Um em cada cinco brasileiros jovens não estuda nem trabalha. Metade deles é de famílias pobres, segundo o IBGE

Do total de jovens que não estuda nem trabalha, 43,3% são de mulheres pretas ou pardas, seguidas por homens pretos ou pardos (24,3%), mulheres brancas (20,1%) e homens brancos (11,4%).
7 de dezembro de 2023

Um em cada cinco brasileiros na faixa etária dos 15 aos 29 anos (10,9 milhões) não estudava e nem estava ocupado em 2022, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Desse total, metade é das famílias mais pobres do país.

Segundo o IBGE, que mapeou pela primeira vez os chamados “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) por faixa de renda, entre os 10% mais ricos (renda média per capita é de R$ 6.448), apenas 7,1% dos brasileiros de 15 a 29 anos estão nesta situação. Na baixa renda, houve piora nos últimos anos.

Já nos lares que representam os 10% dos domicílios mais pobres do Brasil, 49,3% dos moradores dessa faixa etária não estavam estudando nem trabalhando no ano passado. São famílias nas quais a renda domiciliar per capita média é de R$ 163 por mês.

IBGE

“O indicador inclui simultaneamente os jovens que não estudavam e estavam desocupados, que buscavam uma ocupação e estavam disponíveis para trabalhar, e aqueles que não estudavam e estavam fora da força de trabalho, ou seja, que não tomaram providências para conseguir trabalho ou tomaram e não estavam disponíveis”, explicou Denise Guichard, analista da pesquisa.

A pesquisadora do IBGE disse que essa é uma medida mais rigorosa de vulnerabilidade juvenil do que a taxa de desocupação, pois abrange aqueles que não estavam ganhando experiência laboral nem qualificação, possivelmente comprometendo suas possibilidades ocupacionais futuras.

Enquanto na baixa renda houve melhora ao longo dos anos, na outra ponta a situação piorou. Nos 10% de famílias mais ricas, 8,4% dos jovens naquela faixa etária não estudavam nem trabalhavam em 2012 (agora são 7,1%), enquanto nos estratos de renda mais baixa, saltou de 41,9% em 2012 para os 49,3% do ano passado.

No ano passado, o relatório Education at a Glance 2022, da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostrava que o Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham (36%), abaixo apenas da África do Sul. Ao todo, o documento analisou dados de 37 países.

Além disso, os jovens brasileiros estão entre os que permanecem mais tempo nessa condição: cerca de 50% deles ficam pelo menos 12 meses sem trabalhar e estudar.

Apesar disso, os dados do IBGE são o melhor da série histórica iniciada em 2012. Enquanto cerca de 22% dos jovens de 15 a 29 anos no Brasil não estudavam nem estavam ocupados em 2022, em termos percentuais, é o melhor resultado desde 2014, quando eram 21,7% nessa situação.

IBGE: no recorte por gênero e raça, jovens pretas ou pardas são a maioria dos “nem-nem”

Do total de jovens que não estuda nem trabalha, 43,3% são de mulheres pretas ou pardas, seguidas por homens pretos ou pardos (24,3%). Na retaguarda, aparecem as mulheres brancas (20,1%) e os homens brancos (11,4%).

Entre as causas estão maternidade precoce, os afazeres domésticos e a necessidade de cuidar de parentes, o chamado trabalho invisível, que impacta mais o gênero feminino.

O estudo mostra ainda que, no período do governo de Jair Bolsonaro (entre 2019 e 2022), o Brasil não avançou na meta de universalização da educação infantil

Os dados do módulo anual de educação da PNAD Contínua indicam que, naquele período, o único grupo etário que manteve sua frequência escolar em trajetória de crescimento foi o de 15 a 17 anos, passando de 89,0% para 92,2%, mas ainda aquém da universalização, conforme previsto na Meta 3 do Plano Nacional de Educação (PNE).

O acesso à creche das crianças de 0 a 3 anos manteve-se estatisticamente estável entre 2019 e 2022 (variando de 35,5% para 36,0%), interrompendo a expansão na cobertura de oferta de ensino para essa faixa etária, que foi verificada no período anterior a 2019.

A frequência escolar do grupo de 4 e 5 anos, no início da obrigatoriedade da educação básica, caiu 1,2 ponto percentual entre 2019 e 2022, passando de 92,7% para 91,5%.

“Esses resultados indicam que a pandemia de Covid-19 prejudicou a garantia de acesso à escola. Esse prejuízo ainda não foi revertido em 2022, mais de dois anos depois dos primeiros casos de Covid no Brasil”, avalia Betina Fresneda, analista da pesquisa.

Confira abaixo os dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE:

  • Entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,9 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022, o equivalente a 22,3%, ou um em cada cinco integrantes deste grupo etário.
  • Desse total, 61,2% eram pobres. Entre esses jovens pobres que não estudavam nem estavam ocupados pobres, 47,8% eram mulheres pretas ou pardas.
  • No universo geral dos “nem-nem” da pesquisa, 43,3% eram mulheres pretas ou pardas, 24,3% eram homens pretos ou pardos, 20,1% eram mulheres brancas e 11,4% eram homens brancos.
  • No ano passado, 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem gostariam de trabalhar. Entre esses jovens, 2,0 milhões eram mulheres cuidando de parentes e dos afazeres domésticos.
  • Entre 2019 e 2022, Brasil não avançou na meta de universalização da educação infantil. A frequência escolar das crianças com 4 e 5 anos de idade (no início da obrigatoriedade da educação básica) recuou 1,2 ponto percentual no período, passando de 92,7% para 91,5%.
  • A frequência escolar na etapa adequada das crianças de 6 anos, que deveriam ter ingressado no ensino fundamental, caiu de 81,8% em 2019 para 69,0% em 2022.
  • O percentual de crianças consideradas alfabetizadas no 2º ano do ensino fundamental recuou dos 60,3% em 2019 para 43,6% em 2021.
  • A proporção de brasileiros com 25 a 64 anos de idade que não concluíram a educação básica obrigatória (41,5%) é mais que o dobro da média de países da OCDE (20,1%).

Redação ICL Economia
Com informações da Agência de Notícias do IBGE

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