Guerra na Ucrânia completa um ano colocando em xeque eficácia das sanções contra a Rússia

Escolado pelo primeiro conflito na Ucrânia, em 2014, Putin se preparou para as sanções que estariam por vir. Para especialistas, punições aplicadas pelo Ocidente só devem funcionar mesmo no longo prazo
24 de fevereiro de 2023

A guerra na Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira (24), trazendo muitos impactos à geopolítica mundial. Desde então, muitos países contrários ao conflito contra a Ucrânia aplicaram inúmeras sanções à Rússia, reduzindo as importações de petróleo e gás, e freando a transferência de tecnologia e a venda de produtos, com o objetivo de drenar seu poderia econômico e militar. Foi o que fizeram, por exemplo, alguns países europeus, principais importadores da energia russa, e os Estados Unidos. Contudo, diante da imprevisibilidade para o fim do conflito com a Ucrânia, fica a dúvida se as medidas foram suficientes para frear a intentona russa.

Antes de mais nada, importante dizer que a Rússia é um dos três maiores produtores mundiais de petróleo e gás do mundo, ao lado da Arábia Saudita e dos Estados Unidos. Em 2020, 25% do petróleo e mais de 40% de todo o gás consumido pela União Europeia era vendido pelos russos, segundo a agência europeia de estatísticas Eurostat.

Assim como países europeus, os Estados Unidos também adotaram medidas, um mês depois da invasão russa à Ucrânia no ano passado, para deixarem de importar petróleo russo. Os aliados ocidentais aprovaram um teto para o preço do petróleo em dezembro, com o objetivo de impedir que a Rússia ganhe mais de US$ 60 por barril de petróleo bruto.

Além do petróleo, também foram impostas sanções ao gás russo. Em março do ano passado, a União Europeia informou que reduziria as importações do produto em dois terços ao longo de um ano. O Reino Unido, que importava apenas pequenas quantidades de gás russo, agora interrompeu as importações de vez.

Fora isso, os países ocidentais também congelaram cerca de US$ 324 bilhões das reservas cambiais do Banco Central da Rússia e bloquearam quase todas as transferências de tecnologia e vendas de bens e serviços de alta qualidade para o governo russo.

Porém, enquanto o conflito pegou o mundo de surpresa, apesar de todos os sinais emitidos por Vladimir Putin, este estava se preparando para as sanções que provavelmente viriam pela frente. Escolado pelas sanções impostas desde seu ataque inicial à Ucrânia em 2014, quando anexou a Crimeia, Putin estava preparado.

A prova disso é que o último relatório de perspectivas da economia mundial do FMI (Fundo Monetário Internacional), divulgado no fim de janeiro, prevê que a Rússia cresça 0,3% neste ano, o que representa uma melhora em relação à contração de -2,2% em 2022. Em outubro do ano passado, o fundo havia previsto que o país registraria contração de -2,3% para este ano. Ou seja, a Rússia continua mais forte que nunca.

Desde o início da guerra na Ucrânia, União Europeia comprou mais de US$ 146 bi em petróleo e gás russo

De acordo com reportagem produzida pela BBC, foi difícil para a Europa não depender do combustível vendido pela Rússia em um primeiro momento. Informações do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (Crea, na sigla em inglês) mostram que, desde o primeiro dia da invasão da Ucrânia, a União Europeia comprou mais US$ 146 bilhões pelo petróleo e gás russo.

Preparada desde a invasão de 2014, segundo a reportagem da BBC, a Rússia acumulou enormes reservas cambiais. Vendeu mais combustíveis fósseis do que nunca e usou os lucros para construir ainda mais oleodutos. Além disso, investiu em tecnologia ocidental, ativos e infraestrutura crítica, como instalações de armazenamento de gás e refinarias de petróleo na União Europeia.

Porém, o jornalista da BBC Alexey Kalmykov disse que, embora a Rússia tenha ganhado bilhões vendendo combustíveis fósseis para a Europa, as táticas de Putin podem ter validade apenas no curto prazo. “A maioria dos economistas concorda que dificilmente são sustentáveis como estratégia de longo prazo”, disse Kalmykov.

Estudo do Crea, Moscou está perdendo aproximadamente US$ 175 milhões por dia em exportações de combustíveis fósseis devido às sanções. Por outro lado, a Rússia encontrou novos clientes, entre os quais estão China, Índia e Turquia, que vêm comprando petróleo russo com grandes descontos, a um preço significativamente inferior ao petróleo Brent (referência mundial). Juntos, esses países respondem agora por 70% de todo o fluxo de petróleo russo transportado pelo mar.

Para efeito de comparação, o petróleo russo correspondia a menos de 2% das importações de petróleo da Índia. Porém, agora está a caminho de se tornar seu maior fornecedor individual. De mesmo modo, as importações chinesas da commodity também aumentaram no ano passado.

Dados do governo russo e da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) informam que o país conseguiu aumentar sua produção de petróleo em 2% durante 2022 — e seus ganhos com exportação em 20%, chegando a US$ 218 milhões.

Em resumo, com os preços do petróleo e do gás em alta após a invasão russa e o redirecionamento das exportações do governo russo, a queda nas vendas de combustível russo na Europa em 2022 não afetou as receitas do Kremlin.  Para especialistas, os impactos da guerra contra a Ucrânia só serão sentidos mesmo no longo prazo.

Redação ICL Economia
Com informações do portal G1

Fonte: BBC

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.