A valorização do real frente ao dólar acumula uma variação de 15% desde o primeiro dia de 2022 (câmbio em 28/3), revertendo expectativas de desvalorização após o anúncio da elevação da taxa básica de juros dos Estados Unidos.
Para os economistas André Campedelli e Deborah Magagna, do Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre, os motivos dessa valorização da moeda nacional foram tanto internos quanto externos. Externamente, pode ser o conflito entre Rússia e Ucrânia, que fizeram com que boa parte do capital destinado aos países europeus ou envolvidos no conflito acabasse entrando na economia brasileira e refletindo em fatores internos.
A alta taxa básica de juros nominal brasileira atualmente em 11,75% ao ano, que fica atrás apenas da Turquia – 17,13% – é o grande atrativo para a entrada de divisas estrangeiras. Com isso, o Brasil passa a ser um local de ganhos garantidos nas chamadas operações de Carry Trade, em que o especulador se financia a uma taxa de juros mais baixa e coloca seu capital em um país com taxa de juros mais elevada para ganhar no curto prazo com o diferencial de juros dos dois países.
Os economistas do ICL afirmam que a elevação da Selic é um dos maiores fatores para explicar a redução do câmbio registrada nos últimos dias, sendo possível notar que, desde o começo do ano, já havia tendência de queda na taxa de câmbio, que foi acentuada justamente após a última elevação da taxa básica de juros.
Durante o momento em que a Selic se manteve em 9,25% ocorreu um leve movimento de valorização do real, em que o câmbio saiu de R$ 5,36 para R$ 5,28. Após o último aumento, que passou para 12,25%, houve a maior variação cambial, e em poucos dias a taxa passou pra R$ 4,78 – 6,6% em menos de 15 dias.
Campedelli e Magagna analisam que a redução da taxa de câmbio foi mesmo consequência direta da mudança do cenário internacional, oriundo da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Isso tornou os mercados europeus menos atrativos e o Brasil, devido à sua elevada taxa de juros básica, o mercado ideal para o capital especulativo conseguir ganhos substanciais no curto prazo”. No entanto, eles advertem que a situação não é para se comemorar: “mesmo com a possibilidade de algum efeito na redução da inflação dos próximos meses, o que vemos hoje é um país que virou o paraíso do rentismo e a fragilidade desta posição pode criar uma fuga de capitais a qualquer mínima mudança de cenário inesperada”.
Dívidas internacionais pelo canal do comércio
Um ponto menos relevante, segundo Campedelli e Magagna, mas que também contribuiu a valorização cambial e a redução da taxa de câmbio, foi a elevação da entrada de dívidas internacionais pelo canal do comércio. A balança comercial brasileira foi deficitária, porém, desde janeiro foram observados saldos consideráveis da balança comercial.
Redação ICL Economia com informações do Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre