Corte no preço do combustível segue calendário eleitoral

Movimento de queda no preço do combustível, principalmente a gasolina, começou com a aprovação, pelo Congresso, de lei que reduziu impostos federais e estaduais. Se acentuou nas últimas semanas
13 de setembro de 2022

A Petrobras adotou estratégias diferentes de preço do combustível nos momentos de alta e de baixa das cotações internacionais do petróleo em 2022, de acordo com relatório do OSP (Observatório Social do Petróleo). A estatal, cuja diretoria é formada por executivos indicados por Bolsonaro, criou uma rotina de reduções frequentes no preço do litro da gasolina e do diesel, iniciada dois meses antes eleição presidencial.

Quando o petróleo subia, a empresa realizava menos reajustes e praticava preço do combustível abaixo das cotações internacionais, segurando o repasse às bombas. Com o petróleo caindo, passou a anunciar reduções frequentes e acompanhar o mercado externo mais de perto.

O economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais, Eric Gil Dantas explicou, para a reportagem da Folha de S Paulo, que os dados sobre combustível indicam que a execução da política de preços da Petrobras esteve sujeita a pressões políticas durante o ano eleitoral.

Segundo afirmação de Dantas para a reportagem, a política de preços da Petrobras segue o PPI  (Preço de Paridade de Importação)” mas tem outra variável, que é a pressão política. “Até junho, a Petrobras teve que manter os preços abaixo do PPI. Mas quando chega julho, passa a praticar preços iguais ou até superiores”, disse Dantas para a Folha de S Paulo.

Em razão dos levantamentos feitos, o Observatório Social do Petróleo explica, em seu site, a atual gestão da empresa moveu um processo pra tirar nosso site do ar. “Recentemente, impediram o uso do nome ‘Observatório Social da Petrobrás’ nossas redes sociais. A justificativa é a mesma nos dois casos: má-fé e uso indevido da marca Petrobrás para enganar os leitores, se passando pela companhia. Mas sabemos o real motivo: nossas críticas à política desastrosa de Bolsonaro sobre o combustível incomodam o governo, que quer nos silenciar”, consta no site do OSP.

A Petrobras afirmou em nota que não há periodicidade definida para os reajustes de diesel e gasolina. “A companhia segue buscando o equilíbrio dos seus preços no combustível com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.”

A empresa disse ainda que não existe referência única de comparação de preços do mercado internacional do combustível que seja percebida por todos os agentes. “Para demonstração, basta observar que duas renomadas agências de informação, Argus e Platts, publicam referências de preços para o Brasil com diferenças significativas entre elas”, informou.

No primeiro semestre, enquanto as cotações do petróleo disparavam em resposta à Guerra da Ucrânia, a Petrobras promoveu três aumentos no preço da gasolina. A partir de julho, quando o petróleo passou a recuar com o risco de recessão global, já foram quatro cortes.

Com o diesel, a estratégia foi semelhante, embora com menos margem para quedas, já que o produto vem sendo pressionado pela necessidade do mercado europeu por alternativas ao gás natural da Rússia: foram quatro aumentos no primeiro semestre e dois cortes apenas em agosto.

No mercado, a avaliação é que a empresa vem promovendo reajustes a conta-gotas, baixando os preços com maior frequência e menor intensidade para gerar fatos positivos para a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A partir da posse de Caio Paes de Andrade na presidência da estatal, a empresa passou a anunciar cortes de preços quase semanais. Passou, inclusive, a divulgar reajustes de produtos que antes não eram divulgados oficialmente, como querosene de aviação e asfalto.

Entre os dias 19 de julho e 1º de setembro, foram nove anúncios, que são usados pelo presidente e seus apoiadores na campanha e em redes sociais. Seus efeitos na inflação também são comemorados pelo governo como sinais de melhora da economia brasileira.

A oposição, por outro lado, ironiza a estratégia dizendo que os cortes são anunciados após a divulgação de pesquisas que mostram o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva à frente na corrida presidencial.

Na sexta-feira (9), por exemplo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o IPCA teve a segunda deflação seguida, fechando agosto em -0,36%.

O desempenho foi influenciado principalmente pela queda do grupo de transportes, que recuou 3,37% no mês, contribuindo com -0,72 ponto percentual no índice. Isto é, mais do que compensou a alta de sete outros grupos pesquisados, principalmente saúde, vestuário e alimentação.

Apesar das reduções, na média, preço do combustível não fica abaixo do internacional desde o dia 27 de julho

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Crédito: Envato

O movimento de queda nos preços dos combustíveis, principalmente a gasolina, começou com a aprovação, pelo Congresso, de lei que reduziu impostos federais e estaduais. Se acentuou nas últimas semanas, com a queda das cotações internacionais do petróleo.

Fontes na Petrobras disseram à reportagem da Folha de S. Paulo que a estratégia previa anúncios semanais de cortes de preços até o primeiro turno da eleição, no primeiro fim de semana de outubro, mas não houve qualquer anúncio nesta semana, embora estimativas do mercado indiquem margem para queda na gasolina.

Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o preço médio da gasolina nas refinarias brasileiras estava R$ 0,36 por litro mais caro do que a paridade de importação na abertura do mercado desta sexta.

Os dados da associação mostram que o preço médio no país não fica abaixo do internacional desde o dia 27 de julho, mesmo que a Petrobras tenha promovido três cortes no valor cobrado por suas refinarias neste período.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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