Moradores de São Paulo e Região Metropolitana entram no quarto dia sem energia elétrica após temporal que caiu na cidade na noite de sexta-feira (11), enquanto o prefeito Ricardo Nunes, o governador Tarcísio de Freitas e a Enel, concessionárias de energia, promovem um jogo de empurra sobre de quem é a culpa pelo segundo grande apagão ocorrido em menos de um ano.
De acordo com os últimos números oficiais, pouco mais de 500 mil moradores continuavam sem luz nesta manhã de segunda-feira (14).
Ontem à noite (13), o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Sandoval Feitosa, disse, em entrevista coletiva, que a Enel mobilizou menos técnicos em campo do que o esperado e não cumpriu com o plano de contingenciamento para enfrentar a crise climática.
“A percepção que nós temos a respeito da recuperação do serviço é que ela [a Enel] de fato não tem atendido todas as expectativas com relação ao ano passado”, afirmou Feitosa.
“Claro que esses números precisam ser melhor depurados, porque agora temos uma quantidade de consumidores muito grande que estão interrompidos em função do evento. E há outros consumidores que têm ausência do seu serviço por questões da rotina diária do serviço de distribuição”, complementou.
O órgão realizou uma reunião de emergência para restabelecer a energia elétrica na capital e região metropolitana, ocasião em que foram avaliados cenários de atendimento em cada localidade e área de atuação, as ações até então tomadas pelas empresas, as equipes mobilizadas, os recursos materiais e humanos disponíveis.
A Aneel afirma que 2,1 milhões dos 2,6 milhões de consumidores afetados por interrupções no fornecimento de energia em São Paulo estão localizados na área de concessão da Enel. O Procon-SP anunciou que vai notificar a Enel para explicar a demora para a volta da energia.
Em fevereiro, a mesma Aneel aplicou multa de R$ 165,8 milhões à Enel pelo apagão que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo em novembro do ano passado, quando os mesmos 2,1 milhões de pessoas ficaram sem luz, com o fornecimento levando uma semana para ser normalizado.
Na ocasião, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, disse que o primeiro passo, depois da privatização, é cortar custos, “piorando a qualidade, mandando um monte de gente embora, fazendo o serviço ficar menos confiável e aumentando o preço do produto”. Depois, pede ajuda ao Estado.
Ontem, a Enel afirmou que o serviço foi restabelecido para 1,4 milhão de clientes, mas não definiu prazo para solução do problema para os pouco mais de 500 mil que ainda estão no escuro nesta manhã.
Empresa corta investimentos para pagar dividendos para acionistas
A empresa italiana adotou uma estratégia global de redução de custos, do número de funcionários e de investimentos, privilegiando o pagamento de dividendos a acionistas estrangeiros.
Em 2023, a empresa tinha 15.366 funcionários, uma queda significativa em comparação aos quase 27 mil de 2020.
A crise de confiabilidade no serviço da Enel reforça as críticas de que uma estratégia de corte de custos e priorização de dividendos para acionistas estrangeiros, em vez de reinvestimento em melhorias na infraestrutura, pode estar comprometendo a qualidade do fornecimento de energia.
Essa tensão é ampliada pelo histórico recente da empresa no Brasil. Após o anúncio de novembro de 2023, que também deixou milhões sem luz, a Enel promoveu uma troca de sua liderança no país como parte de uma tentativa de recuperar sua imagem. No entanto, mesmo com as mudanças internacionais e promessas de investimento, o impacto dos cortes de pessoal e a redução de trabalhadores terceirizados geraram questionamentos sobre a capacidade da empresa de responder de maneira eficaz às demandas da população.
No novo apagão, falhas do sistema de comunicação da concessionária agravam os danos provocados aos consumidores, segundo advogadas da área de direito do consumidor. Elas alertam para o direito a ressarcimentos por danos materiais e morais.
O Procon-SP exigirá em notificação explicações da Enel após a demora para restabelecer a energia em bairros de São Paulo. A concessionária deve apresentar um plano detalhado de contingência e esclarecimentos sobre as medidas adotadas.
A notificação também buscará respostas sobre a falta de clareza e eficiência no atendimento ao consumidor. O Procon-SP quer saber como a Enel está lidando com o aumento da demanda nas centrais de atendimento e a razão por que as interrupções foram prolongadas.
Temporal deixa mais gente sem luz que furacão Milton
O temporal de sexta-feira à noite deixou mais pessoas sem energia elétrica do que o furacão Milton quando atingiu o estado da Flórida, nos EUA, entre quarta-feira (9) e quinta-feira (10). O furacão Milton, de categoria 3, foi classificado por autoridade meteorológicas dos EUA como “extremamente perigoso”.
No meio da tarde de sábado (12), uma nota da Enel informava que o fornecimento de eletricidade não havia retornado para 1.450 milhão de consumidores, o que é equivalente a cerca de 18% do total de clientes da distribuidora em sua área de concessão.
No mesmo horário, segundo o site de monitoramento dos Estados Unidos PowerOutage.us, o número de clientes sem energia elétrica na Flórida estava abaixo de Sâo Paulo: 1.400 milhão. No pico da falta de luz durante a passagem do furacão, a Flórida teve mais de 4 milhões de clientes sem serviço elétrico.
Redação ICL Economia
Com informações do UOL, o Estado de S.Paulo e do ICL Notícias