O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil e, devido à catástrofe climática que assola o estado, a importação de arroz será usada pelo governo como estratégia para formar estoques e, assim, evitar inflação de alimentos.
Ontem (7), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai editar uma MP (Medida Provisória) para viabilizar a importação de até 1 milhão de toneladas do produto para suprir as perdas provocadas pelas inundações no estado gaúcho, que responde por 70% da produção nacional do cereal.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o objetivo é evitar que haja especulação sobre o preço do produto, com aumento para o consumidor. A compra deverá ser feita pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
“O Rio Grande do Sul detém 70% da produção de arroz do Brasil. Tivemos perdas de arroz que estava nos armazéns alagados. Além disso, a grande dificuldade é a logística, tirar o arroz do Rio Grande do Sul e levar para o centro de distribuição. Está sendo preparada MP (medida provisória) autorizando a Conab a fazer compras na ordem de 1 milhão de toneladas”, disse Fávaro, após reunião sobre a tragédia, no Palácio do Planalto.
Fávaro participou ontem da primeira reunião ampliada com a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) e mais de 100 sindicatos rurais do estado por meio de videoconferência.
O encontro com os representantes da agropecuária gaúcha será realizado a cada dois dias para que as informações sejam constantemente atualizadas.
Economista da Farsul, Antonio da Luz apresentou um panorama dos impactos no estado que, de forma excepcional, atingiram todos os setores. No agro, algumas fazendas foram completamente destruídas e, de acordo com ele, apesar da maior parte da safra de arroz já ter sido colhida, os silos onde a produção está armazenada também foram atingidos pelas enchentes.
De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Silveira Pereira, o estado possui quantidade suficiente do produto. Ele detalhou ainda que a diretoria da federação está se reunindo diariamente para avaliar os impactos no setor.
Importação de arroz pode ajudar a frear alta dos alimentos. Especialistas calculam impacto de até 0,2 p.p. na inflação
Analistas estimam que a escassez de oferta de arroz pode impactar os preços e, consequentemente, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação, entre 0,1 e 0,2 ponto percentual.
A previsão neste ano era de uma safra de 7,4 milhões de toneladas de arroz, em cálculo feito antes das chuvas. O mercado brasileiro de arroz é relativamente ajustado, e a produção nacional se aproxima do consumo doméstico, que, anualmente, é de cerca de 10 milhões de toneladas.
Para reabastecer estoques em períodos de chuva excessiva ou de secas, que afetam o plantio, o Brasil importa cerca de 1 milhão de toneladas por ano. A maior parte vem do Paraguai, que entra por terra pelo Mato Grosso do Sul.
O ministro frisou que o produto importado não será vendido a atacadistas para não prejudicar agricultores. O arroz será direcionado a mercados de bairros periféricos das grandes cidades.
“Não é para concorrer, não vai comprar arroz e vender para os atacadistas. É para evitar desabastecimento”, disse.
Inicialmente, serão importadas 200 mil toneladas de arroz descascado e empacotado. “Se formos rápidos na importação, evitamos o aumento (de preços)”, enfatizou Fávaro.
Antes do anúncio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia defendido, em entrevista a rádios, a importação do produto.
“Agora com a chuva, acho que nós atrasamos de vez a colheita [do arroz] do Rio Grande do Sul. Se for o caso, para equilibrar a produção, a gente vai ter que importar arroz, a gente vai ter que importar feijão, para que a gente coloque na mesa do povo brasileiro um preço compatível com aquilo que ele ganha”, falou Lula.
Dívidas de produtores rurais
O presidente da Farsul disse que o setor também está pleiteando a suspensão de dívidas de produtores rurais e que o governo crie linhas de crédito com o Tesouro Nacional como garantidor com juros mais baixos.
Segundo ele, o efeito da catástrofe climática na soja preocupa. O estado é o segundo maior produtor do grão no país.
“O Rio Grande do Sul inteiro tem soja hoje, e não é só uma questão para as áreas alagadas. Nossa preocupação é que, se seguir chovendo, a produção de soja começa a se deteriorar, ela perde qualidade”, frisou.
No norte do estado, que concentra a produção de animais, a preocupação é logística, segundo ele. O bloqueio de estradas e queda de pontes afeta o escoamento da produção de leite e o envio de animais para o abate, mas também a chegada de ração.
” Preocupa-me como será a recomposição da logística porque nós estamos parados. O estado parou. O porto parou. E estamos sem combustível”, lamentou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e O Globo