O futuro presidente do Banco Central do Brasil (BC), Gabriel Galípolo, reforçou ontem (14) o discurso de que a condução da política monetária precisará ser mais cuidadosa depois que os dados de atividade econômica do país vieram mais fortes do que o esperado.
Como tem dito em seus discursos, Galípolo lembrou que os dados fortes do mercado de trabalho, somados a uma inflação mais “comportada” do que esteve no passado em condições semelhantes, abrem espaço para uma reflexão de “Nairu” — sigla em inglês para “taxa de desemprego não aceleradora da inflação”.
“Quem está na academia ou no mercado tem mais graus de liberdade para desenvolver teses e fazer apostas. Mas a posição do Banco Central é sempre de ser mais conservador”, afirmou Galípolo no Macrovision, evento promovido pelo Itaú BBA.
“Então o que sinaliza ao Banco Central um mercado de trabalho mais apertado, é que devemos ser mais cautelosos na gestão da política monetária, porque isso sugere um processo de desinflação mais lento e custoso. Daí a maior cautela que a gente vem adotando”, complementou Galípolo, que teve sua indicação à Presidência do BC aprovada pelo Senado na semana passada.
Ele assume, a partir de janeiro de 2025, o lugar de Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro deste ano.
Galípolo: ciclo econômico do Brasil é diferente do vivido pelos EUA
Enquanto o Banco Central do Brasil promoveu aumento da taxa básica de juros, a Selic, na última reunião, de 10,50% para 10,75% ao ano, os Estados Unidos estão indo pelo caminho inverso após terem deixado os juros nos patamares históricos mais elevados por mais de duas décadas.
No evento, Galípolo fez questão de pontuar as diferenças entre os dois países, os quais, na avaliação dele, vivem ciclos econômicos diferentes.
“Mas não há qualquer relação mecânica entre a política monetária norte-americana e a nossa, e a relação da taxa de juros básica. Aqui, a taxa de juros básica se move basicamente observando o que acontece com a atividade e as projeções dentro do horizonte relevante”, disse.
O futuro presidente do BC ainda reforçou que o Copom (Comitê de Política Monetária) tem analisado os efeitos dos impulsos fiscais nos resultados da economia, considerando as políticas públicas e de transferência de renda. Porém, ressaltou que o comitê segue de olho nas expectativas de inflação, que seguem desancoradas.
Uma expectativa desancorada de inflação é o jargão usado pelo mercado financeiro para definir o momento em que as projeções dos economistas começam a ficar distantes das metas de preços que o BC precisa cumprir.
A meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3% (centro) de inflação para este e para o próximo ano, com uma banda de oscilação de 1,5 ponto percentual para baixo (1,5%) e para cima (teto de 4,5%).
Causas da desancoragem
Entre os fatores elencados por ele para desancoragem estão: ceticismo quanto a viabilidade da meta de 3% de inflação para uma economia como a do Brasil; e a credibilidade sobre o que vai ser o futuro do Banco Central com a nova diretoria.
Sobre o primeiro aspecto, ele disse que o BC não deveria sequer votar no Conselho Monetário Nacional sobre a determinação da meta que ele mesmo tem que perseguir.
“Isso não tem a ver com diretor de Banco Central. Cabe ao BC colocar a taxa em um patamar restritivo o suficiente e por tempo suficiente para alcançar a meta. Diretor de BC não discute a meta, ele persegue a meta”, disse.
A respeito do segundo aspecto, ele disse que a nova diretoria do Banco Central atua de forma “harmônica” com os demais diretores, sinalizando que sua posse como presidente em 2025 não deverá representar uma “descontinuidade” do que o BC tem feito na condução da política monetária.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias