O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apontou, nesta sexta-feira (12), o viés do mercado financeiro para dar notas quando se trata de governos progressistas, como o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Estou falando de como o mercado reage aos mesmos indicadores. Um país que tem o mesmo indicador [desempenho] que o outro. Por que um recebe nota menor e outro maior, se é o mesmo indicador?”, questionou.
“Tem viés. […] Então temos que corrigir isso para que nós tenhamos uma sociedade melhor. E isso vale para tudo. Quando você estigmatiza, sempre é ruim. […] Você tem que se basear no que você tá vendo para combater esse tipo de viés”, acrescentou o ministro, que participou de congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em São Paulo.
Como exemplo, ele citou a avaliação feita pelas três principais agências de classificação de risco do mundo, a Moody’s, a S&P e a Fitch Ratings, sobre o Brasil.
Segundo o ministro, as três agências teriam confirmado a ele que, pelas métricas utilizadas por seus modelos de classificação de risco, o Brasil teria grau de investimento. “Mas eles diminuem a nota brasileira em função de percepções subjetivas”, disse.
Haddad também enfatizou a necessidade de ajustar o quadro fiscal do país, afirmando que ainda há “muita conta para pagar” deixada pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL).
“O Brasil, do ponto de vista fiscal, viveu duas pandemias. A pandemia propriamente dita e a eleição de 2022, que teve calote, passaram a mão no dinheiro dos governadores, abriram cofres para distribuir benefício … é uma confusão fiscal que nós vamos ter trabalho para pôr em ordem”, afirmou o ministro.
Também citou a renegociação que o governo Lula precisou fazer no ano passado para pagar aproximadamente R$ 27 bilhões aos estados, em função da perda de arrecadação com o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) de combustíveis.
“[O governo anterior] baixou artificialmente a inflação em 2022, baixando o preço da gasolina com o dinheiro dos estados. […] Fora o calote dos precatórios, que é outra conta. São muitas contas que estão sendo pagas”, acrescentou.
Sobre a alta recente do dólar, Haddad diz que “não via aderência aos indicadores brasileiros”
Sobre a disparada recente do dólar, em um movimento especulativo já explicado pelos economistas do ICL, Haddad disse que ficou “incomodado”. “Tinha um ‘diz-que-me-diz’ no mercado mesmo, e eu estava incomodado porque eu não estava vendo aderência aos indicadores brasileiros”, afirmou.
A respeito da má avaliação da economia feita pela população, Haddad afirmou que há uma grande desinformação e um trabalho ativo de defensores da oposição para “minar a credibilidade” dos dados econômicos.
“O que eu vejo nas redes é muito sério porque não bate com a realidade. […] Então tem aí um desafio comunicacional que não é fácil de superar. […] Temos uma oposição hoje que realmente atua para minar a credibilidade das instituições e do Estado brasileiro, e eles atuam diuturnamente nas redes sociais”, acrescentou.
Porém, pesquisa Quaest divulgada esta semana mostra uma melhora na avaliação do presidente Lula. Também aponta que a população não atribui a alta da divisa às críticas do petista ao Banco Central e ao presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
Para 53% dos entrevistados pela Quaest, as falas do presidente não provocaram o aumento recente da moeda norte-americana. Porém, outros 34% atribuem a falas do presidente a principal causa da valorização da divida, enquanto 13% não sabem ou não responderam.
Do total de entrevistados, 66% concordam com as críticas de Lula à política de juros do Banco Central, enquanto 23% deles não concordam e outros 11% não sabem ou não responderam. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos para mais ou para menos.
Entre os eleitores que votaram no petista no segundo turno da eleição presidencial em 2022, 77% concordam com as críticas. Entre os que votaram em Bolsonaro, o percentual é de 51% (a margem de erro nesses dois grupos é de 4 pontos percentuais).
Dívida dos estados
A respeito desse tema, Haddad comentou a proposta apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de renegociação sem reduzir o valor das dívidas, mas zerando o pagamento dos juros. O texto foi considerado uma “pauta-bomba” pela equipe econômica.
“O presidente [do Senado] Pacheco apresentou um texto diferente do [texto] apresentado pela Fazenda, com parâmetros que efetivamente destoam daquilo que nós imaginávamos. […] Nós combinamos de tentar junto ao relator para ajustar o texto”, afirmou Haddad.
“Precisamos fazer um jogo que acomode as contas estaduais sem prejudicar as contas nacionais. Esse é o meu ponto de vista. E o meu entendimento é que o projeto apresentado precisa passar por uma revisão”, completou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias