Direito de resposta, Lula sob ataque, mentiras de Bolsonaro, Ciro nervoso e candidato laranja marcam último debate presidencial

Provocado por Ciro sobre temas econômicos, Lula se lembrou de feitos do seu governo, como os 77% de ganho real do salário mínimo, enquanto Bolsonaro insistiu nas mentiras descoladas da realidade
30 de setembro de 2022

Como já era esperado, o último debate presidencial, transmitido pela TV Globo na noite de ontem (29), foi marcado por direito de respostas, nervosismo dos candidatos e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), primeiro colocado nas pesquisas de intenção de votos, sob ataque constante de seus oponentes. O petista foi atacado principalmente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição que mentiu na maior parte do tempo, por Ciro Gomes (PDT) e pelo nanico padre Kelmon (PTB), que atuou como cabo eleitoral de Bolsonaro nos ataques a Lula.

No momento mais tenso, o mediador do debate, o jornalista William Bonner, teve que desligar os microfones de Lula e Kelmon para tentar conter os ânimos. Lula chamou Kelmon de “candidato laranja”, cuja atuação deixou claro que o petebista, substituto de Roberto Jefferson no pleito, estava lá para desestabilizar o petista.

Também participaram do debate as candidatas Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Avila (Novo).

Os ataques a Lula foram reforçados pelos resultados da nova rodada da pesquisa Datafolha, divulgada ontem (29), mostrando Lula com 50% dos votos válidos e Bolsonaro com 36%, o que dá a possibilidade de o petista vencer as eleições no primeiro turno no domingo (2). Portanto, era natural que o ex-presidente virasse o alvo preferencial de seus oponentes.

Todos os adversários usaram o tema corrupção na Petrobras para atacar Lula e as gestões do PT. O petista, no entanto, evitou cair nas cascas de banana, lembrando que foi inocentado pela Justiça e reforçando os feitos de seu governo. Lula só pecou quando caiu na cilada de Kelmon, batendo boca com o nanico.

“Candidato laranja não tem respeito com regra, faz o que quer”, disse Lula, se referindo à relação de subordinação do candidato do PTB a Bolsonaro.

Economia também é pauta do debate presidencial, com Bolsonaro mentindo sobre números e Lula ressaltando os feitos de seu governo

debate presidencial

Crédito: reprodução TV Globo

O primeiro a perguntar, Ciro Gomes escolheu Lula para responder à sua pergunta. Em tom crítico, o pedetista questionou o fato de que, após 14 anos de governos petistas, as cinco pessoas mais ricas do Brasil acumulam riqueza semelhante aos 100 milhões mais pobres, que o desemprego atingiu 12% ao fim desse período e que explodiu o endividamento das famílias. “É isso o que o senhor deseja repetir se se aventurar a governar o país novamente?”, questionou Ciro.

“Ô, Ciro, você poderia começar a fazer essa pergunta de outra forma. Você poderia perguntar como é que no governo do PT, os mais pobres tiveram 80% de aumento real na sua renda, enquanto os mais ricos tiveram só 20%. Você poderia perguntar como é que nós geramos 22 milhões de empregos”, começou Lula, que rememorou Ciro de que ele fez parte de seu governo e, portanto, se lembra disso.

Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, mostra que a diferença entre o número de pessoas empregadas em 2002 —último ano antes de Lula assumir a Presidência— e 2015 —último ano completo do PT no poder— é de 19,4 milhões.  Conforme checagem feita pela Agência Lupa e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, no final de 2002 eram 28,7 milhões de vagas formais de emprego. Em 2015, 48,1 milhões.

Lula ainda lembrou a Ciro que, ao longo dos governos petistas, o salário mínimo teve ganho real de 77%, o que é verdadeiro, segundo verificação da Lupa. Entre janeiro de 2003, primeiro ano do governo Lula, até janeiro de 2016, meses antes de Dilma Rousseff (PT) sofrer o golpe e ser forçada a deixar o governo, o aumento real do salário mínimo (acima da inflação) foi de 75,03%, com base em dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), levando-se em conta a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Além disso, Lula também recordou que, quando chegou ao governo, havia US$ 100 bilhões de fluxo de exportação, e que seu governo subiu bastante esse valor.

Ainda de acordo com a Lupa, em 2002, ano em que Lula foi eleito para o primeiro mandato, o fluxo da balança comercial no Brasil era de US$ 108,3 bilhões. Em 2010, último ano do petista na presidência, o montante chegou a US$ 383,7 bilhões. Naquele ano, o Brasil exportou US$ 200,4 bilhões e importou US$ 183,3 bilhões.

Já em 2011, primeiro ano da ex-presidente Dilma Rousseff, o fluxo da balança comercial brasileira foi de US$ 481,5 bilhões (US$ 227,9 bilhões em importação e US$ 253,6 em exportação).

Embora tenha sido atacado no debate sobre as denúncias de corrupção em seu governo, além de ter lembrado seus adversários de que foi inocentado pela Justiça, Lula ainda os rememorou que, ao longo de sua gestão, foram criados mecanismos de transparência e investigação da contas públicas, como o Portal da Transparência. Esta iniciativa foi criada pela Controladoria-Geral da União (CGU), em 2004, no primeiro mandato de Lula. Com ele, é possível que qualquer cidadão encontre informações sobre gastos públicos do governo federal.

Por fim, Lula lembrou que o Brasil era devedor do FMI (Fundo Monetário Internacional) e que, no seu governo, a dívida de US$ 15,5 bilhões foi paga, no final de 2005. As parcelas venceriam apenas no ano de 2007.

Falando a convertidos, Bolsonaro distorce dados sobre o Bolsa Família e mente sobre Petrobras

Evitando um confronto direto com Lula, Bolsonaro mentiu no debate ao dizer que os beneficiários do Bolsa Família perdiam o benefício se conseguissem trabalho. Mas, segundo as regras vigentes, era possível continuar recebendo o benefício mesmo obtendo um emprego formal ou informal. O recebimento só seria cortado se a renda familiar per capita (por pessoa) ultrapassasse o limite de renda permitido pelo programa (meio salário mínimo). O benefício foi substituído, em 2021, pelo Auxílio Brasil.

Na cara dura, Bolsonaro também mentiu quando disse que toda a bancada do PT votou contra a transformação do Bolsa Família em Auxílio Brasil. Os deputados do PT votaram favoravelmente à Medida Provisória nº 1.076/2021, que instituiu o valor mínimo de R$ 400 para o Auxílio Brasil — substituto do Bolsa Família. De acordo com o site da Câmara dos Deputados, o partido recomendou a aprovação da proposta e todos os seus parlamentares votaram a favor da medida. Na verdade, apenas os deputados federais do Novo votaram contra.

O candidato à reeleição também mentiu ao dizer que a Petrobras teve endividamento de R$ 900 bilhões no governo Lula. A checagem da Agência Lupa constatou que, de acordo com “o Resultado Consolidado do 4º trimestre de 2010 da Petrobras (último período do governo Lula), o endividamento bruto da empresa era de R$ 117,91 bilhões (página 16). Esse valor hoje, corrigido pelo IPCA, equivaleria a R$ 240,36 bilhões. O número citado por Bolsonaro é quase quatro vezes o real”.

Bolsonaro também mentiu sobre a compra de vacinas contra a Covid-19, ao afirmar que nenhum país do mundo adquiriu vacinas contra a doença em 2020, quando, na verdade, 50 países começaram a vacinação naquele ano; também mentiu ao dizer que não houve incêndios na Floresta Amazônia neste ano (de janeiro a setembro houve 85.150 focos de incêndios na região); e exagerou ao dizer que seu governo completa três meses com inflação negativa.

Questionado sobre o famigerado orçamento secreto, moeda de troca do governo com sua base aliada do Congresso, Bolsonaro transferiu a culpa do instrumento de barganha a parlamentares. A verdade é que, depois de vetar o dispositivo, ele encaminhou um novo projeto ao Congresso, instituindo o orçamento secreto, que foi aprovado pelos parlamentares.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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