O noticiário econômico está dominado pela opinião da Faria Lima. Pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), feita parceria com o Ibpad (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados), mostra que os chamados influenciadores de finanças totalizam 515 no país, mas o alcance deles aumentou 6%, para 176,3 milhões de seguidores.
O problema é que boa parte do conteúdo difundido por esses finfluencers (influenciadores de finanças) traz a visão do mercado financeiro, uma vez que alguns são patrocinados por bancos e/ou corretoras.
A pesquisa mostrou que, entre os atuais 515 influenciadores de finanças, 249 têm algum tipo de relação com participantes do mercado, como corretoras, gestoras e bancos. Entre as instituições que mais têm influencers está a XP, com 16 parcerias, seguida pelo Banco Sofisa e pelo BTG Pactual, ambos com dez. Esses dois tinham, respectivamente, seis e sete parcerias no levantamento de 2022.
Em relação à pesquisa, vale salientar que o número de seguidores não equivale a pessoas, mas sim à soma de seguidores em todos os perfis de cada influenciador. Para o levantamento, foram considerados Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e YouTube.
Esta é a quinta edição da pesquisa. O número atual de seguidores representa um salto de 140% em comparação com a primeira, que abordou o período entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, no qual havia apenas 266 influencers e 74 milhões de seguidores.
De acordo com reportagem publicada na Folha de S.Paulo sobre a pesquisa, o crescimento no número de seguidores ocorreu durante a pandemia de Covid-19, em que a taxa básica de juros (Selic) saiu de um patamar de dois dígitos para a mínima histórica de 2% ao ano, levando o investidor a buscar alternativas além da renda fixa tradicional, em busca de mais retorno. E os influenciadores estavam a postos para “ajudar”.
Ainda segundo a pesquisa, em 2023, o volume de publicações teve alta de 13%, somando 313,9 mil vídeos e postagens. O tema mais abordado foi o mercado de ações, presente em 48,9% das publicações. Em seguida, a economia brasileira (10,5%) e as criptomoedas (9,4%).
Interações médias (compartilhamentos, comentários e curtidas) subiram 10% no período analisado, para 1.637. O conteúdo que mais engajou foi sobre commodities, com 2.906 interações em média. O segundo mais popular foram as operações de day trade (compra e venda de ativos no mesmo pregão), com 2.520 interações na média. Em terceiro lugar, ficou o mercado de ações, com 2.032.
Produtos específicos de investimento — como o CDB do banco A ou ação de empresa X — foram citados 96,8 mil vezes, um crescimento de 25% sobre 2022; 93% dessas menções eram sobre ativos de renda variável.
Para economistas do ICL, noticiário econômico nunca foi independente da Faria Lima
Os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) Deborah Magagna e André Campedelli reforçam que a imprensa de economia sempre se pautou pelo que diz e pensa o povo da Faria Lima.
“Normalmente, [a imprensa] ouve especialistas de faculdades ortodoxas, como o Insper e a FGV (Fundação Getulio Vargas). Nunca se vê muita gente heterodoxa falando – ou são de corretoras financeiras, consultorias ou aquelas ligadas a bancos(…) Não existem visões diferentes”, disse André na edição do último dia 26 do ICL Mercado e Investimentos, live diária transmitida via redes sociais.
Segundo ele, agora essas instituições estão “encurtando o caminho” para dominar a grande mídia. “Eles estão comprando espaços para colocarem somente a visão deles. Há portais financeiros que são de bancos e corretoras”, salientou.
Deborah reforçou que a independência que se vê no ICL praticamente não existe na grande imprensa. “Quando a gente olha o jornalismo de uma forma geral aqui no Brasil, vemos que ele está sob controle da Faria Lima, que se aproveita desse conteúdo para vender o ativo X ou Y. Esses conteúdos normalmente são, de forma velada, uma publicidade daquela corretora e/ou banco para induzir as pessoas a entrarem em determinados produtos financeiros”, alertou.
A economista também comentou reportagem da revista Piauí, que trata do tema. A publicação lembra de uma pesquisa exclusiva Exame/Ideia, a qual mostra que “os brasileiros desejam menos impostos e mais programas sociais. Um Estado generoso aliviou as dificuldades da pandemia, mas escancarou a fragilidade do projeto liberal. As incoerências são latentes – a dificuldade de reconstrução, também”.
Segundo a reportagem, a Exame acabou não publicando a pesquisa desse modo porque a publicação pertence ao banco BTG. Rodrigo Goes, diretor da instituição, não gostou das frases “Estado generoso”, em “fragilidade do projeto liberal” e “incoerências latentes”, as quais podiam “dar merda com o governo” do então ex-presidente Jair Bolsonaro, e mandou a redação mudar o título. Os 50 mil exemplares que já estavam impressos foram para o lixo e uma nova capa foi feita.
A reportagem ainda mostra que seis dos maiores títulos com presença na internet pertencem a algum banco ou corretora. A começar pelo campeão de audiência digital (com média de 33,9 milhões de visitas mensais), o InfoMoney, da XP Investimentos, uma das maiores corretoras de valores do país, que conta com uma participação minoritária do Itaú Unibanco, o maior banco privado brasileiro.
Anbima estabelece regras para explicitar quando conteúdo se trata de publi
A estreita relação entre influenciadores e mercado fez com que a Anbima definisse regras para finfluencers deixarem claro quando se trata de posts de publicidade. As regras entram em vigor em 13 de novembro e se estendem para todos os associados da entidade.
“Será considerada válida a menção verbal ou escrita na própria publicidade ou, ainda, a adição de hashtags mencionando minimamente que se trata de publicidade e vinculando ao distribuidor (#parceria e #nomedainstituição)”, diz o manual da Anbima.
A segunda grande mudança é a responsabilização das instituições contratantes pelos influencers e o conteúdo veiculado. Isso inclui a “veracidade das informações divulgadas e sua completude, de modo a não levar o investidor a erro” e a garantia de que os “contratados possuam, caso aplicável, as devidas certificações necessárias” para abordar o conteúdo em questão.
Sem a devida certificação exigida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), não é possível fazer recomendações de investimentos, apenas fornecer explicações didáticas, sem mencionar um ativo em específico.
Para manter a fiscalização, as instituições devem disponibilizar e manter atualizada a relação dos influenciadores contratados enviada à Anbima.
Caso as regras sejam desrespeitadas, a penalidade recairá sobre as empresas. A normativa, porém, não menciona qualquer tipo de punição.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e da Piauí