Alguns países-membros da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais aliados) concordaram ontem (30) em promover cortes adicionais voluntários na produção de petróleo, que somarão, juntos, 2,2 milhões de barris por dia (bpd) a menos no mercado, a partir de janeiro de 2024. O volume corresponde a cerca de 2% do fornecimento mundial.
A Arábia Saudita confirmou o prolongamento da sua redução de 1 milhão bpd na produção, até o fim do primeiro trimestre de 2024. Já a Rússia, que é membro aliado do grupo, vai ampliar o seu corte voluntário de oferta de petróleo em 200 mil barris por dia (bpd), a 500 mil bpd. Também restringiram suas produções Iraque (223 mil bpd), Emirados Árabes Unidos (163 mil), Kuwait (135 mil), Casaquistão (82 mil), Argélia (51 mil bpd) e Omã (42 mil).
A decisão trouxe incertezas ao mercado de que tensões estão surgindo na coalizão mais de um ano após o início da redução da produção, sob justificativa de manter a estabilidade do mercado, mas com efeitos limitados até agora nos preços.
Em comunicado conjunto, a coalizão disse que a decisão corresponde ao compromisso com “a estabilidade e o equilíbrio” do mercado da commodity.
A nota também revisou para baixo as metas de produção para 2024 de Angola e Nigéria, e elevou a do Congo. As cotas desses três países estavam sob análise de três agências independentes desde a reunião de junho.
Angola e Nigéria se opuseram às tentativas de limitar sua produção em um momento em que tentam impulsionar seus os setores de petróleo após anos de subinvestimento e má gestão.
Após a divulgação da decisão, os preços da commodity caíram. Os futuros do petróleo Brent fechou em queda de 0,32% ontem, a US$ 82,83 por barril, acumulando um recuo mensal de 5,2%.
Por sua vez, o petróleo WTI para janeiro fechou em queda de 2,44% (US$ 1,90), a US$ 75,96 o barril. O Brent para fevereiro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), caiu 2,43% (US$ 2,02), a US$ 80,86 o barril. Em comparação com o último fechamento de outubro, o contrato mais líquido do WTI caiu 6,66% e o Brent desvalorizou 5,14%.
Mercado começa a perder a confiança na Opep+, dizem operadores
Em 2020, a Opep cortou a produção em mais de 9 milhões de barris por dia em resposta à pandemia de Covid-19. À medida que os países entraram em confinamento, o preço do petróleo bruto caiu devido à falta de compradores.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços subiram para mais de US$ 130 o barril, mas em março deste ano, caíram para o menor nível em 15 meses, para pouco mais de US$ 70 por barril.
Segundo reportagem do Financial Times republicada na Folha de S.Paulo, operadores disseram que o mercado está perdendo confiança na capacidade da Opep+ de continuar fortalecendo um preço abalado pelas expectativas de crescimento relativamente fraco da demanda no próximo ano e pelo aumento do fornecimento alternativo.
“O mercado vai testar a Opep+ e se US$ 80 por barril realmente é um limite que eles podem defender”, disse Raad Alkadiri, da Eurasia Group. “Os cortes sendo anunciados como ‘voluntários’ minam um pouco o impacto psicológico para o mercado, mas se o corte total for realizado, seu impacto no mercado não deve ser desconsiderado.”
Segundo a reportagem, o cartel de petróleo está tentando fortalecer os preços que caíram nos últimos meses, enquanto as tensões no Oriente Médio estão sendo intensificadas pela guerra entre Israel e Hamas.
A Arábia Saudita precisa de um preço do petróleo mais próximo de US$ 100 por barril para financiar o ambicioso programa de reforma econômica do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, mas tem enfrentado resistência dos Estados Unidos, que estão mais preocupados os efeitos dos preços da commodity na inflação.
Comunicado também fala de adesão do Brasil ao grupo
O comunicado disse ainda que o Brasil vai aderir ao compromisso de cooperação da Opep+. Entretanto, o ministro de Minas e Energia brasileiro, Alexandre Silveira de Oliveira, disse que uma equipe técnica brasileira ainda analisará o convite antes da oficialização da entrada no grupo.
Ao InfoMoney, o analista Bruno Cordeiro, da StoneX, destacou que, se o Brasil aderir à Opep+, o país figuraria como um dos maiores produtores de petróleo do grupo, atrás de Arábia Saudita, Rússia e Iraque, e competindo com Irã.
“Inicialmente, as fontes do mercado consideram que o Brasil provavelmente não entraria como um dos países com cota produtiva. Isso seria um fator importante porque permitiria que o Brasil continuasse a sua política de expansão produtiva”, comentou Cordeiro.
No entanto, o convite vem em um momento em que o Brasil busca protagonismo nas discussões das mudanças climáticas, principalmente na COP28, que está acontecendo em Dubai, nos Emirados Árabes.
Para especialistas em meio ambiente, se aceitar o convite, o Brasil vai endereçar um sinal controverso ao mundo.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do InfoMoney