Lockdown chinês freia economia global e Brasil já sente reflexos com falta de produtos

A política chinesa contra a Covid deve desacelerar a economia global para algo em torno de 3%, número considerado ruim para o PIB global
16 de maio de 2022

A política de tolerância zero na China contra a Covid-19, com lockdowns espalhados pelo país, acenderam o alerta para a redução da atividade, com impacto na economia global. Cidades completamente fechadas significam redução das importações e inviabilizam as exportações – sobretudo de bens industriais – , o que pode pressionar ainda mais a inflação pelo mundo.

No Brasil, a dificuldade de importar produtos da China, principalmente insumos para a indústria, se reflete na falta de produtos e nos preços, contribuindo para manter a inflação em alta.

Apenas com o lockdown em Xangai, estima-se que a venda de carros na China tenha despencado 48% em abril, na comparação com igual período de 2021. A cidade é responsável por 3,8% do PIB chinês, mas tem o maior porto de contêineres do mundo. Em abril, a Apple informou que a situação na China pode lhe custar entre US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões em vendas perdidas.

Economia global está sendo impactada pela desaceleração da China

As vendas no varejo na China recuaram 11,1% na comparação anual de abril, informou nesta segunda-feira (16) o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, pela sigla em inglês). A contração superou a expectativa de economistas consultados pelo The Wall Street Journal, que esperavam queda de 5,4%. O resultado também foi pior do que o apurado em março, negativo em 3,5%, causando impacto na economia global.

A produção industrial da China caiu em abril, com recuo de 2,9% na comparação anual. O dado foi inferior ao crescimento de 1,0% previsto pelo mercado e à expansão de 5,0% vista em março.

Por sua vez, o investimento em ativos fixos aumentou 6,8% no período de janeiro a abril, desacelerando em relação ao ritmo de 9,3% registrado no primeiro trimestre. Economistas esperavam alta de 7,2% no critério na comparação interanual.

O desemprego urbano subiu para 6,1%, um pouco abaixo da alta histórica de 6,2% registrada em fevereiro de 2020, quando a economia do país foi atingida pelos surtos iniciais de Covid-19.

Diante do cenário, bancos estão revendo a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) para a China de 5% para 4,6%. Somado aos impactos da guerra na Ucrânia e da alta dos juros nos EUA, a política chinesa contra a covid deve desacelerar a economia global para algo em torno de 3% (número considerado ruim para o PIB global). Na avaliação de alguns economistas consultados, a pressão inflacionária da interrupção das cadeias de produção chinesas também pode levar o Fed (banco central dos EUA) a elevar mais rapidamente os juros, reforçando a desaceleração global.

No Brasil, já há reflexos nos custos dos produtos vindos de fora. Em abril, os preços das importações, em dólares, subiram 34,4%, com recuo de 6,9% nas quantidades. Em março, os preços já tinham aumentado 29,5%.

Em algumas empresas, o efeito do lockdown chinês já é sentido. A Ecosan, fabricante de equipamentos para tratamento de efluentes domésticos e industriais, importa da China componentes como chapas de inox e produtos químicos para o tratamento de água e recuperação de efluentes. Normalmente, os bens levavam de 45 a 60 dias para chegar ao Brasil, prazo que passou a cem dias após a pandemia.

Já a indústria farmacêutica contabiliza um atraso de cerca de 20 dias na entrega de matérias-primas compradas da China. No varejo, os problemas de fornecimento também são vistos no comércio. As lojas da Rua 25 de Março, centro de comércio popular de São Paulo, começam a sentir a falta de alguns campeões de venda, como os carrinhos Hot Wheels.

O problema só não é ainda tão preocupante porque, neste momento, a demanda não está tão aquecida. Em suas contas, a demanda nas lojas da região ainda está cerca de 25% abaixo do período de pré-pandemia.

Redação ICL Economia

Com informações do Estadão Conteúdo

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