direito de votar no candidato que quiser.

No site, também é possível verificar notícias de denúncias de assédio e acordos de retratação estabelecido com empregadores. O último caso, publicado ontem (26), é da empresa Concreserv, que foi processada pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) por ameaçar demitir 30% dos funcionários em caso de vitória de candidato à Presidência da República. Na ação civil pública ajuizada ontem, o empregador também distribuiu santinhos para indicar em quem os trabalhadores deveriam votar. A instituição pede indenização de R$ 3 milhões por danos morais coletivos em favor dos trabalhadores.

Na ação, o MPT-SP destaca que a Concreserv se recusou a assinar termo de ajuste de conduta (TAC) no último dia 21, por alegar dificuldade em controlar manifestações de gerentes, líderes ou outros trabalhadores sobre a questão eleitoral e admitiu a possibilidade de utilização de caminhão da empresa para fins de manifestações eleitorais.

O órgão não discrimina o candidato a quem os empregadores defendem, mas vídeos e notícias divulgadas pelos principais veículos do país mostram que grande parte das denúncias se refere ao presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Ao coagir seus funcionários a votarem em Bolsonaro, os empregadores usam como argumento o possível fechamento de seus negócios caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições.

Reportagem publicada na edição desta quinta-feira (27) do jornal O Estado de S.Paulo ouviu especialistas sobre as denuncias de assédio. À publicação, eles apontam que as pressões extrapolam o mundo do trabalho e são mais graves que a simples manifestação de apoio, se tornando, inclusive, um motivo de sofrimento emocional para muitos eleitores.

Uma das entrevistadas, a promotora Ana Laura Lunardelli, assessora eleitoral do procurador-geral de Justiça de São Paulo, disse que são muitas as denúncias de coação eleitoral, que não se restringem ao ambiente laboral.

Segundo ela, enquanto o MPT se concentra em apurar se as relações empregatícias foram afetadas, a Promotoria Eleitoral investiga se houve prática criminosa relacionada às eleições. São situações independentes, com consequências distintas, de acordo com a promotora.

Pena por assédio eleitoral pode ser de prisão de até quatro anos. TSE tem se organizado para coibir prática

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tem se organizado para tentar combater essa prática criminosa. O presidente do órgão, Alexandre de Moraes, se reuniu com representantes do MPT e do Ministério Público Eleitoral para definir estratégias conjuntas contra a coação. Na ocasião, ele disse que “lamentavelmente, no século 21, retornamos a uma prática criminosa que é o assédio eleitoral, praticado por empregadores coagindo, ameaçando, prometendo benefícios para que os seus funcionários votem ou deixem de votar em determinadas pessoas”.

Como já dito, a maioria dos casos envolve patrões bolsonaristas, que adotam estratégias perversas para tentar mudar os votos de funcionários de maneira ilegal. Um dos casos mais famosos envolve o ruralista Adelar Eloi Lutz. Ontem (26), ele assinou um termo de ajustamento de conduta com o MPT no qual se compromete a pagar indenização de R$ 150 mil por danos morais coletivos, por ter exigido que funcionárias colocassem celular no sutiã para provar que iriam votar em Jair Bolsonaro. Um dia após a abertura do inquérito, ele escreveu em redes sociais que se tratava de uma “brincadeira” e que não houve ameaça de demissão. O empresário não foi localizado pela reportagem do Estadão.

Entre os estados brasileiros, Minas Gerais lidera a lista de assédio eleitoral, com 449 denúncias. De acordo com a reportagem do Estadão, circulou entre os moradores de Caratinga um áudio enviado pelo prefeito Wellington Moreira de Oliveira (PSD), em que ele “convida” servidores a participarem de um ato pró-Bolsonaro. “Aqueles que disserem que não vão estar ou disserem que vão estar e não comparecerem, é um direito deles. Mas a gente vai ter uma conversa com eles depois”, disse Oliveira.

A promotora Ana Laura Lunardelli citou o artigo 301 do Código Eleitoral, que estabelece pena de reclusão de até quatro anos para quem “usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar ou não votar em determinado candidato ou partido, ainda que os fins visados não sejam conseguidos”, o que não se restringe às relações trabalhistas.

No caso do setor público, gestores investigados sobre assédio também podem sofrer afastamento provisório de suas atividades enquanto corre o processo legal.

Sobre o cenário atual, a promotora afirmou que não há paralelo na história recente. “Estamos retrocedendo e vendo o coronelismo.”

Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo

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