De modo bastante grosseiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, atacou recentemente a França em um evento empresarial, demonstrando, além de tremenda falta de educação, total ignorância para o fato de que o país europeu é o maior empregador estrangeiro no Brasil. Além disso, os investimentos franceses ocupam a terceira colocação em território brasileiro. Ou seja, ao desmerecer os franceses, o “posto Ipiranga” do governo Bolsonaro ataca um importante parceiro comercial.
Dados da embaixada da França em Brasília mostram que o número de empresas francesas em território nacional chegou a 1.042 em 2019, empregando 471.784 pessoas e movimentando 66,1 bilhões de euros. As informações integram reportagem do Broadcast, serviço de informações políticas e financeiras do grupo Estado.
A reportagem também mostra dados do Banco Central, apontando que, em 2020, os investimentos franceses no Brasil somou US$ 32,255 bilhões, 6% do total investido no setor produtivo por outros países. Segundo as informações, os franceses só ficaram atrás dos EUA, com investimento de US$ 123,853 bilhões (24%), e Espanha, com US$ 58,215 bilhões (11%).
Anteontem (9), Guedes criticou a França e chegou a usar um palavrão ao referir-se ao país. “Vocês [França] estão ficando irrelevantes para nós. É melhor vocês nos tratarem bem porque senão vamos ligar o foda-se para vocês”, disse o ministro. A embaixada não quis comentar as declarações.
Na edição do ICL Notícias desta quinta-feira (11), no YouTube, o economista Eduardo Moreira e o sociólogo Jessé Souza abordaram os ataques aos investimentos franceses. Para Moreira, Guedes, além de mal-educado, demonstra incompetência e que “não tem cultura”. “Não é a primeira vez que (o ministro) faz isso – ele já desrespeitou da empregada doméstica à primeira-dama da França. Guedes se acha acima de tudo e de todos e é ruim de serviço. Mergulhou o país no maior caos econômico. O personagem de Paulo Guedes é uma ambulância vazia: faz um monte de barulho e não tem nada dentro”, criticou Moreira.
O economista se referiu aos comentários de Guedes a respeito do dólar baixo, que permitia às empregadas domésticas irem à Disney, e também ao fato de ele ter endossado um comentário grosseiro do presidente Jair Bolsonaro a respeito da primeira-dama da França, Brigitte Marie-Claude Macron, ao dizer que ela é “feia mesmo”.
Para Jessé Souza, Guedes possui o mesmo “comportamento afetivo primitivo que o comportamento de Bolsonaro”, uma marca da elite que ele, Guedes, representa. “(O comentário sobre os investimentos franceses) é uma burrice monumental, pois ele é um político banqueiro. É um tiro no pé”, disse.
Ou seja, a lista de atitudes mal-educadas de Bolsonaro e Guedes é grande. No ICL Notícias, Souza e Moreira lembraram que Eduardo Bolsonaro ofendeu os chineses ao dizer que eram os culpados pela pandemia de Covid-19, e que o próprio presidente também os ofendeu ao fazer uma piada de mau gosto.
Investimentos franceses no Brasil estão em trajetória ascendente este ano
Ainda segundo a reportagem do Broadcast, o comércio com a França também vem crescendo neste ano. De acordo com dados do próprio Ministério da Economia, as exportações para os franceses cresceram 18,3% em 2022, somando R$ 1,796 bilhão até julho.
No ranking dos maiores compradores do Brasil, a França ocupa o 26º lugar, à frente de nações como Rússia, Uruguai e África do Sul. De outro lado, o Brasil ocupa o 29º lugar entre os maiores clientes de itens da França. Isso significa, em mais uma demonstração de ignorância de Guedes, que a França é mais relevante para o Brasil do que o contrário.
No quesito importação, a França é o 11º maior vendedor do Brasil, enquanto o Brasil é apenas o 36º maior fornecedor de produtos para a França.
Redação ICL Economia
Com informações do Broadcast