A desigualdade de renda aumentou nas regiões metropolitanas do Brasil. Dados da 12ª edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles mostram que os mais ricos encerraram 2022 ganhando 31 vezes o salário dos mais pobres nas regiões metropolitanas do país. As médias são: 40% mais pobres (R$ 253,95 per capita), 50% intermediários (R$ 1.530,96 per capita), 10% mais ricos (R$ 7.933,66 per capita). Na média geral, a renda per capita fica em R$ 1.644,00. O valor representa o retorno dos salários aos níveis pré-pandemia de Covid-19, ficando abaixo apenas dos R$ 1.666 registrados em 2019, que é o maior registro da série histórica. Estudo anterior do Boletim Desigualdade nas Metrópoles apontou que o impacto da pandemia foi maior na renda dos mais pobres das metrópoles do país.
O boletim sobre os mais pobres é produzido em parceria por pesquisadores do Observatório das Metrópoles, do Laboratório PUCRS-Data Social e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE.
No índice de rendimentos, são considerados os ganhos por meio do trabalho. Não são levados em conta, portanto, recursos recebidos em benefícios como o Auxílio Brasil – adotado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e substituído pelo novo Bolsa Família em 2023, após Lula (PT) assumir a Presidência da República.
A média geral de renda – considerando todos os grupos – chegou a R$ 1.644 em 2022, uma alta de 12,29% em relação a 2021, quando encerrou o ano em R$ 1.464.
A renda está em ritmo de alta desde o primeiro trimestre de 2022, após quedas expressivas entre 2020 e 2021, no pico da pandemia. O avanço, no entanto, é perceptível entre os mais ricos, enquanto os rendimentos dos mais pobres caminharam praticamente de lado no período.
Os aumentos médios na remuneração no último trimestre de 2022 em comparação com a mesma janela de 2021 foi de alta de 11,88% para os 40% mais pobres (R$ 226,98 para R$ 253,95), alta de 12,25% para os 50% intermediários (R$ 1.363,81 para R$ 1.530,96) e alta de 14,75% para os 10% mais ricos: R$ 6.913,40 para R$ 7.933,66).
Estudo mostra que a inflação atingiu com força os mais pobres
É importante destacar que o poder de compra de todas as parcelas da população foi corroído pelo aumento da inflação, que fechou 2022 com um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 5,79% – atingindo com mais força justamente com os mais pobres.
Para a reportagem publicada no G1, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Ribeiro, também coordenador do estudo, explicou que o grupo dos mais pobres é justamente o mais desprotegido no mercado de trabalho – por estar inserido, em geral, na informalidade –, o que dificulta a recuperação salarial dessa parcela da população.
A curva observada na variação da renda dessa população mostra que, desde o fim de 2021, o avanço ocorre a passos lentos. Apesar de retomar nível próximo ao de meados de 2019, os rendimentos mensais seguem bastante defasados em relação ao pico registrado entre 2013 e 2014, quando chegou a R$ 325,76.
“Após a pandemia, foi o primeiro grupo a voltar ao mercado de trabalho, o que possibilitou o aumento de renda. Mas tem sido um crescimento cada vez menor. Então, a capacidade de elevar os ganhos não tem sido tão grande quanto dos outros grupos”, continua Marcelo Ribeiro.
Na reportagem publicada pelo G1, o professor da PUC-RS, André Salata, explica que os dados consolidados de 2022 indicam que o processo de recuperação salarial desse grupo está perdendo tração, chegando ao pico.
Os pesquisadores sugerem que o poder público adote ações que, segundo eles, podem ajudar na retomada da renda dessa população pelo menos ao nível registrado entre 2013 e 2014 – uma meta que, para os professores, é factível.
Entre as iniciativas, ele sugerem a ampliação de investimentos públicos para criação de vagas de emprego – especialmente em áreas que demandem mão de obra menos qualificada, como obras de infraestrutura e construção civil e a retomada da política de aumento real (ou seja, acima da inflação) do salário mínimo.
Os dados do estudo tratam exclusivamente de rendimentos garantidos por meio do trabalho, mas os pesquisadores dizem que as políticas de transferência de renda também trazem efeitos significativos nesse cenário.
Ele explica que esses benefícios incentivam o consumo – o que, em termos simples, é capaz de dinamizar a economia e gerar empregos, melhorando a capacidade de distribuição de renda e, consequentemente, a situação dessa parcela da população.
O estudo também mostra as discrepâncias macrorregionais brasileiras, com as regiões Norte e Nordeste concentrando os menores níveis de renda média domiciliar per capita do país. Os salários das regiões ficam abaixo da média nacional.
Os patamares mais baixos foram registrados nas regiões metropolitanas de: Maceió (R$ 963,00), Recife (R$ 979,00), Fortaleza (R$ 1.001,00), Manaus (R$ 1.023,00), São Luís (R$ 1.033,00).
Na outra ponta, com maiores níveis de rendimento médio, ficaram as regiões metropolitanas de: Distrito Federal (R$ 2.438,00), Florianópolis (R$ 2.168,00), . São Paulo (R$ 2.052,00), Curitiba (R$ 1.813,00), Porto Alegre (R$ 1.788,00).
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1