Uma análise feita pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), divulgada ontem (27), mostra que mais de 80% dos incêndios que assolaram o estado de São Paulo nos últimos dias aconteceu em áreas de uso agropecuário e a intensa cortina de fumaça que tomou conta de dezenas de municípios se formou em apenas 90 minutos.
A Defesa Civil do estado de São Paulo apontou que todos os 2,6 mil focos de calor que surgiram desde a sexta-feira passada (23) já foram controlados. Porém, enquanto as investigações buscam os culpados, o órgão apontou risco de incêndios para boa parte do território do estado nos próximos dias.
Segundo as informações oficiais, a partir desta quarta-feira 28 a possibilidade de fogo vai aumentando a ponto de, no domingo (1º/9), haver um alerta de risco máximo para praticamente todas as regiões. O risco de incêndios é dividido em quatro graus: baixo, alto, alerta e emergência – este último, o mais alto.
Na última sexta-feira, o número de queimadas em São Paulo superou a quantidade de incêndios na Amazônia inteira. Tanto que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sugeriu a hipótese de um “dia de fogo”, ou seja, de ações orquestradas por criminosos, para explicar a “atípica” situação, como definiu.
Ao jornal O Globo, a diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar, disse a ocorrência está longe de ser normal. “Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um ‘dia do fogo’ exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, explicou.
Agropecuária do estado foi fortemente impactada por incêndios
As áreas afetadas pelos incêndios são divididas da seguinte forma:
- 44,45%: Cultivo de cana-de-açúcar
- 19,99%: mosaico de usos (pasto e/ou agricultura)
- 16,77%: vegetação nativa
- 9,42%: pastagens
- 7,43%: silvicultura, soja, citrus, café e outras lavouras
- Das queimadas em vegetação nativa, as formações florestais foram as mais afetadas (13,57% dos focos de calor).
Até ontem, 48 municípios do estado permaneciam em alerta máximo, segundo a Defesa Civil. Dados do governo do estado apontam que os prejuízos com as queimadas já chegam a R$ 1 bilhão.
Entre os principais impactos para a agropecuária estão:
- Alta do açúcar na bolsa: os incêndios queimaram milhares de hectares de canaviais no Brasil, o maior produtor de açúcar do mundo. Às 11h23 de ontem (27), os contratos futuros do açúcar bruto saltavam 1,68% na bolsa de Nova York, cotados a US$ 19,36. No dia anterior, o açúcar bruto fechou em alta de 3,5%, a US$ 19,04 por libra-peso, após os incêndios.
- Etanol: as queimadas deverão impactar também os preços do etanol no próximo ciclo, segundo a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil).
- Canaviais: o estado de São Paulo responde por cerca de metade do plantio de cana do Brasil. Segundo a Orplana, o fogo atingiu mais de 1% das lavouras paulistas, com prejuízo estimado em R$ 350 milhões.
A São Martinho SA e a Raízen SA, duas das maiores produtoras de cana-de-açúcar do Brasil, estimaram os prejuízos com os incêndios em cerca de 20 mil hectares atingidos.
Segundo a São Martinho, a estimativa é que a redução tenha sido de 110 mil toneladas de açúcar, que será compensada por um aumento proporcional na produção de etanol.
Pacote ao produtor afetado
O governo de São Paulo lançou no domingo passado (25) um pacote de ações no total de R$ 100 milhões destinado aos produtores rurais atingidos pelos incêndios florestais.
Cada produtor afetado terá acesso a R$ 50 mil, com juro zero, para custos emergenciais, como despesas de manutenção e recuperação da produção. Além disso, qualquer produtor prejudicado possui direito à subvenção ao seguro rural. O valor disponibilizado este ano é de R$ 100 milhões.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e CNN