Ministro de Minas e Energia manda investigar causas do apagão. Relação com privatização da Eletrobras deve ser considerada

Para o fundador do ICL, o economista Eduardo Moreira, causas podem ter relação com a privatização da Eletrobras.
16 de agosto de 2023

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou ontem (15) que o apagão que deixou 25 estados e o Distrito Federal sem energia no período da manhã foi evento “extremamente raro” e que “não tem nada a ver com a segurança energética do Brasil”. Ele também anunciou que vai pedir ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal e à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que investiguem as causas do apagão.

“Para acontecer um evento dessa magnitude, nós temos que ter tido dois eventos concomitantes em linhas de transmissão de alta capacidade”, disse o ministro. “Um dos eventos já apontados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) aconteceu no Norte do Nordeste, mais precisamente na região do Ceará. O outro evento possível ainda não está detectado pelo ONS”, completou Silveira.

“Houve sobrecarga no Ceará, o que fez o sistema entrar em colapso na região, com uma perda abrupta na carga. A ONS reagiu, modulou a carga para Sul e Sudeste e fez a carga ser reduzida para proteger o sistema”, explicou o ministro. “Exatamente às 14h49 nós tivemos 100% do sistema restabelecido”.

Silveira afirmou que o ONS deve apontar, em até 48 horas contadas desde ontem, a localização do segundo evento que comprometeu o funcionamento do sistema. No entanto, ele disse que, pela sua característica “técnica”, o ONS não é capaz de identificar se os eventos “foram eminentemente técnicos ou se houve também falha humana ou até dolo”. Daí a necessidade de abrir um inquérito policial para investigar as causas do apagão.

Nesta quarta-feira (16), o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, atribui o apagão a falha técnica e salientou que o episódio de agora não se assemelha a anteriores, pois o Brasil tem sobra de energia. “Os reservatórios estão todos cheios, nós temos parque eólico e solar gerando muita energia, então não há razão, nem de oferta, nem de demanda, para ter tido esse colapso. Foi erro erro técnico, falha técnica. Precisa identificar o que foi que aconteceu”, disse.

Ainda ontem, a primeira-dama, Janja Lula da Silva, postou na rede social Twitter que a Eletrobras foi privatizada no ano passada. Silveira comentou o post dela dizendo que o setor elétrico é estratégico para a segurança do país – inclusive energética e alimentar –, e que, portanto, não deveria ser privatizado.

“A minha posição é de que a privatização da Eletrobras fez muito mal. Em especial no modelo em que ocorreu, ela fez, sim, mal ao sistema. A Eletrobras era o braço operacional do sistema elétrico brasileiro, empresa responsável por mais de 40% da transmissão nacional e mais de 36% da geração do país”, disse.

Para Eduardo Moreira, privatização da Eletrobras pode estar entre as causas do apagão

apagão

O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, lembrou na edição desta quarta-feira (16) do ICL Notícias, live diária transmitida via redes sociais, que o programa foi o primeiro a dar a notícia do apagão, ao perceber queda na audiência. “Começamos a perguntar às pessoas o que estava acontecendo, e várias delas relataram queda de energia em suas cidades”, disse.

Foi então que o apresentador William de Lucca postou a informação em seu perfil oficial no Twitter, relatando que tudo levava a crer que havia ocorrido um apagão em vários estados, informação que foi replicada em vários sites de notícias.

Na opinião de Moreira, é grande a chance de que o apagão de ontem tenha relação com o que está acontecendo com a Eletrobras. “A chance da Eletrobras estar envolvida é grande. Estava escrito que iria acontecer. Pode ter sido ato terrorista, foi na rede de transmissão da Eletrobras e, por isso, não pode estar descartado”, disse, emendando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está certo quando menciona a reversão da privatização da empresa.

De junho do ano passado, quando foi privatizada, até junho deste ano, as ações da empresa registraram queda de 8,5% na bolsa brasileira, contrariando os prognósticos otimistas de quando a privatização foi anunciada.

Segundo Eduardo Moreira, o controle da Eletrobras foi comprado pela 3G, dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, donos da Americanas, empresa envolvida em um grande escândalo contábil.

Depois da privatização, a Eletrobras passou uma troca de comando, que foi alvo de reclamação de Alexandre Silveira, que disse ter ficado sabendo via imprensa.

Ivan de Souza Monteiro, que era o presidente do conselho de administração, foi eleito ontem pelos conselheiros para assumir o cargo, após Wilson Ferreira pedir demissão.

O ministro de Minas e Energia ressaltou que o governo ainda detém 43% das ações da Eletrobras, e que não queria ser “consultado”, mas que pelo menos fosse colocado “a par” das mudanças.

“Essa mudança abrupta, sem uma sinergia com a política pública, sem uma sinergia com as nossas (empresas) vinculadas, reafirma o que eu tenho dito: a privatização tirou a possibilidade de termos um sistema mais harmônico. É uma posição que já externei diversas vezes. E essa mudança, da forma que ela foi feita, reafirma que a privatização fez mal sim ao Brasil”.

Redação ICL Economia
Com informações da Rede Brasil Atual e do ICL Notícias

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.