Com 500 resgatados neste ano, número de vítimas do trabalho escravo supera 58 mil

O diretor do filme “Pureza”, Renato Barbieri, foi um dos convidados do ICL Notícias desta quarta (18). Ele falou sobre a realidade do trabalho escravo no Brasil
18 de maio de 2022

Com um total confirmado de 500 resgatados neste ano, os números do trabalho escravo no Brasil assustam: já somam até agora 58.166 resgates. As operações de resgate passaram a ser sistematizadas em 1995, quando foram criados os grupos móveis de fiscalização, sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho. A primeira dessas ações ocorreu em maio daquele ano, em carvoarias no estado de Mato Grosso.

Até agora, em 2022, foram realizadas 61 operações, com a presença de outros órgãos públicos, como a Polícia Federal, Polícia Rodoviária e Ministério Público. Em 2021, foram 1.726, segundo a Comissão Pastoral da Terra.

Desde o início das operações, a fiscalização foi a 6.177 estabelecimentos. A maioria dos resgatados é do setor rural: 42.253, ou 73% do total. Mas vem crescendo o registro de trabalhadores encontrados em áreas urbanas, como na construção ou mesmo no serviço doméstico. Já são 12.913 casos registrados. Só em 2022, são cinco casos de trabalhadoras domésticas resgatadas (Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).

Entre as unidades da federação, o Pará concentra 13.380 resgates de trabalhadores em situação de escravidão. Em Mato Grosso, mais 6.190. Em Minas Gerais, 8.013. No Maranhão, são 3.544 e na Bahia, 3.469.

273 trabalhadores foram resgatados de usina de cana de açúcar em MG

Neste ano, mais da metade dos resgatados saiu de uma só operação. Em janeiro, foram encontrados 273 trabalhadores em uma usina de cana de açúcar em Mina Gerais. Foi o 16º maior resgate desde 1995. O estado tem 368 resgatados em 2022, ante 29 em Goiás, 22 em Mato Grosso, 18 no Rio Grande do Sul e 17 na Bahia.

Das atividades econômicas, a fiscalização resgatou 299 trabalhadores no cultivo de cana de açúcar. Depois vêm produção de carvão vegetal (54), cultivo de alho (25) e criação de bovinos para corte (23).

Maioria dos trabalhadores são homens, do Nordeste e com baixa escolaridade

Já os dados do seguro-desemprego mostram que 95% dos trabalhadores são homens e 31% têm de 30 a 39 anos. Praticamente metade (49%) mora na região Nordeste. Entre eles, 23% declararam ter até o quinto ano incompleto e 17% cursaram do sexto ao nono ano, enquanto 6% eram analfabetos.

O Sinait, sindicato nacional dos auditores-fiscais do Trabalho, destaca – além das operações – iniciativas legais de combate à prática. Caso da chamada “lista suja”, divulgada regularmente, com nomes de empregadores envolvidos na exploração da mão de obra. Ou da Emenda Constitucional 81, aprovada depois de 15 anos de tramitação da proposta, conhecida como “PEC do trabalho escravo”. Há ainda iniciativas como a concessão de seguro-desemprego aos resgatados e o oferecimento de cursos aos trabalhadores, como o Projeto Ação Integrada, implementado em Mato Grosso, estado com forte ocorrência da prática. Mas a entidade acrescenta que há necessidade de concurso público porque há déficit de pessoal tanto entre os auditores como na área administrativa.

Filme-denúncia “Pureza” trata de caso real de trabalho escravo

O filme “Pureza”, que estreia amanhã (19), é baseado na história real de Pureza Lopes Loyola. Na trama, Pureza (Dira Paes) é uma mãe solo que mora com seu filho, Abel (Matheus Abreu), em uma pobre região do Maranhão. Descontente com a vida que levam, o jovem resolve deixar o local para buscar emprego em um conhecido garimpo, com a promessa de dar uma vida melhor para a matriarca.

Após meses sem notícias do filho, Pureza resolve sair em busca do rapaz. Durante a jornada, ela encontra uma fazenda que emprega um sistema de aliciamento e cárcere de trabalhadores rurais, a famosa escravidão moderna. Ainda à procura do filho, ela passa a trabalhar neste lugar, testemunhando o tratamento brutal sofrido pelos empregados, além do desmatamento ilegal de florestas.

Lutando contra um sistema perverso e poderoso, esta batalhadora mulher enfrentará a tudo e todos que ficarem à sua frente, sempre com uma fé religiosa inabalável e a esperança de encontrar o filho.

Diretor fala sobre filme no ICL Notícias

O diretor do filme “Pureza”, Renato Barbieri, foi um dos convidados do ICL Notícias desta quarta (18). Ele falou sobre a realidade do trabalho escravo no Brasil.

“É uma escravidão que tem cor. 90% dos libertos são negros. Faz parte de um pacote de uma mentalidade escravagista, racista e colonial. Quando o Brasil se libertou de Portugal, passamos a ser colônia de nós mesmos. E assim somos até hoje. Quem conhece o Brasil profundo sabe disso. Já faz 134 anos de uma abolição incompleta e tardia”, afirmou Barbieri.

Redação ICL Economia

Com informações da Rede Brasil Atual

 

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