Duas tacadas no mesmo dia. Ontem (6), foi anunciada a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA de manhã e, no início da noite, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anunciou a alta da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 10,75% para 11,25% ao ano.
Embora os efeitos só sejam sentidos no futuro (os impactos dos ajustes da Selic são sentidos em um horizonte de seis a 18 meses), é possível fazer alguns prognósticos sobre o que pode acontecer com dólar e investimentos.
No caso da moeda norte-americana, após o anúncio da vitória do republicano, a divisa disparou. Porém, fechou o dia por aqui com baixa de 1,26%, a R$ 5,674.
O mercado financeiro global, no entanto, já precifica juros mais altos por mais tempo, além de uma valorização do dólar em relação às demais divisas globais. No Brasil, esse movimento já acontece em relação ao real.
As projeções de analistas indicam que, com o dólar alto, há mais pressões inflacionárias e, portanto, o ciclo de alta de juros no Brasil pode se tornar mais intenso.
Isso porque, embora ainda não tenha apresentado um plano de governo efetivo, Trump prometeu elevar o protecionismo da indústria norte-americana (o que já acontece no governo Joe Biden), elevando as tarifas de importações.
Além disso, promete dificultar a imigração, o que geraria problemas no custo da mão de obra (contratar imigrantes é mais barato). Ou seja, a expectativa é que o segundo governo do republicano aumente a inflação americana, o que faria com que os juros dos EUA também permanecessem em um patamar alto.
Nesta quinta-feira (7), o Fed (Federal Reserve, o banco central estadunidense) deve reduzir a taxa de juros pela segunda vez, mas o que vai acontecer após a posse de Trump é uma incógnita.
A expectativa hoje é de queda de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que sai dos atuais 5% para 4%, ante expectativa de 3,75% há uma semana.
Juros maiores nos Estados Unidos são ruins para o Brasil, apesar da Selic alta
A expectativa de analistas é de que os juros fiquem mais altos no governo Trump e isso é ruim para mercados emergentes, como o Brasil.
Isso porque os juros mais altos nos Estados Unidos impactam o câmbio brasileiro e, por consequência, os juros futuros. Fora que tira investimentos do país, pois os investidores vão preferir investir em dólar e e uma economia mais segura, apesar de as taxas no Brasil serem maiores.
O mercado tem pressionado o governo a apresentar um pacote de corte de gastos, o que poderia contribuir para ajudar a reduzir a percepção de riscos do país.
Hoje, a dívida pública está em cerca de 80% do PIB (Produto Interno Bruto) e a expectativa é que vá a 88% do PIB ao fim de 2026. Se essa previsão for revisada para baixo, o Brasil poderia ver uma entrada de capital estrangeiro, e consequentemente, de dólares, no país.
Na avaliação de analistas, esse cenário deve tornar o trabalho do Banco Central mais desafiador para controlar a inflação.
O último Boletim Focus do Banco Central mostra que a mediana do mercado financeiro aponta que a Selic vai encerrar 2024 em 11,75% ao ano. Se confirmada a projeção, isso significa que o BC vai subir os juros em 0,50 p.p. na reunião de dezembro. Para 2025, a projeção da Selic avançou de 11,25% para 11,50%.
A Selic mais alta só é boa para investimentos em renda fixa, como o Tesouro Selic para investimentos com objetivo de curto prazo e o Tesouro IPCA+ (NTN-B) em prazos mais longos.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo