A destruição causada pelos garimpos de ouro na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, é três vezes maior do que se imaginava. É o que mostra um novo monitor da mineração na Amazônia, o Amazon Mining Watch (AMW), desenvolvido pelo Pulitzer Center em parceria com a Earthrise Media. A devastação se acelerou a partir de 2021, atingiu áreas de floresta que estavam preservadas até então e impactou diretamente uma a cada três aldeias yanomamis.
O novo monitor identificou a destruição de 1.226 hectares de floresta amazônica na TI Yanomami nos anos de 2021 e 2022. Essa área representa o triplo da devastação anunciada em janeiro pelo sistema de alertas diários do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real) identificou 418 hectares desmatados pelo garimpo no mesmo período. Os alertas de desmatamento em janeiro de 2023 totalizaram 167 km², a quarta menor área já registrada no mês desde 2015, quando começou a série histórica do Deter.
Novo monitor AMW traz um resultado mais fidedigno sobre o impacto do garimpo ao usar imagens de melhor resolução
O novo monitor AMW traz um resultado mais fidedigno sobre o impacto do garimpo ao usar imagens de melhor resolução, segundo o pesquisador Matt Finer, da ONG Amazon Conservation, que analisou os dados.
Além disso, o Deter, do Inpe, tem o objetivo específico de emitir alertas diários sobre desmatamento e permitir uma ação rápida dos órgãos de fiscalização. Já o AMW faz uma análise mais detalhada da destruição.
As imagens de satélite, do novo monitor, mostram que o garimpo destruiu diversas áreas dentro do território, e não apenas próximo a alguns dos rios principais, como costumava ocorrer.
O novo monitor revelou também que a destruição está próxima cada vez mais de aldeias yanomamis, o que ajuda a entender a crise de saúde provocada pelo garimpo. Das 305 aldeias identificadas pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), 104 foram alvo de desmatamento por mineração em uma distância inferior a dez quilômetros — ou uma a cada três comunidades.
No começo do ano, o governo brasileiro decretou estado de emergência em saúde para atender casos de subnutrição aguda no território yanomami. A maior reserva indígena do Brasil tem 30 mil habitantes e está localizada em Roraima e Amazonas, na fronteira com a Venezuela.
Lideranças indígenas sofrem retaliações depois de demobilização de garimpo ilegal em terras Yanomami
Atualmente, 18 líderes munduruku estão sob ameaça de morte, segundo levantamento dos próprios indígenas. Localizada no alto curso do Rio Tapajós, no Pará, a Terra Indígena (TI) Munduruku tem 2.382 mil hectares e é um dos três solos indígenas que concentram 95% do garimpo ilegal no país, juntamente com os territórios yanomami e kayapó. A área equivale a 2 mil campos de futebol. Na região, a atividade intensificou-se a partir de 2016.
A recente desmobilização do garimpo em terras yanomami, em Roraima, aumenta o receio dos munduruku de que o problema se agrave ainda mais. Lideranças indígenas destacam que retaliações normalmente ocorrem após a retirada de garimpeiros.
Na semana passada, lideranças yanomami do Amazonas denunciaram a entrada de garimpeiros na região do Pico da Neblina, procedentes de Roraima.
Entre as lideranças ameaçadas que tiveram de deixar suas casas por pressão de criminosos está Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn. Ela conta que tomou a decisão de se esconder para se manter em segurança, pela primeira vez, durante o governo de Jair Bolsonaro.
Desde 2018, ela sofre ameaças e já soma dois períodos em que teve que deixar tudo para trás. No primeiro deles, foi embora com o marido e os filhos. Da última vez, deixou o território com cerca de 35 pessoas de sua família.
No que diz respeito à mineração ilegal, no fim de novembro de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou à PF e ao Ibama informações sobre medidas de combate à atividade, na área da TI Munduruku que fica no sudoeste do Pará.
O MPF considerou os danos “um cenário dantesco”. Um mês antes, o MPF já havia reiterado pedido à Justiça Federal, para que a União, o Ibama e a Funai articulassem ação emergencial de enfrentamento ao garimpo.
Mais afastadas dos rios, as novas áreas tomadas pelo garimpo nas serras são ainda mais isoladas e dependem de aviões de pequeno porte para serem acessadas. Isso amplificou o desmatamento na TI, em razão da construção de dezenas de pistas clandestinas. Das 104 aldeias Yanomami próximas de garimpo, ao menos 73 estão localizadas também a menos de dez quilômetros dessas pistas.
De acordo com levantamento do MapBiomas, somente na TI Munduruku, há 21 pistas de pouso, o que acende o alerta para a presença de garimpeiros no local. A maioria delas (80%) está a uma distância de 5 quilômetros ou menos de algum garimpo.
Ao todo, há pelo menos 66 pistas secretas na Terra Indígena Yanomami, e a maior parte delas está próxima de lavras ilegais de garimpo. Em toda a Amazônia Legal são 1.269 pistas clandestinas, das quais 362 possuem atividades de mineração no entorno, segundo o levantamento “Pistas da Destruição”, publicado pelo veículos The Intercept Brasil e The New York Times, com apoio do Pulitzer Center.
Lideranças afirmam que, em seguida à repressão de crimes praticados em terras indígenas, há retaliação por parte dos criminosos, um aspecto que preocupa especialistas.
Para a antropóloga Rosamaria, a atuação de forças de segurança do governo deve ser contínua, e não apenas em operações isoladas.
De acordo com o ISA, além do assédio da cadeia da mineração ilegal, há pressões por parte dos setores elétrico, para o funcionamento de hidrelétricas, e de transportes e infraestrutura, por causa da construção de hidrovias, ferrovias e portos. Essa realidade marcada pela violência faz com que lideranças equiparem as condições deles às de refugiados. Isso porque, ao saírem de suas terras, rompem contatos com parentes, têm acesso reduzido a alimentos que fazem parte de sua dieta e cortam a interação com seu espaço.
A TI é habitada por comunidades munduruku, apiaká e indígenas em isolamento voluntário. Junto com a TI Sai Cinza e a TI Kayabi, reúne cerca de 145 aldeias munduruku. Os munduruku estão ainda no Médio Tapajós, na TIs Sawre Muybu e Sawre Ba’pin, além das reservas indígenas Praia do Índio e Praia do Mangue. Um povo presente no Pará, no Amazonas e em Mato Grosso, que, geralmente, vive às margens de rios navegáveis.
Redação ICL Economia
Com informações da Agência Brasil e agências de notícias