O governo Bolsonaro sofreu uma derrota no processo de renovação do conselho de administração da Petrobras, durante a assembleia geral dos acionistas, que ocorreu de forma confusa nesta quarta-feira (13). Isso porque, apesar de conseguir garantir o nome de seu indicado, José Mauro Coelho, para presidir a Petrobras, o governo perdeu uma cadeira no conselho.
Na assembleia, o governo tentava aprovar oito conselheiros, incluindo o de José Mauro Coelho. Mas com forte mobilização dos minoritários, conseguiu apenas nomear seis.
Há tempos os minoritários tentavam mais uma vaga no colegiado, que tem 11 cadeiras, mas acabavam elegendo três representantes. Porém, nesta quarta-feira (13), conseguiram a eleição de quatro representantes: Francisco Petros, Marcelo Mesquita de Siqueira Filho, Marcelo Gasparino da Silva e João José Abdalla.
Do lado do governo, além de Coelho, foram eleitos o novo presidente do conselho, Marcio Weber, Luiz Henrique Carolli, Murilo Marroquim, Ruy Flaks Schneider e Sônia Villalobos. Os três últimos já eram membros do colegiado. A 11ª vaga é reservada à representante dos empregados da companhia, a engenheira Rosângela Buzanelli.
Os minoritários entendem que um número maior de conselheiros lhes garante um poder maior de fiscalização contra interferências do governo nos negócios da companhia, como o represamento de preços dos combustíveis, por exemplo.
Ingerência do governo
O processo foi confuso. Antes mesmo do início da assembleia, o MME (Ministério de Minas e Energia) retirou da pauta um item que tratava de mudanças no estatuto da companhia com o objetivo de melhorar a governança, o que o mercado interpretou como mais uma tentativa de ingerência na empresa.
A assembleia foi iniciada às 15h e encerrada pouco antes de 1h desta quinta (14). Ficou suspensa por horas para contagem dos votos até a descoberta de um erro na transferência para o sistema de votos de detentores de ADRs, segundo a empresa.
Reportagem da Folha de S. Paulo relata que, mais cedo, diante de questionamentos sobre os motivos da demora na contagem dos votos, o presidente da assembleia, Francisco Costa e Silva, chamou de “ilação irresponsável” a afirmação feita por um acionista sobre a possibilidade de o governo estar mexendo com o resultado para evitar a eleição de um representante dos minoritários em vaga destinada à União.
A pauta previa também a aprovação de mudanças no estatuto que reforçariam a estrutura de blindagem da Petrobras contra ingerências em sua gestão, dando mais poder ao conselho de administração sobre a política de responsabilidade social e a nomeação do diretor de Governança. No entanto, o MME conseguiu adiar a votação, alegando que não avaliou o tema previamente, o que é sua atribuição como ministério supervisor da estatal.
A indicação de Coelho para presidir a companhia, porém, ainda depende de reunião do conselho de administração, que deve ser realizada nesta quinta (14), data inicialmente prevista para sua posse.
Arroubos presidenciais
A formação do novo conselho de administração que referenda a nova presidência executiva ocorreu em meio a arroubos presidenciais que vão do “eu não apito nada (na Petrobras) e cai no meu colo” até acusações de falta de profissionalismo. Essa apuração do comportamento do presidente Bolsonaro em relação à Petrobras, nos últimos tempos, está relatada em reportagem do Broadcast/Estadão.
Em mensagens curtas enviadas por WhatsApp, do tipo “recuem”, semelhantes a um comando militar, o presidente Jair Bolsonaro tentou anular decisões na Petrobras sobre aumento de combustíveis mesmo depois de o reajuste ter sido anunciado. A reportagem apurou outras mensagens enviadas ao primeiro presidente da estatal em seu governo, Roberto Castello Branco, que apelavam ao caráter persecutório: “Assim vcs querem me derrubar”.
“Tem de ser uma empresa que dê lucro não muito alto”, teria sido outra mensagem de Bolsonaro, desta vez ao presidente atual, o general Joaquim Silva e Luna.
O descalabro nas ingerências chegou ao ponto que, diante da reação do presidente, o coronel Ricardo Bezerra, responsável pela área de comunicação, cogitou não incluir na divulgação do resultado de 2021 a palavra lucro, para não parecer provocação. Mas seria muito difícil relatar o balanço da Petrobras sem falar no lucro recorde de R$ 106,6 bilhões.
Redação ICL Economia
Com informações das agências