Durante sua entrevista ao Jornal Nacional, na noite de ontem (25), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à eleição presidencial deste ano pelo PT, citou os prejuízos da Lava Jato ao país, como redução de empregos, investimentos e quebra de grandes empresas importantes para o funcionamento da engrenagem econômica brasileira. Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) corrobora a fala do petista.
Na entrevista, Lula citou o fato de que outras operações similares ao redor do mundo não trouxeram os mesmos prejuízos que a Lava Jato trouxe, prejudicando municípios brasileiros que tinham nas obras promovidas por essas empresas sua principal fonte de receitas. Para Lula, a investigação deve punir os corruptos, os empresários, mas não quebrar empresas.
De acordo com o estudo do Dieese, denominado “Implicações Econômicas Intersetoriais da Operação Lava Jato”, a operação custou custou 4,4 milhão de empregos e 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto). Além disso, o Brasil deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões de impostos e R$ 20,3 bilhões em contribuições sobre a folha, além de ter reduzido a massa salarial do país em R$ 85,8 bilhões.
Além disso, o estudo – que usou dados de órgãos oficiais, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – indica que a operação afetou os setores envolvidos diretamente (petróleo e gás e construção civil), mas também uma gama importante de outros segmentos, afetados indiretamente. “A operação teve impacto político e também no desenvolvimento de setores econômicos estratégicos para o país”, diz o estudo.
Os dados foram avaliados durante o período de 2014 a 2017, sendo este o último ano disponível das Contas Nacionais/IBGE consolidadas; dados mais completos no momento da pesquisa. O estudo foi divulgado em 16 de março de 2021.
Outro levantamento, realizado por cinco anos pelo site Poder 360, analisou os dados de seis anos, até 2020, das 12 empresas envolvidas na operação – Odebrecht, Petrobras, UTC, Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa, Mendez Júnior, Queiróz Galvão, OAS, Carioca Engenharia, Nova Engevix e Techint Engenharia. A reportagem constatou que elas tiveram, conjuntamente, queda de faturamento de R$ 563 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Desse montante, R$ 272 bilhões referem-se à Odebrecht e R$ 148 bilhões à Petrobras.
Para fazer o cálculo, a reportagem levou em consideração o maior faturamento registrado antes do início das investigações, em 2014, ou logo em seguida, quando os contratos anteriores ainda estavam em vigor.
Com a operação, foram eliminadas 206,6 mil vagas de trabalho nas empresas. A conta refere-se ao máximo de empregados que havia antes da operação Lava Jato e ao que as empresas passaram a ter.
Além disso, a União deixou de receber das empresas investigadas pela Lava Jato menos impostos, como consequência da perda de faturamento. A redução na receita de impostos em relação ao máximo registrado é de R$ 41,3 bilhões, em valores corrigidos pelo IPCA até maio de 2021.
Lula erra números na entrevista, mas acerta ao apontar prejuízos da Lava Jato ao Brasil
Terceiro presidenciável entrevistado pelo Jornal Nacional, o ex-presidente Lula foi questionado pelo jornalista William Bonner a respeito da devolução de valores por condenados pela operação por corrupção na Petrobras. Em resposta, Lula afirmou que a Lava Jato trouxe prejuízos aos cofres públicos.
“Vamos olhar os prejuízos que foram dados. Por conta da Lava Jato, nós tivemos 4,4 milhões desempregados nesse país. Por conta da Lava Jato, tivemos R$ 270 bilhões que deixaram de ser investidos nesse país. Por conta da Lava Jato, a gente deixou de arrecadar R$ 58 bilhões”, disse.
Embora tenha errado alguns números, críticos da Lava Jato concordam com a fala de Lula. Eles veem a operação como um dano econômico e avaliam que as condenações foram muito maior do que o necessário, caso se tivesse optado por preservar, nas empresas investigadas, os negócios isentos de suspeitas de ilegalidades.
Muitas das empresas implicadas na operação tiveram que abandonar obras não relacionadas às investigações sobre corrupção em contratos com a Petrobras, pois passaram a ter restrições de contratação por governos ou dificuldade de financiamento.
Já os defensores da operação argumentam que os benefícios econômicos das investigações provavelmente superam as perdas, por melhorarem o ambiente de negócios no país. Contudo, não há um cálculo sobre isso.
De modo geral, é necessário avaliar dois aspectos. O Brasil vem enfrentando anos de queda do PIB (Produto Interno Bruto) e a situação econômica é vista como causa de parte das dificuldades enfrentadas pelas empresas.
Por outro lado, a situação das empresas envolvidas na operação teria influenciado negativamente nos indicadores de investimento e consumo no país, agravando a recessão. Nesse caso, considera-se a Lava Jato parte da causa da recessão.
Não se pode deixar de lado, também, o efeito do atual governo no ambiente de negócios. A artilharia pesada constantemente disparada pelo presidente Jair Bolsonaro, com ameaças constantes à democracia e às instituições democráticas, prejudica o ambiente de negócios no Brasil.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias