Presidente da Marisa renuncia após rede varejista comunicar dívida de R$ 600 milhões

Depois do escândalo envolvendo a Americanas, varejista de moda é a segunda a revelar problemas financeiros. Ontem, as ações da companhia fecharam o pregão com queda de 6,19%, sendo cada papel cotado a R$ 1,06
9 de fevereiro de 2023

Depois do escândalo envolvendo a rede Americanas, que entrou em processo de recuperação judicial após declarar um rombo de quase R$ 50 bilhões, agora é a vez de outra varejista ficar no centro dos holofotes. Na terça-feira à noite (7), a loja Marisa, do varejo de moda, divulgou em fato relevante a renúncia do presidente-executivo Adalberto Pereira Santos e do membro independente do conselho de administração Marcelo Adriano Casarin.

O ex-CEO estava na varejista havia pouco mais de oito anos, conforme divulgado na rede social Linkedin, mas estava no comando desde março do ano passado. Vice-presidente comercial da Marisa, Alberto Kohn de Penhas vai assumir a presidência executiva de maneira interina, enquanto a companhia seleciona um novo presidente. Para o lugar de Casarin, também será nomeado um substituto.

No fato relevante, a Marisa afirmou ter contratado a BR Partners para assessorá-la no processo de renegociação de seu endividamento financeiro e a Galeazzi Associados para “apoiá-la no aperfeiçoamento da estrutura de custos”, o que pode significar muitos cortes de empregos, um instrumento bastante utilizado pela Galeazzi em seus processos de reestruturação.

No fim de setembro, a varejista de moda somava uma dívida líquida ajustada de R$ 566,1 milhões, de acordo com o balanço do terceiro trimestre da varejista. Já o patrimônio líquido da empresa atingia R$ 974 milhões.

No período, a Marisa teve receita líquida de R$ 632,4 milhões (somando as operações de varejo e a do Mbank, a plataforma de serviços financeiros), e prejuízo de R$ 97,5 milhões. A divulgação dos resultados do quarto trimestre está prevista para 15 de março.

Na teleconferência de resultados do terceiro trimestre, em 11 de novembro do ano passado, Santos havia reclamado do custo do funding (captação de recursos de terceiros) e do aumento da inadimplência como fatores para o maior endividamento no período (alta de 7,9% na comparação anual).

Ontem, as ações da companhia fecharam o pregão com queda de 6,19%, sendo cada papel cotado a R$ 1,06.

Lojas Marisa registram perda líquida de R$ 48,3 milhões nas operações com o cartão próprio

Em 10 de janeiro passado, o mercado se surpreendeu quando a Americanas veio a público comunicar a saída do CEO Sérgio Rial do cargo, a pedido dele, ocasião em que também informou ter encontrado “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões. Contudo, com o passar dos dias, foi revelado que o rombo, na verdade, era muito maior, na casa dos R$ 47,9 bilhões, sendo a maior parte dos credores bancos públicos e privados. A partir daí, a empresa entrou em uma bola de neve ladeira abaixo, entrando em um processo de recuperação judicial e desvalorização histórica dos papéis da varejista na bolsa.

Menor que a primeira, a Marisa, ao menos até agora, traz menos impacto ao mercado. Contudo, o imbróglio envolvendo as duas varejistas coloca uma pulga atrás da orelha a respeito da saúde financeira das empresas com ações negociadas em bolsa. O rombo da Americanas, por exemplo, surpreendeu a todos, até mesmo o trio de bilionários que detém a maior parte das ações: Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, donos da 3G. Os três afirmam que não sabiam do rombo que Sérgio Rial descobriu em apenas 10 dias no cargo.

No caso da Marisa, uma série de fatores levou a empresa à situação atual. A perda líquida de recuperações no cartão da loja disparou 281% entre o segundo e o terceiro trimestre do ano passado, chegando a R$ 48,3 milhões. O indicador mede o quanto o banco perde efetivamente, já descontado o que consegue recuperar de empréstimos atrasados.

Para piorar o cenário, a taxa básica de juros (Selic) no patamar de 13,75% ao ano encarece as dívidas, tornando mais difícil para as empresas sanearem o caixa, principalmente aquelas que, como a Marisa, financiam as compras dos consumidores.

Agora, resta saber o caminho que será adotado pela Marisa para sair do imbróglio financeiro, uma vez que, conforme tem sido ventilado no mercado, a história da Americanas trouxe regras mais duras para concessão de crédito.

O Itaú, um dos maiores credores da Americanas, incluiu em seu balanço a dívida da empresa como “perda total”. Não que isso tenha afetado o resultado do banco. No quarto trimestre, a instituição registrou lucro líquido de R$ 7,668 bilhões, o que representa um aumento de 7,1% em relação ao mesmo período de 2021. Mas, não fosse o efeito da provisão do caso Americanas, o resultado do banco teria sido de R$ 8,4 bilhões.

Apesar disso tudo, o Itaú Unibanco concluiu que a fraude envolvendo a Americanas se trata de um caso isolado. Isso significa que o problema na rede varejista não afetou o apetite do banco para conceder novos financiamentos.

“Paramos em um primeiro momento para olhar [a carteira de crédito do banco] e não encontramos caso semelhante. Então não tem efeito contaminação”, disse Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (8).

A Marisa soma mais de 340 lojas em todas as regiões do país. Com o slogan “De Mulher para Mulher”, criado nos anos 1980, a varejista é voltada, em especial, para o público das classes B e C.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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