O número de endividados de risco no Brasil era de 15 milhões em 2023, o que correspondia a 14% da população tomadora de crédito do Sistema Financeiro Nacional. Os dados são do Banco Central.
De acordo com informações do BC, o endividamento de risco é uma métrica desenvolvida para determinar se uma pessoa pode estar no caminho do superendividamento, etapa em que a pessoa não consegue honrar com as dívidas que contraiu sem comprometer o mínimo para a sua sobrevivência.
As variáveis utilizadas para a avaliação são as seguintes:
- Renda disponível mensal (após o pagamento do serviço de dívidas) abaixo da linha da pobreza;
- Inadimplemento de parcelas de crédito — ou seja, atrasos acima de 90 dias no pagamento dos débitos;
- Multimodalidade, que é a exposição simultânea a três modalidades de crédito: crédito rotativo, cheque especial e crédito pessoal sem consignação; e
- Comprometimento de mais de 50% da renda com o pagamento de dívidas.
A pessoa é considerada um endividado de risco se marcar ao menos dois desses indicadores.
Durante evento promovido por um banco, o chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do BC, Luis Gustavo Mansur Siqueira, explicou que o alto número de pessoas classificadas como endividadas de risco vem na esteira da maior inclusão vista no país nos últimos anos.
“Essa inclusão financeira também trouxe desafios, a maior parte deles relacionado ao crédito”, disse. “Ao mesmo tempo em que vemos o sucesso das políticas de inclusão financeira, observamos também uma baixa resiliência financeira pelos brasileiros, um aumento da inadimplência e do superendividamento, muitos brasileiros reportando preocupações financeiras e a prevalência de produtos de crédito de alto custo, em especial para a baixa renda”, acrescentou.
Em setembro, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), apontou queda do endividamento das famílias brasileiras pelo segundo mês consecutivo.
O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer diminuiu para 78% em agosto, abaixo dos 78,5% observados em julho, mas ainda superior ao índice de 77,4% registrado em agosto do ano passado.
Endividados: grande partes dos brasileiros precisa de empréstimo para pagar dívida
Outro dado citado por Siqueira, do último relatório Global Findex sobre resiliência financeira, indicou que quase 70% dos brasileiros não conseguiriam pagar uma despesa inesperada que correspondesse à sua renda mensal sem pedir um empréstimo ou ajuda a familiares e amigos.
“Vemos, no Brasil, que 46% das pessoas têm preocupações financeiras. Os dados mostram que o brasileiro está preocupado com sua saúde financeira e vemos que isso também tem relação com a renda. Quanto menor a renda, maior a preocupação”, apontou.
Siqueira disse que o Banco Central tem usado mais ferramentas de inteligência artificial (IA) para mensurar os níveis de risco das operações de crédito no país e os riscos de a pessoa estar caminhando para um superendividamento.
“O modelo ideal que temos veria a base de crédito e diria quais cidadãos estão na trajetória para se tornar superendividado ou um endividado de risco”, explicou.
Um trabalho que está sendo feito na instituição aponta que um dos caminhos para evitar a dívida de risco é limitar o acesso ao crédito. “Quando a gente vê que o cidadão usa mais de 85% do seu limite de crédito, a gente vê que ele tem mais propensão a se endividar”, afirmou.
Redação ICL Economia
Com informações do g1