Milhares de brasileiros, principalmente os que estão na base da pirâmide social, têm gastado seu esforçado dinheirinho tentando ficar milionários com as apostas on-line, as chamadas bets. Mas a matemática, calcanhar de Aquiles de muita gente, ajuda a explicar as razões que levarão você a não só permanecer pobre, mas ainda mais endividado. A razão é simples: a engenharia por detrás dessas apostas não foi feita para vencê-la.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, que tirou as informações da tabela de pagamentos do “jogo do tigrinho”, a cada 40.353.607 lances no caça-níqueis virtual Fortune Tiger, como é chamado o jogo, uma, em média, recebe o jackpot (jargão para prêmio máximo) de 2.500 vezes o valor apostado.
O programa usado no jogo, conforme a reportagem, usa fenômenos físicos como ondas de rádio de frequência aleatória para gerar números. Em condições isentas, a chance de cada quadro do jogo apresentar o famigerado tigre é de uma em sete.
Porém, isso tem de acontecer em todos os nove slots ao mesmo tempo, e a probabilidade de isso ocorrer é uma em 40.353.607.
A versão original do jogo do tigrinho tem sua aleatoriedade certificada pela empresa independente BMM, autorizada pelo Ministério da Fazenda a atuar no país.
Embora o multiplicador de 2.500 vezes fique aquém do que deveria compensar as parcas chances do melhor jogo ocorrer, o tigrinho disponibiliza premiações para qualquer combinação de figuras repetidas nas três linhas ou nas duas diagonais.
O símbolo wild serve como um coringa para completar combinações, o que aumenta as chances de ganhar algum prêmio. Mas este pode ser até menor do que a aposta inicial.
Bets: 44% dos jogos retornam premiação abaixo do valor apostado, enquanto em 56% apostador perde tudo
O modelo usado pela reportagem para fazer o cálculo mostra que cerca de 44% dos jogos retornam alguma premiação, que varia em torno de 60% do valor da aposta. Isso significa que o jogador vai receber menos do que apostou. Nos 56% restantes, o apostador perde tudo.
“Os influenciadores, com cortes mostrando grandes ganhos, distorcem a percepção sobre os prêmios do caça-níqueis”, disse Sergio Sacchi, o presidente executivo da empresa de apostas Tropicalize, que presta serviços para marcas conhecidas como a Sportsbet.io.
Embora os sites de apostas anunciem que cerca de 93% do valor apostado volte, em média, ao conjunto de jogadores, os apostadores compulsivos tendem a perder tudo.
O porcentual do que volta aos apostadores é chamado, no jargão, de retorno ao jogador (RTP em inglês).
Mas engana-se quem pensa que 93% é um número alto. Veja por que não é:
- Significa, na verdade, pagar uma taxa implícita de 7%, caso se adotem os números divulgados pela entidade patronal IBJR (Instituto Brasileiro de Jogo Responsável).
- Na análise do Banco Central, o RTP é de 85%, o que eleva essa fatia das empresas para 15%.
Dessa forma, os apostadores seguem jogando aquilo que receberem como prêmio, o que faz com que a banca abocanhe uma parcela do bolo a cada rodada.
Como se trata de uma projeção estatística, pode haver mudanças, mas o modelo de negócio das bets prospera porque elas costumam acertar as contas, dizem estatísticos consultados pela reportagem.
A estatística também está a favor da banca. O jogador individual não tem dinheiro para jogar infinitamente. “Quando ele perde tudo, acabou”, resumiu Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e colunista da Folha. “Já as bets podem esperar a contagem de apostas subir”, completou.
Quanto mais jogos houver, mais os resultados vão se aproximar da média estimada, de 93%. Esse é um princípio fundamental da estatística, a lei dos grandes números.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo