Indústria de transformação precisa de quase R$ 500 bi por ano para retomar vigor de seus tempos de glória

Estudo inédito da Fiesp traça um panorama do setor, que teve seu maior vigor na década de 1970. Para economista do ICL André Campedelli, valor parece alto, mas é o mesmo exigido pelo agronegócio todos os anos
3 de outubro de 2023

Para desenvolver a indústria de transformação e retomar o patamar de produtividade da década de 1970, o Brasil precisaria fazer um investimento anual de R$ 456 bilhões, por um período de sete a 10 anos. É o que mostra estudo inédito feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

De acordo com o estudo, foi naquela década que o Brasil chegou no patamar mais próximo da produtividade da indústria norte-americana (55%).

Esse número hoje está em torno de 20%, e o Brasil investe aproximadamente 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) na indústria da transformação, quando seriam necessários 4,6%.

O estudo mostra como o setor perdeu investimento ao longo dos anos, com fortes prejuízos tanto tecnológico quanto para a capacitação de mão de obra.

O economista André Campedelli. Crédito: reprodução

O estudo foi abordado na edição, desta terça-feira (3), do ICL Mercado e Investimentos. O economista André Campedelli comentou que o valor necessário parece alto, mas não é tanto. “Sabe quem consome da gente cerca de R$ 500 bilhões quase todo ano em questão de investimento, de incentivo e tudo mais? A agropecuária. Ou seja, se dessem os mesmos incentivos da agropecuária para a indústria, em alguns anos a gente teria uma indústria competitiva, mas o agro é pop”, observou.

Segundo o economista do ICL, na própria imprensa há uma campanha pró agro, mostrando que esse setor, sim, representa a iniciativa privada do país “porque eles crescem sem nenhum incentivo governamental”, o que, na visão de Campedelli, é uma distorção, afinal, o agro recebe muitos incentivos e investimentos. “O setor industrial é muito importante para o desenvolvimento econômico e social de um país. A gente precisaria ter uma indústria mais competitiva”, disse.

O próprio estudo enfatiza a fala de Campedelli, ao mostrar que a indústria de transformação é estratégica para o desenvolvimento do país porque desempenha um papel de fortalecimento de todo o setor produtivo brasileiro, especialmente com seus investimentos em tecnologia e inovação.

Isso porque essa indústria realiza a transformação de matéria-prima em um produto final ou intermediário, que vai ser novamente modificado por outra indústria. Ou seja, é um motor para toda a cadeia industrial.

Investimento na indústria de transformação vem sofrendo quedas brutais com o passar dos anos

Em 2021, os investimentos na indústria de transformação correspondiam a apenas 12,9% do total de investimento aplicados no Brasil. O valor mais alto ocorreu em 2007, quando atingiu 21%.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o coordenador do estudo, o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, ressaltou que o quadro atual da indústria da transformação no país é grave. “Estamos lascados na infraestrutura e também na indústria”, diz Rocha. “É brutal a queda”, ressaltou.

Só para cobrir a depreciação dos ativos dos investimentos feitos no passado, que ocorre com o passar dos anos, é necessário investir pelo menos 2,7% do PIB. Ou seja, o nível de investimento atual não é suficiente nem para recuperar o que já está depreciado.

Rocha explicou que o estudo foi inspirado em dados divulgados pela Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), que mostram como está o investimento na infraestrutura e quanto teria de ser o investimento para suprir os gargalos nos mais diversos segmentos para cobrir a depreciação. O pedido partiu do presidente da Fiesp, Josué Gomes.

Ao Estadão, o economista disse que um dos “achados” do estudo é o apontamento de como a evolução do setor de fabricação de derivados de petróleo e combustíveis acabou distorcendo os dados globais, sobretudo na época anterior a 2016, quando os investimentos eram maiores.

“O cenário é ainda pior desconsiderando a fabricação de coque [combustível sólido obtido a partir da destilação do carvão mineral], de produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis”, relatou Rocha.

O estudo também revelou as mudanças que vêm ocorrendo a partir de 2017. Entre 1996 e 2000, por exemplo, o segmento de petróleo e combustível teve uma participação de 9,2%, valor que subiu para 32,2% nos anos de 2017 a 2021.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu um plano de reindustrialização no país, com foco na transição energética e descarbonização. O plano deve ser divulgado entre outubro e novembro deste ano.

Redação ICL Economia

Com informações das agências de notícias e de O Estado de S.Paulo

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